David Loy – o tempo

O tempo é meramente uma grade neutra para a narrativa, ou sua estrutura dá significado ao que acontece? A estrutura temporal básica da modernidade tem sido o progresso: o quanto estamos melhorando o mundo. O futuro redimirá o passado, que é um peso a ser superado.

Sociedades pré-modernas geralmente idealizavam o passado, estando mais preocupadas com o quão longe caímos ou podemos cair. Quando a estória é cosmologia, o tempo e o que acontece no tempo não são distinguidos. A Idade de Ouro não deve ser construída, mas renovada pela repetição. O futuro não é promessa de novas possibilidades, mas um desafio desconfortável a ser incorporado ao padrão. Para os maias e astecas, o fim dos tempos, que poderia ocorrer sem sacrifícios constantes para manter a divindade solar em seu curso celestial, seria a maior catástrofe possível.

O que os homens acreditam ser verdade é verdade em suas consequências. Alfred North Whitehead

A expectativa do retorno iminente de Cristo transformou a forma como os primeiros cristãos viviam. Dinheiro, fama, poder – o que isso importa à luz do apocalipse que está prestes a mudar tudo? Não há motivação para se proteger em um mundo prestes a acabar.

A segunda vinda de Cristo foi antecipada com ainda mais entusiasmo quando a Bíblia impressa ficou disponível na língua vernácula, revelando a todos o nosso desfecho coletivo no Livro final do Apocalipse. Nenhuma outra estória fez mais para criar o mundo moderno.

A Reforma não teria acontecido se pessoas comuns não tivessem se convencido de que eram atores em um drama cósmico planejado por Deus: que na Bíblia ele lhes havia deixado um registro de Seus planos e direções sobre como executá-los... Elas mudaram a forma como seu mundo funcionava porque estavam convencidas de que este mundo visível era a parte menos importante do plano divino. Diarmaid MacCulloch

O milenarismo é uma estória sobre a tensão entre nosso mundo caído e sua fonte sagrada, que em breve será resolvida, quando o transcendente interceder para redimir este mundo. A preocupação moderna com o progresso exigiu apenas uma ligeira modificação: a Idade de Ouro não estaria fora da estória, mas dentro dela. Isso foi fornecido por Joaquim de Fiore (1135-1202), cuja interpretação do Apocalipse se tornou “o sistema profético mais influente conhecido na Europa até o Marxismo” (David Noble). A Era do Espírito, que Joaquim esperava que ocorresse em breve, seria um paraíso terrestre.

Nos tempos modernos, essa noção de avanço ao longo de uma linha do tempo ainda prevalece, exceto que a tecnologia substituiu a religião como a força que impulsiona os eventos a sucederem-se; no entanto, a doutrina permanece teleológica. Damian Thompson