Partir-se-á de uma «experiência», tal como ela se apresenta a uma «consciência». É possível que essas palavras — consciência, experiência — se revelem finalmente impróprias, mas ainda não sabemos disso. Damonos a nós mesmos uma consciência em confronto com um mundo, segundo todo o leque de sua experiência, ou seja, exposta a tudo o que pode encontrar. E isolamos uma experiência que nos propomos a descrever em seu modo de aparição, ou seja, na forma como é vivida pela consciência — sem (…)
Excertos de obras literárias, cênicas e gráficas, além de crítica literária, com foco no imaginal mitográfico, lendário e fantástico.
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Zarader – Blanchot: a paixão da noite (Faux pas)
4 de julho, por Murilo Cardoso de Castro -
Paul Arnold – Trabalhos de Amor Perdidos
4 de julho, por Murilo Cardoso de CastroMuito se especulou sobre a atitude hostil que os poetas oriundos da universidade teriam mostrado em relação a William Shakespeare, o “autodidata” . Isso faz necessariamente parte da atmosfera romântica em que se insiste em manter o retrato de Shakespeare. É difícil contestar que tal ou qual alusão maldosa — como o “shake-scene” de Robert Greene — tenha visado o poeta de Sonho de uma Noite de Verão. Mas devia ser naquela época como nos dias de hoje; a benevolência nunca reinou entre os (…)
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Paul Arnold (Hermès) - Cosmos de Baudelaire (2)
4 de julho, por Murilo Cardoso de Castrotradução
Diante dessa propensão inerente à alma condenada a se aliar ao mundo formal, o poeta das Flores só vê uma atitude possível, um remédio para o Irremediável: o estado de vigília ou de vigilância permanente. É a hiperconsciência que ele cultiva com fervor e da qual o remorso é apenas o aspecto moral.
A “consciência no mal” impede as obras, essencialmente más, como sabemos, de macular o corpo sutil, de afundar ainda mais o espírito na matéria e de afastá-lo assim um pouco mais de (…) -
Paul Arnold – Esoterismo de Shakespeare
4 de julho, por Murilo Cardoso de CastroL’Ésotérisme de Shakespeare, par Paul Arnold. Mercure de France, 1955.
É um fato pouco conhecido, mas facilmente verificável, que o homem, o pensador dos séculos XVI e XVII, preocupava-se principalmente com doutrinas ocultas relacionadas à salvação espiritual. Paralelamente às doutrinas das Igrejas, romana ou reformada, frequentemente até em conjunção com elas, filósofos e teólogos, matemáticos e alquimistas descreviam em uma linguagem muitas vezes alusiva e impenetrável a jornada suposta (…) -
Paul Arnold (Hermès) - Cosmos de Baudelaire (1)
4 de julho, por Murilo Cardoso de Castrotradução
Há meio século, as diversas confissões e filosofias disputam a obra de Charles Baudelaire não menos avidamente que as capelas literárias que se sucederam desde Arthur Rimbaud. Embora o espetáculo de suas inquietações morais e religiosas devesse levar os críticos a uma absoluta sinceridade, a uma impiedosa objetividade, o impulso das ideias e, mais ainda, o fervor religioso e a paixão filosófica os levaram a estender a toda a obra baudelairiana conclusões que por vezes só se (…) -
Patocka – Fausto de Thomas Mann
3 de julho, por Murilo Cardoso de CastroA solução goethiana da questão de Fausto, solução que rejeita a venda da alma imortal como impossível, nos conduz assim a uma outra versão ainda, quase contemporânea, da mesma lenda. Faz apenas vinte e cinco anos que Thomas Mann publicou seu Doutor Fausto, que tentaremos agora confrontar, como terceira figura fundamental, às duas precedentes. Partiremos mais uma vez da situação histórica que ali se reflete.
A situação comporta mais uma vez um “império germânico”, que se apresenta, no (…) -
Patocka – Fausto de Goethe
3 de julho, por Murilo Cardoso de CastroTanto no Volksbuch quanto em Marlowe, em sua primeira versão poética, a história de Fausto permanece ao mesmo tempo uma lenda explicitamente alemã, situada com precisão em um lugar do mundo e um ponto no tempo. A unidade da cristandade não existe mais. Os países das fronteiras ocidentais se libertam abertamente dos laços impostos pela autoridade e pelo poder espiritual. No entanto, mesmo na fragmentação e no caos do período da Reforma, o Sacro Império Romano permanece fundamentalmente (…)
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Patocka – venda da alma imortal? (Fausto)
3 de julho, por Murilo Cardoso de CastroOs mitos não morrem, como acreditavam os racionalistas e seus seguidores. Seria mais correto dizer que simplesmente se transformam, pois há algo mais além do conteúdo contingente do mundo e do conhecimento que possuímos sobre ele. Há o coração do mundo, elevado acima da contingência e da não-contingência no sentido comum desses termos. O coração do mundo não é apenas algo que pode ser objeto de um saber filosófico, mas algo com o qual nos relacionamos com todo o nosso ser, algo que narramos (…)
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Daniel Vouga (Baudelaire) – dandismo e desprezo
3 de julho, por Murilo Cardoso de CastroEntre outros projetos que nunca realizou, Baudelaire menciona várias vezes um artigo sobre "o dandismo literário" (cf. por exemplo Correspondance, III, p. 244); e entre os dândis, inclui Joseph de Maistre. Não especifica sob qual título. Mas basta ter lido o capítulo IX do estudo dedicado a Constantin Guys, "o pintor da vida moderna", para saber que o dandismo nunca consistiu, aos olhos de Baudelaire, em exibir um colete vermelho ou uma bengala com pomo de ouro, e que "o gosto imodesto pelo (…)
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Patocka – O escritor e seu "objeto"
3 de julho, por Murilo Cardoso de CastroO descontentamento da intelligentsia, sua nova consciência de si, suas reivindicações, seu agrupamento e solidariedade aparecem como os primeiros indícios de uma época nova da qual ainda não sabemos se trará uma superação da crise assinalada em quase todos os domínios pela impotência da razão diante do absurdo, cuja persistência a realidade presente traduz. Muitos, vendo nesses fenômenos novos apenas o que lembra a agressividade da desrazão, as paixões cegas, a "plebe" no sentido tradicional (…)
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