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Les contes de Grimm

Faivre (Grimm) – contos, interpretações freudianas

Mythe et initiation

terça-feira 8 de julho de 2025

Para a psicanálise freudiana, as imagens são primeiramente sintomas. “Dize-me quais são as tuas imagens e direi qual é a tua neurose”: assim poder-se-ia resumir, não sem algum exagero, o estatuto freudiano da imagem. As situações dos heróis de contos representam dilemas psicológicos, frequentemente de tipo edipiano. A origem de cada conto reside no passado individual daquele que o elaborou; este conteúdo se encontra reativado por aqueles que virão em seguida adicionar novos elementos a esta história e expressarão então de forma ainda mais impressionante, ainda que sempre disfarçada, os problemas postos por um inconsciente que funciona de forma bastante semelhante em todos os homens. Vários KHM foram assim submetidos à investigação freudiana: pode-se encontrar sobre este assunto uma abundante bibliografia em uma obra recente de Bruno Bettelheim.

Um dos mais interessantes exegetas freudianos neste domínio, Otto Rank, tentou pouco antes de 1914 aplicar suas grades psicanalíticas aos contos, numerosos nos KHM, onde se trata de dois ou mais irmãos, nomeadamente em Os Dois Irmãos (nº 60). Como suas interpretações, ao contrário das de outros freudianos, mal pecam pelo abuso de sistema ou pela falta de nuances, e como ele se interrogou sobre as relações entre o mito e o conto, mencionar-se-ão aqui essas interpretações a título de exemplo. Rank se declara de acordo com os Grimm nisso de que os contos representariam bem os restos degradados de crenças míticas. Ele explica que aqueles cujos três personagens principais são três irmãos têm por origem um conflito familiar primitivo: a revolta dos filhos contra o pai tirânico e todo-poderoso. Os sentimentos hostis e ciumentos que seus filhos nutriam por ele, por não poderem se expressar abertamente, se reportaram ao mais velho. Este tipo de narrativa aparece, portanto, como um “romance familiar”. Enquanto o “mito heroico” traduz a oposição da jovem geração contra o pai, o conto, mais tardio, adverte, ao contrário, contra essa revolta. O filho mais jovem aparece como simplório ou mais gentil que os outros, não mata seu pai mas lhe dá uma satisfação que deve ser interpretada como compensatória. A concorrência entre irmãos, da qual o conto traz um reflexo travestido, corresponde à passagem de uma ordem social de tipo fortemente patriarcal para uma época muito mais socializada da organização familiar, onde o filho mais velho apenas usurpou o papel do pai e onde os irmãos se combatem. O mito seria, portanto, patriarcal e amoral, o conto social e ético, daí a importância, neste, da recompensa e da punição, mas também do sentimento de culpa ligado ao próprio sucesso (cf. Os Dois Irmãos, nº 60), daí, enfim, a maior importância dos elementos materiais (ricos e pobres, reis e camponeses). No mito, um oráculo obriga o rei-pai a se livrar de seu filho expondo-o; no conto, é, ao contrário, a pobreza que constrange o camponês a tomar essa decisão (João e Maria, nº 15, e muitos outros KHM).

A obra de Otto Rank foi escrita no início da história da psicanálise. Pelo sucesso de que acaba de ser objeto, a obra de Bruno Bettelheim testemunha o interesse que a psicanálise e as reflexões sobre o conto ainda suscitam. Pode-se perguntar se seu título francês (Psychanalyse des contes de fées) é realmente fiel ao conteúdo; o título original (The Uses of Enchantment) parece sê-lo mais. É por comodidade que se pode falar de freudismo a propósito deste trabalho cujo autor não hesita, a propósito de Cinderela, em criticar sem rodeios a valorização exclusiva da inveja do pênis, nos primeiros tempos da psicanálise, “sem dúvida porque os tratados eram escritos por homens que não queriam examinar sua própria inveja de atributos femininos”. Nenhuma dogmática, nesta exposição cujo início afirma claramente que cada conto possui múltiplas significações em um grande número de níveis diferentes, de modo que sempre é possível descobrir, além das interpretações propostas pelo próprio Bettelheim, uma infinidade de outras interpretações pertinentes: “os contos, como todas as obras de arte, possuem uma riqueza e uma profundidade que vão muito além do que pode ser extraído deles pelo exame mais completo”. A maioria dos que ele estuda são KHM. O psicólogo pretende, por sua vez, debruçar-se sobre os problemas que se relacionam com a luta da criança para atingir a maturidade. O conto apresenta a vantagem de advertir contra as consequências que ameaçam aquele que não desenvolve sua personalidade a um alto nível de suas possibilidades; ele fornece muitos exemplos desse tipo, como os irmãos mais velhos das Três Penas (nº 63), as meias-irmãs de Cinderela (nº 21) ou o lobo do Chapeuzinho Vermelho (nº 26), sem aludir às experiências sexuais como tais, o que aparece a Bettelheim mais judicioso psicologicamente que a educação sexual moderna na medida em que esta se dirige unicamente ao consciente. Ensina-se bem hoje o que é o sexo, desdramatiza-se, mas como se ignora de partida que a criança pode achar a sexualidade repulsiva — reação espontânea cuja função protetora tem sua importância —, este ensino não pode conciliar-se verdadeiramente com a adesão da criança. Mas ao compartilhar com esta o desgosto que a rã inspira (cf. O Rei-Sapo, nº 1), o conto torna-se crível e contribui para a aceitação por cada um de sua sexualidade.

