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Verdade e Método
Gadamer (VM): horizonte
Tópicos sobre o tema
1. Constituição fundamental do horizonte enquanto linha aparente de demarcação entre a terra e o céu, cuja existência fenomenológica é intrinsecamente vinculada à posição corpórea e à perspectiva singular de um observador situado no espaço. Verdade e Método Introdução
2. Dimensão histórico-conceitual do horizonte como paradigma metodológico que integra a descrição fenomenológica husserliana e a abrangência histórica diltheyana, sob o impulso heideggeriano de uma compenetração de ambos os movimentos filosóficos. Verdade e Método Introdução
3. Perda do horizonte abrangente que unificava arte e natureza na tradição clássica, em contraste com a antinomia moderna entre aparência e realidade , a qual fragmenta a moldura natural e institui a arte como um domínio autônomo e antagônico à realidade prática. Verdade e Método I 1
4. Interpretação do ser a partir do horizonte do tempo em Heidegger, enquanto superação do subjetivismo moderno, que não implica uma radicalização existencialista da finitude, mas abre a experiência do ser ao revelar o tempo como seu fundamento oculto e ultrapassar o horizonte da autocompreensão subjetiva. Verdade e Método I 1
5. Constituição do horizonte temático do jogo e da obra de arte, que se dá independentemente da consciência estética de um sujeito, situando o verdadeiro ser da obra no tornar-se uma experiência transformadora e não num objeto postado frente a uma subjetividade . Verdade e Método I 2
6. Realidade como um horizonte de futuro de possibilidades desejadas e temidas, cuja indefinição gera um excesso de expectativas, em contraste com a realidade plenificada do jogo da arte, que se apresenta como um espetáculo onde o sentido se realiza de modo puro e resgatado. Verdade e Método I 2
7. Crítica à concepção de um "tempo sagrado" para a obra de arte, que, sem uma legitimação teológica, encobre o verdadeiro problema da sua temporalidade, o qual reside não na subtração ao tempo, mas na sua específica modalidade temporal compreendida a partir da finitude. Verdade e Método I 2
8. Intenção ontológica da análise hermenêutica, que, transcendendo a crítica estética, visa alcançar um horizonte comum que abranja conjuntamente a arte e a história . Verdade e Método I 2
9. Colocação do problema hermenêutico por Schleiermacher num horizonte fundamentalmente novo, motivado pela repulsa crítica ao consenso dogmático do Aufklärung e pela exigência de uma teoria universal da compreensão face à individualidade irredutível. Verdade e Método II 1
10. Tensão em Dilthey entre o motivo estético-hermenêutico e o da filosofia da história, movendo-se no horizonte problemático do idealismo alemão, mas assentando-se no solo empírico do novo século, o que aguçou a discrepância entre a tradição clássico-romântica e o pensamento histórico empírico. Verdade e Método II 1
11. Constituição husserliana da consciência do tempo como fundamento de toda problemática de constituição, na qual cada vivência intencional implica um horizonte vazio bifacetado, e a corrente vivencial possui o caráter de uma consciência universal de horizonte. Verdade e Método II 1
12. Conceito fenomenológico de horizonte como elemento que permite a transição da intencionalidade restrita para a continuidade básica do todo , caracterizando-se não como uma fronteira rígida, mas como algo que se desloca e convida à penetração, correspondendo a uma intencionalidade-horizonte igualmente abrangente por parte dos objetos e do mundo . Verdade e Método II 1
13. Mundo da vida husserliano como horizonte do mundo que abarca o universo do objetivável, sendo pressuposto originário de toda experiência e vinculado essencialmente à subjetividade, possuindo seu ser na corrente do ’cada vez em cada caso’ e num movimento de constante relativização da validade. Verdade e Método II 1
14. Paradoxo da reflexão transcendental husserliana, que, ao buscar esclarecer a consciência universal de horizonte "mundo" e a intersubjetividade, vê-se a si mesma como abarcada pelo mundo da vida que pretende constituir, um paradoxo que Husserl considerava aparente e superável através do sentido transcendental da redução fenomenológica. Verdade e Método II 1
15. Tarefa universal da fenomenologia husserliana de constituir toda validade ôntica, a qual incluiria em si a facticidade heideggeriana, podendo reconhecer o ser-no-mundo como um problema da intencionalidade de horizonte da consciência transcendental e demonstrar o sentido da facticidade como um eidos na esfera eidética das generalidades essenciais. Verdade e Método II 1
16. Interpretação heideggeriana do ser a partir do horizonte do tempo como ruptura com todo o subjetivismo da filosofia moderna e com o horizonte de questionamento da metafísica ocidental, onde o tempo se revela não apenas como horizonte do ser, mas como o próprio ser, apontando para o esquecimento essencial do ser que domina o pensamento ocidental. Verdade e Método II 1
17. Ampliação heideggeriana do horizonte de problemas da hermenêutica para além de Dilthey, revelando a estrutura ontológica da compreensão histórica com base na futuridade existencial da pre-sença (Dasein) e superando o estreitamento inadequado operado pela hermenêutica tradicional. Verdade e Método II 1
