Página inicial > Estórias, contos e fábulas > Faivre (Grimm) – As teorias sobre a "origem" dos contos
Les contes de Grimm
Faivre (Grimm) – As teorias sobre a "origem" dos contos
Mythe et initiaiton
terça-feira 8 de julho de 2025
O conto considerado como forma de arte precisa ou fixa não existe na Alemanha — e dificilmente na Europa — antes do século X. Antes disso, trata-se muito mais de Kraftmärchen, ou conto heroico, mais próximo da gesta heroica (Heldensage). O conto do tipo KHM difundiu-se mais no norte da Alemanha (Holstein, Pomerânia, Mecklemburgo), enquanto a Áustria e a Baviera permaneceram como o local preferido para lendas e canções populares.
A Märchenforschung (o estudo do conto) "é uma ciência verdadeira que tem seu objeto próprio, seus métodos, seus objetivos, seus pesquisadores especializados" (p. 3). Poder-se-ia até falar das ciências, pois objetos, métodos, objetivos, são muito variados, até incompatíveis. O essencial é partir sem ideias muito preconcebidas, nesse domínio tão propício à ilusão, de descobrir um sistema absoluto de explicação. Domínio no qual os iniciantes se mostram cheios de uma segurança que só pode diminuir à medida que sua informação aumenta.
TEORIAS FILIACIONISTAS
— A origem hindu dos contos
Em 1859, a obra Pantschatantra, em dois volumes, abre verdadeiramente a era das interpretações historicizantes. Para seu autor, Theodor Benfey, os contos e especialmente os nossos KHM vêm todos da Índia; resultam de uma deformação de relatos budistas destinados primeiramente a fins pedagógicos. Durante algumas décadas, reteve-se essa teoria — por falta de melhor, parece — até que se descobrisse no antigo Egito e na Antiguidade grega traços de relatos muito próximos dos contos, dos quais se apoderaram os adversários de Benfey, ou seja, os teóricos da poligênese, entre os quais Andrew Lang e Joseph Bédier.
— A busca dos países de origem
Outros pesquisadores propuseram um método para permitir remontar cada KHM ao seu país de origem graças à comparação das diferentes variantes. Foi primeiro e sobretudo o imenso trabalho de Johannes Bolte e de Georg Polivka, autor dessa obra fundamental em cinco volumes (1913 a 1932) intitulada [Notas e comentários aos "Contos para crianças e para a família" dos Irmãos Grimm]. Pode-se duvidar que os KHM tenham sido realmente remontados cada um ao seu país de origem, mas o interesse da empresa reside essencialmente na incomparável riqueza dos materiais apresentados: etnólogos, historiadores, psicólogos, podem se servir à vontade na abundância das variantes.
Para C. W. von Sydow, a origem dos contos maravilhosos é indo-europeia. Em cada região particular manteve-se uma forma particular de um mesmo conto, o ecótipo, o que explica as semelhanças. Von Sydow quis remontar a origens ainda mais distantes, até o megalítico...
— A "forma primordial" segundo a Escola Finlandesa
Ao mesmo tempo que Bolte e Polivka, finlandeses empreenderam um trabalho bastante comparável, menos destinado, porém, a descobrir os países de origem do que a reencontrar a "forma primordial" (Urform) dos contos. Foram precedidos nessa abordagem por autores como Marian Roalfe Cox, que reuniu e analisou 345 variantes de Cinderela (Cinderella, Londres, 1893), e Ernest Böcklen, que procedeu de modo análogo para Branca de Neve em 1910-1915. Fundada por Karl Krohn e Antti Aarne no início deste século, a Escola Finlandesa ensina a buscar a origem de cada conto, os países pelos quais ele passou; registram-se, classificam-se todas as variantes conhecidas desse conto, traçam-se as vias de sua difusão e espera-se assim poder reencontrar a versão verdadeira, autêntica. O [Índice dos tipos de contos] (1910), de Antti Aarne, foi consideravelmente aumentado por seu discípulo Stith Thompson, até hoje. Sob o título [Índice dos motivos de literatura popular], reúne agora, em seis volumes, cerca de quarenta mil "motivos" acompanhados de numerosas notas (Exemplos de capítulos tirados da tabela de matérias: os mortos, os ogros, as provas, recompensas e punições, cativos e fugitivos). Essa busca de uma taxonomia da narração apresenta-se, portanto, menos como uma explicação da origem e da circulação do que como uma definição de categorias.