Este livro abunda em interpretações sexuais, menos, contudo, para encontrar a origem dos fantasmas que estas histórias teriam contribuído para espalhar por toda parte, do que para descobrir nelas um ensinamento iniciático — no sentido puramente terapêutico e pedagógico do termo — dirigindo-se às crianças por intermédio de seu inconsciente. A mãe de Branca de Neve pica o dedo e três gotas de sangue caem na neve: a brancura — a inocência sexual — contrasta com o sangue vermelho — o desejo sexual. Este conto prepara assim a menina para aceitar o sangramento sexual (a menstruação, e mais tarde a ruptura do hímen). As tentações vindas da rainha são as do sexo. Branca de Neve, vermelha como o sangue e branca como a neve, apresenta-se como um ser ao mesmo tempo assexuado e erótico. Quando a Bela Adormecida quer acceder ao quartinho fatal, precisa subir uma escada em caracol, que representa de forma característica as experiências sexuais; o pequeno quarto trancado à chave, no qual ela chega em seguida, lembra os órgãos femininos, e a chave girando na fechadura, o coito. Os pretendentes muito apressados que perecem nos espinhos evocam o despertar amoroso que ocorre infortunadamente antes que o corpo e a mente estejam prontos. A casa de pão de mel comida por João e Maria simboliza para o inconsciente a mãe boa que dá seu corpo como alimento. A bola de ouro que precede a aparição do rei-sapo corresponde a uma psique narcísica, ainda não desenvolvida, rica de todas as suas possibilidades; este conto se dirige ao inconsciente da criança para ajudá-la a aceitar a forma de sexualidade que convém à sua idade. A rã evoca também os órgãos genitais, e se eles podem parecer primeiramente repulsivos, não se tornam menos belos uma vez que se descobriu a maneira conveniente de usá-los.

O propósito de Bettelheim, essencialmente pedagógico, o incita a denunciar a raridade das famílias nas quais ainda hoje se contam contos tradicionais às crianças, e o número crescente de falsificações — os contos de Perrault tendo infelizmente mostrado o caminho — que desfiguram essas histórias a ponto de fazê-las perder uma de suas funções essenciais: o ensinamento pelo inconsciente. Ele deplora que se ilustrem coletâneas de contos e lamenta que, ao dar a cada um dos sete anões de Branca de Neve um nome e uma personalidade distintos, enquanto no conto eles são idênticos, o filme de Walt Disney e a literatura que ele inspirou dificultem a compreensão inconsciente do que os anões simbolizam: uma forma imatura e pré-individual que a heroína precisa precisamente transcender. Todas as adições inconsideradas que podem destruir o impacto do conto. Enfim, é preciso contar essas histórias com a intenção de enriquecer a experiência da criança, sob pena de transformá-las em relatos moralizadores dirigindo-se apenas ao consciente, enquanto a grande vantagem dessa literatura oral é penetrar diretamente o inconsciente.

O autor dedica uma parte importante de seus desenvolvimentos às situações edipianas e dá uma exposição clara e instrutiva do complexo de Édipo — o conto não tocando apenas os problemas edipianos das crianças, mas também os dos pais. A este propósito, Bettelheim distingue também o mito e o conto. No mito, as dificuldades edipianas se traduzem por atos e tudo termina em uma derrota ou uma destruição total. Mas o herói do conto, ele, mostra que as relações infantis virtualmente destrutivas podem ser integradas ao longo dos processos de desenvolvimento. A mensagem do conto seria finalmente que as complicações e dificuldades edipianas podem ser combatidas se abordadas com coragem, e que aqueles que são afetados por esses graves problemas podem ter uma vida muito preferível àqueles que os ignoram. O relato dessas “provas de crescimento” encoraja muito a criança a não se deixar abater pelas dificuldades que encontra ao lutar para se tornar si mesma.


FAIVRE, Antoine. Les contes de Grimm. Mythe et initiation. Paris: Lettres modernes, 1978, p. 7-14.

Neste estudo, sem outras precisões, todas as citações apresentadas em francês de textos estrangeiros não citados a partir de uma versão francesa editada são traduzidas pelo autor do estudo. O mesmo se aplica aos títulos e excertos dos Contos de Grimm. Os números que seguem os títulos dos Contos remetem à numeração proposta pelos próprios irmãos Grimm, tal como ainda pode ser encontrada em todas as edições completas em alemão. A sigla KHM, sempre utilizada pela crítica, é a abreviatura do título da coleção Kinder- und Hausmärchen.