18. Conceito de horizonte aplicado à consciência pensante para caracterizar a vinculação do pensamento à sua determinidade finita, significando o âmbito de visão que abarca tudo o que é visível a partir de um ponto determinado e cuja posse permite não estar limitado ao próximo, mas ver para além dele, valorizando corretamente o significado das coisas segundo os padrões de próximo e distante. Verdade e Método II 2
19. Exigência hermenêutica de ganhar o horizonte histórico a partir do qual fala a tradição, a fim de compreender o passado em suas verdadeiras medidas e evitar mal -entendidos, uma exigência que, no entanto, se revela problemática quando opera uma suspensão da pretensão de verdade da tradição e se assemelha a um diálogo inautêntico que objetiva o outro sem buscar um entendimento com ele. Verdade e Método II 2
20. Questionamento da descrição do fenômeno hermenêutico como existência de dois horizontes diferentes – o do compreensor e o histórico –, problematizando a ideia de horizontes fechados e a possibilidade de um deslocamento puro para um horizonte histórico alheio, tal como formulado pela objeção de Nietzsche ao historicismo. Verdade e Método II 2
21. Mobilidade essencial do horizonte, que não é uma vinculação absoluta a uma posição, mas algo no qual se trilha o caminho e que faz o caminho com quem se move, sendo o horizonte fechado uma abstração , pois o horizonte do passado, sob a forma da tradição, põe em movimento o horizonte abrangente do presente. Verdade e Método II 2
22. Unicidade do grande horizonte móvel que rodeia a profundidade histórica da autoconsciência, formado pela consciência histórica a partir do passado próprio e estranho, e que determina a vida humana como sua origem e tradição, não consistindo numa transladação a mundos estranhos, mas num horizonte único e abrangente. Verdade e Método II 2
23. Necessidade de se ter sempre um horizonte para poder deslocar-se a uma situação histórica, sendo este deslocamento uma ascensão a uma universalidade superior que rebaixa as particularidades própria e alheia, e não um apartar o olhar de si mesmo , mas um levar a si mesmo até a outra situação. Verdade e Método II 2
24. Processo de fusão de horizontes como a verdadeira realização da compreensão histórica, onde o horizonte do presente está em constante formação através do teste dos preconceitos no encontro com o passado, não existindo horizontes do presente e históricos dados por si mesmos, mas um compreender que é sempre a fusão desses horizontes presumivelmente independentes. Verdade e Método II 2
25. Projeção de um horizonte histórico como fase necessária no comportamento hermenêutico consciente, que destaca o horizonte da tradição para, em seguida, recolhê-lo na unidade do horizonte histórico alcançado, uma mediação que não oculta a tensão entre texto e presente, mas a desenvolve conscientemente. Verdade e Método II 2
26. Fusão horizôntica como tarefa central da hermenêutica e problema da aplicação contido em toda compreensão, onde o projeto do horizonte histórico é uma fase que encontra sua suspensão e recuperação no horizonte compreensivo do presente, caracterizando a realização controlada dessa fusão como a tarefa da consciência histórico-efeitual. Verdade e Método II 2
27. Exigência hermenêutica de uma Aufklärung total e da ruptura dos limites do horizonte histórico como uma ilusão que mal-entende a si própria, pois a história é o aspecto vinculador de nosso destino e a verdadeira força da história reside naquilo que resiste a esse esclarecimento e possui a duração de uma atualidade constante. Verdade e Método II 2
28. Primado da pergunta sobre o enunciado na lógica das ciências do espírito, onde todo enunciado é essencialmente resposta e possui seu horizonte de sentido na situação de pergunta da qual surgiu, exigindo para sua compreensão a reconstrução da pergunta à qual responde. Verdade e Método II 2
29. Compreensão de um texto como compreensão da pergunta que ele coloca, o que implica ganhar o horizonte hermenêutico do perguntar, no qual se determina a orientação de sentido do texto e que contém necessariamente outras respostas possíveis além daquela que foi dada. Verdade e Método II 2
30. Reconstrução da pergunta a que o texto responde como um ato que já se situa dentro do nosso próprio perguntar, pois uma pergunta reconstruída nunca pode estar em seu horizonte originário, já que este se encontra sempre abrangido pelo horizonte que nos abrange a nós, que somos interrogados pela tradição. Verdade e Método II 2
31. Fusão do horizonte do presente com o horizonte do passado como assunto das ciências históricas do espírito, realizando aquilo que já sempre ocorre na existência histórica, onde a simultaneidade não é mera reconstrução, mas entender-se com o passado sobre a validade do que ele tem a dizer. Verdade e Método II 2
32. Linguagem como síntese constante entre o horizonte do passado e o do presente, performando a mediação hermenêutica na qual o transmitido é interpretado no horizonte de conceitos próprios, não através de uma objetivação, mas respeitando o ponto de verdade do outro e conferindo-lhe nova validade numa configuração comum. Verdade e Método II 2
Ver online : Hans-Georg Gadamer
GADAMER, Hans-Georg. Verdade e Método. Flávio Paulo Meurer. Petrópolis: Vozes, 1999.