Pode-se dizer que se trata do Lineu da pesquisa em matéria de contos. Esse instrumento de trabalho é, certamente, indispensável pelas informações que fornece, como pode sê-lo a obra de Bolte e de Polivka. Mas pode-se questionar o fundamento da noção de "forma primordial": não é ela geralmente, quando se crê tê-la reencontrado, apenas uma das múltiplas formas preliminares (Vorformen) transmitidas até nós? Não se define necessariamente por seu conteúdo mais que por sua composição (crítica feita por Propp Propp Vladimir Propp (1895-1970) )? Pela natureza de certos atores mais que por seu papel? Para o psicólogo, não é importante saber se o príncipe-animal, na boca do primeiro contador, foi um urso ou um lobo. E como reconhecer o motivo dominante? Não julga o papel do contador como fator único de formação, em detrimento do aspecto coletivo de onde emerge o conto? Lévi-Strauss chega a dizer que a busca de uma versão autêntica e originária constitui um dos obstáculos maiores ao progresso das pesquisas mitológicas. Enfim, pode parecer perigoso estipular a existência mesma de tal "forma primordial", pois equivale a colocar implicitamente um juízo de valor sobre o que seriam as outras formas, desde então demasiado facilmente consideradas como "degradadas". Não é verdade que um conto seja mais "verdadeiro" em um momento que em outro, nem que um mito grego — o de Édipo, por exemplo — o seja mais em tal época da história grega que em qualquer outra. Pode-se preferir a noção de Zielform ("forma-objetivo") avançada por Max Lüthi, que tem ao menos a vantagem de permanecer aberta, de propor uma dinâmica: o conto "tenderia" naturalmente para uma "forma", raramente atingida mas que corresponderia à sua natureza própria quando contadores retificam por si mesmos um relato que lhes foi transmitido de forma errônea.
Essa Escola dita finlandesa fez, todavia, um trabalho bem útil, mesmo sem falar daquele de A. Aarne e S. Thompson: Kurt Ranke estudou as variantes de Os dois irmãos (1934), Marianne Rumpf as de Chapeuzinho Vermelho (1951), Anna Birgitta Rooth trouxe elementos novos sobre Cinderela (1951).
TEORIAS ANTROPOLÓGICAS
Não hesitamos em colocar sob essa rubrica teorias muito diversas das quais apenas uma foi até agora qualificada de antropológica.
— A interpretação pelo rito
Para os partidários do ritualismo, a maioria dos contos do tipo KHM tem por origem ritos. P. Saintyves é considerado o líder dessa escola desde a publicação de seu estudo em 1923. Segundo ele, o conto Barba-Azul — do qual Fitschers Vogel (n° 46) é uma variante KHM — é fundado sobre um rito de iniciação. Chapeuzinho Vermelho (n° 26) tem por origem um ritual de Maio, pois o capuz de flores "constituía ainda ontem a coroa da rainha de Maio"; a criança, na versão alemã, leva vinho para sua avó, o que nos remete a um mesmo rito, do qual esse conto não recorda apenas os presentes que se faziam, mas também os interditos que se impunham: desde os primeiros dias de maio, os bosques eram assombrados por maus espíritos e bestas temíveis. Chapeuzinho Vermelho simboliza também o ano novo, eis por que não deve ficar no ventre do lobo: o caçador vem libertá-la. Em O gato de botas (que não é um KHM), Saintyves crê reencontrar a entronização dos reis-sacerdotes primitivos. Segundo ele, os principais tipos de contos se reduziriam a três: os contos de origem sazonal; os contos de origem iniciática; os fabliaux ou apólogos (ou seja, "inventados pelos sermoneiros"). V. J. Propp Propp Vladimir Propp (1895-1970) , que todavia propôs a primeira abordagem estruturalista do conto, é também autor de um trabalho muito mais "histórico" no qual se esforça igualmente para encontrar uma origem. Mais documentado que Saintyves, ele também a vê nos ritos, particularmente de iniciação, que aproxima dos ritos funerários. Sergius Golowin percebe em A Bela Adormecida (n° 50), Branca de Neve (n° 53) e outros, o reflexo de ritos iniciáticos (aventuras durante o sono, sabedoria por morte aparente, etc.). Entre esses autores que falam de ritos sazonais, de endogamia e exogamia — unindo-se assim de modo interessante aos trabalhos dos etnólogos —, ou mesmo de iniciação xamânica, citemos ainda E. Meletinsky, W. E. Peuckert, A. Nitschke e Heino Gehrts. Peuckert recorda a respeito de Rapunzel (n° 12) que, durante a puberdade, as mulheres de certas sociedades arcaicas eram encerradas em uma pequena cabana no fundo da floresta, sustentadas apenas por uma velha, o homem não devendo se aproximar. A partir de diversas comparações dessa natureza, Peuckert conclui que o lugar de nascimento dos contos seria o Mediterrâneo oriental, seu universo refletindo uma sociedade de plantadores.
August Nitschke estima poder remontar até a sociedade megalítica a respeito de Fiel João (n° 6), que conservaria os traços da purificação e do sacrifício de criança, e, a respeito de João e Maria (n° 15), até o paleolítico recente. Entre os KHM estudados por Heino Gehrts, Os seis criados (n° 134) lhe dá a ocasião de completar as reflexões históricas de Propp Propp Vladimir Propp (1895-1970) sobre o criado-comilão, remetendo a Thor, Indra, Hércules. H. Gehrts postula que "o mito, segundo uma opinião bem fundada, é uma abstração a partir de rituais muito antigos", de modo que estaríamos aqui em presença de "grandes comedores rituais". A respeito do estranho conto Os sapatos gastos pela dança (n° 133), ele vê na princesa uma sonâmbula em busca de cura espiritual e explica que o rei precisa de um xamã para segui-la em seu sono, partilhar as experiências que ela vive ali e ajudá-la depois a voltar ao estado de vigília. Em uma variante conhecida na Boêmia, o soldado retira um dente da princesa, que lhe restituirá após sua viagem no além: tratar-se-ia de um rito iniciático comparável à circuncisão ou à ablação do dedo mínimo. H. Gehrts não vê, aliás, na iniciação xamânica uma crença "ultrapassada", pois estudou manifestações semelhantes, ligadas a fenômenos parapsicológicos perturbadores, na época de Justinus Kerner, o contemporâneo dos irmãos Grimm. Enfim, esse autor viu recentemente em Os dois irmãos (n° 60) o reflexo de um ritual de juramento fraterno indo-europeu.
— Os mitólogos da natureza
As ciências da natureza, tão desenvolvidas no século XIX no rastro romântico — mas mesmo fora dele, pois uma surpreendente unidade de estilo percorre todo o século —, deviam conduzir os pesquisadores a se interessar pelos mitos como alegorias de fenômenos naturais. Adalbert Kuhn lançou assim os fundamentos de uma mitologia comparada que reconhece o trovão como principal fenômeno natural criador de mitos. Seus colegas e discípulos Max Müller, Angelo de Gubernatis, Sir George Fox, Leo Frobenius, Eduard Stucken, veem nos mitos representações do mecanismo do sistema solar. Esses autores, no início de nosso século, inspiram a Escola vienense de mitologia — vários deles fazem parte dela —, que reporta o conto à mitologia dos povos indo-europeus estudando de perto a organização do tempo entre os arianos: 3 noites de lua negra, 3x9 noites de lua clara, e, sob a influência babilônica, o 9 é substituído pelo 7 enquanto o 3 se mantém. O conto apareceria, portanto, como o reflexo da experiência vivida de grandes fenômenos naturais. Pode-se interpretar assim A Bela Adormecida (n° 50) comparando a cerca de espinhos à aurora, a princesa à noite, o príncipe ao dia. Ou ainda, segundo Philipp Stauff — um desses exegetas —, é preciso ver no rei o sol, na rainha a lua, na Bela Adormecida a terra, na exclusão da décima terceira fada a passagem, entre os antigos germanos, do ano lunar de treze meses ao ano solar de doze meses. Os nomes dos heróis são, portanto, reduzidos a alegorias da natureza. O ponto fraco de tais teorias é que os povos ditos "primitivos" dispõem, como se sabe cada vez melhor, de um poder de abstração bem superior ao que se acreditou por muito tempo. Elas nos parecem, portanto, agora, demasiado limitadas ou restritivas.
— A interpretação antropológica propriamente dita
À primeira vista, a interpretação "religiosa" de Hans Naumann ou de Andrew Lang não estaria distante da precedente, pois trata-se ainda de decifrar ou de sublinhar a importância das representações originárias, "primitivas", da humanidade, nos contos populares. Mas esses autores, que se chama os "antropólogos", merecem mais esse nome que os teóricos precedentes — aqueles que explicam o conto pelo rito ou pelos mitos naturais. Sem negar que os fenômenos naturais possam se refletir nos relatos dos povos, recusam, todavia, admitir que esses fenômenos possam constituir o único núcleo da experiência psicológica e espiritual do primitivo. Afirmam que são bem mais os enfrentamentos aos diversos problemas da vida e da morte que decidem das direções tomadas pelo pensamento, da ação simbólica, da arte e dos relatos. Desde o fim do século passado, Edward B. Tylor e Andrew Lang sublinhavam a importância do elemento religioso nos motivos dos contos, mas marcando bem que as representações religiosas podem surgir fora de toda influência. Andrew Lang é sensível aos vestígios de canibalismo e de magia no conto que geralmente desaparecem nesses relatos ulteriores, mais elaborados, que são o mito heroico e a gesta. A partir daí, Wilhelm Wundt, Lévy-Bruhl e Hans Naumann constroem mais tarde sua própria teoria do conto. Hans Naumann precisou que o pensamento religioso não se manifesta apenas em ritos mas também por esses contos, que ele chamava de "mitos" na medida em que estes constituíam motivos religiosos. Assim, um conto não é necessariamente muito antigo, mas seus motivos podem sê-lo tanto quanto a humanidade mesma. O elemento "primitivo" arcaico não poderia, portanto, geralmente corresponder a uma etapa historicamente situável. Lang, Wundt, Naumann, consideram o conto como a primeira expressão do que Naumann chama "mito", ou seja, como anterior ao mito da mitologia, e à gesta; veem no conto "a primeira forma de relato".
Naumann, que insiste como Propp Propp Vladimir Propp (1895-1970) sobre a importância dos rituais na gênese dos contos, escreve que "tudo é fundado sobre a crença nos mortos e no rito mortuário". Mas trata-se menos para ele de demonstrar anterioridades — de todo modo, ele estima que é o conto que é primeiro —, do que de descobrir no mythos em sentido amplo um conjunto de "motivos" reconhecíveis tanto no conto quanto na gesta. Em toda parte, os elementos constitutivos são os mesmos: são motivos primitivos pertencentes ao reservatório coletivo dos relatos da comunidade primitiva. Assim, escreve Naumann, A Bela Adormecida (n° 50) não deve ser interpretada à maneira da "velha pesquisa romântica" como uma sobrevivência do antigo mito de Brunhilde. Pois o conto, como a gesta (Sage), não são os resíduos infantis do mito e da lenda heroica (Heldensage): ao contrário, sua grande simplicidade permite afirmar que precedem estes.
— A poligênese
Com a poligênese, não se está longe das teorias antropológicas precedentes. Por certos lados, ela aparece como sua consequência: nada de espantoso em ver E. B. Tylor e A. Lang a ela se ligarem. Segundo essa interpretação, os contos se desenvolvem sob certas condições como as mesmas plantas aparecem em lugares diferentes quando certas condições são igualmente preenchidas: assim se explicam as semelhanças entre os contos. Joseph Bédier já notara, em 1893, que a semelhança entre os contos de países muito diferentes ou muito distantes uns dos outros poderia bem resultar das semelhanças que existem entre os homens e entre as situações fundamentais, tão frequentemente as mesmas, às quais a humanidade se encontra em toda parte confrontada. Posição que incitava Bédier a professar um amável ceticismo em relação às pesquisas históricas: "Nunca saberemos nem onde nem quando eles [os contos] nasceram, nem como se propagam. E é indiferente que o saibamos ou não". É o que se chamou o "agnosticismo" de Bédier. Wilhelm Grimm havia expresso uma ideia semelhante falando em 1856 das condições simples e naturais que se apresentam sempre de novo aos homens, e das ideias que elas também reaparecem sem cessar; havia aplicado essas reflexões aos contos. O agnosticismo de Bédier encontrou seu prolongamento no esteticismo de Benedetto Croce, que considera inúteis as pesquisas sobre a origem dos contos pela análise de seu conteúdo; para ele, seu estudo deveria se resumir ao exame dessa "forma irredutível" que Bédier pensava reencontrar em cada uma das versões de um tipo. A teoria poligenética devia se encontrar consideravelmente reforçada, e de modo bastante inesperado, pela psicologia moderna. A psicanálise, sobretudo a psicologia analítica de Carl Gustav Jung Jung Carl Jung (1875-1961) , afirma que relatos complexos e diferenciados — e não apenas motivos isolados — são suscetíveis de surgir espontaneamente, em lugares e épocas muito diferentes, e de se assemelharem até no detalhe.
Jean de Vries, Peuckert e Mircea Eliade reconhecem o interesse da teoria poligenética, ao menos como hipótese. O primeiro recorda que o mito supõe uma fé criadora não ainda abalada, enquanto a gesta pertence à época heroica e que o conto vive em seu mundo próprio. Situa o nascimento dos contos no período intermediário separando uma cultura mítica — ou seja, na qual o mito era profundamente vivido — de uma outra cultura mais "racionalista", processo que se desenrolaria em épocas diferentes segundo os povos. Os contos, com seu aspecto leve e lúdico, poderiam ser o resultado dessa época de transição, o produto dessa fase cultural, e apareceriam essencialmente em meios aristocráticos, aí se manteriam até que essa aristocracia, vendo sua existência posta em perigo, julgasse seus contos demasiado insípidos e os abandonasse; mas estes, graças a seu caráter arquetipal, se abririam facilmente caminho nas camadas mais modestas da população onde seriam transmitidos durante séculos. Mais ainda que os contos de Grimm, os de Perrault trazem uma marca aristocrática. Mas com Paul Delarue pode-se reconhecer que estes, embora expurgados, polidos, postos ao gosto da época, são todavia (com exceção de Riquet à la Houppe) autênticos relatos populares, enquanto os de Mme d’Aulnoy apresentam uma boa parte de invenção — quando não são inventados de toda a peça.
O recorde das posições psicanalíticas em relação à interpretação dos contos poderia logicamente ser apresentado após essa menção da poligênese. Mas a importância dessas posições para o propósito do presente trabalho autoriza a apresentá-las mais tarde. Deixemos os historiadores com suas hipóteses; interrogaremos sobretudo sobre o que a abordagem aqui chamada antropológica, e a hipótese poligenética, evocam de mais perturbador: pois se uma e outra têm razão, uma reflexão sobre o conto não pode evitar a ontologia. Uma noção comum — ao menos no nível do vocabulário — aos historiadores das diversas tendências evocadas, como aos poligeneticistas, poderá servir de fio condutor: a de mito. Antes de a cercar de mais perto em suas relações com o conto, convém distingui-los ambos de seu parente muito próximo: a gesta ou saga; e recordar antes de tudo como se apresenta exteriormente o conto — ou seja, em que consiste sua especificidade literária.


FAIVRE, Antoine. Les contes de Grimm. Mythe et initiation. Paris: Lettres modernes, 1978, p. 7-14.
Neste estudo, sem outras precisões, todas as citações apresentadas em francês de textos estrangeiros não citados a partir de uma versão francesa editada são traduzidas pelo autor do estudo. O mesmo se aplica aos títulos e excertos dos Contos de Grimm. Os números que seguem os títulos dos Contos remetem à numeração proposta pelos próprios irmãos Grimm, tal como ainda pode ser encontrada em todas as edições completas em alemão. A sigla KHM, sempre utilizada pela crítica, é a abreviatura do título da coleção Kinder- und Hausmärchen.