Muitas das histórias a seguir foram me contadas aqui e ali. A maioria eu encontrei em livros (mais de duas mil). Tentei relatá-las de forma simples, com o mínimo de literatura, esforçando-me para me apagar, como é de costume, para colocar a narrativa à frente do contador de histórias. Qualquer transcrição desse tipo de conto é necessariamente falha. Não é feito para ser lido. Espero que a simplicidade da minha entrega permita a outros contadores — oralmente — bordados, divagações, um jogo, (…)
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Matérias
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Jean-Claude Carrière – Estórias, como organizá-las
2 de julho, por Murilo Cardoso de Castro -
David Loy – O Poder da Estória, a Estória do Poder
3 de julho, por Murilo Cardoso de CastroNão é o homem que é impotente na luta contra o mal, mas o poder do mal que é impotente na luta contra o homem... A estória humana não é a batalha do bem lutando para vencer o mal. É uma batalha travada por um grande mal para esmagar um pequeno núcleo de bondade humana. Mas se o que é humano nos seres humanos não foi destruído nem mesmo agora, então o mal nunca vencerá. Vasily Grossman
Mesmo que estejamos presentes em algum evento histórico, só o compreendemos – só podemos sequer lembrá-lo (…) -
Jean-Claude Carrière – Estórias, origens
2 de julho, por Murilo Cardoso de CastroDe onde elas vêm?
Alguns povos amaram as histórias com uma espécie de paixão, depositando nelas a maior parte de suas verdadeiras preocupações e, consequentemente, de seu saber-viver.
Em primeiro lugar, neste livro, figuram as histórias do budismo zen ou da tradição sufi, pois nesses dois casos a história foi considerada a própria ferramenta do conhecimento. Evidentemente, aqui, as histórias, especialmente concebidas e contadas, visam a um ensinamento em vários níveis. Para tanto, elas (…) -
Tieck – Os Elfos
6 de julho, por Murilo Cardoso de Castro—Onde está nossa pequena Maria?
—Está brincando no campo com o filho do nosso vizinho — respondeu a mulher.
—Não vão se perder — disse o pai, preocupado —, são tão atrapalhados.
A mãe deu uma olhada nas crianças e levou o lanche delas para a mesa.
—Que calor! — disse o menino, enquanto a menina se jogava sobre as cerejas vermelhas.
—Cuidado, crianças — disse a mãe —, não vão muito longe de casa nem entrem na floresta; seu pai e eu vamos para o campo.
O jovem André respondeu: (…) -
Hermann Hesse – Ludwig Tieck
6 de julho, por Murilo Cardoso de CastroSe eu fosse astrólogo, a primeira coisa que faria para poder dizer algo sobre um escritor seria estudar seu horóscopo. E apostaria que o horóscopo de Ludwig Tieck é um desses vacilantes, duvidosos, imprecisos e que se neutralizam em si mesmos, um desses em que qualquer constelação boa corresponde a outra má, em que cada linha marcada está cruzada e corrigida por outra. Existem horóscopos assim e, deixando a astrologia de lado, existem também muitos caracteres e destinos assim, que parecem (…)
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Jean-Claude Carrière – Estórias, contador
2 de julho, por Murilo Cardoso de CastroA única ambição do contador de histórias é parecer necessário. Como um camponês ou um padeiro. Nem mais, nem menos. Pois as histórias que ele conta revelam certos aspectos do espírito que não são perceptíveis de outra forma. Civilizações muito poderosas o colocaram no centro dos cruzamentos, às vezes no centro do próprio palácio, e sua santa padroeira é obviamente uma mulher, a ilustre Sherazade, que jogava uma cabeça em cada relato, que encantava cuidadosamente a noite e se calava, (…)
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David Loy – o tempo
3 de julho, por Murilo Cardoso de CastroO tempo é meramente uma grade neutra para a narrativa, ou sua estrutura dá significado ao que acontece? A estrutura temporal básica da modernidade tem sido o progresso: o quanto estamos melhorando o mundo. O futuro redimirá o passado, que é um peso a ser superado.
Sociedades pré-modernas geralmente idealizavam o passado, estando mais preocupadas com o quão longe caímos ou podemos cair. Quando a estória é cosmologia, o tempo e o que acontece no tempo não são distinguidos. A Idade de Ouro (…) -
David Loy – Sou feito de estórias?
3 de julho, por Murilo Cardoso de CastroSem estórias não há eu. Ao abandonar todas as estórias durante a meditação samadhi, torno-me nada. O que se pode dizer sobre este nada? Neti, neti—"não isto, não isto." Dizer algo sobre isso dá-lhe um papel em uma estória, mesmo que seja apenas um marcador de lugar como um zero.
Amamos estórias de salvação, por exemplo, a abjeção e redenção de alcoólicos. “Eu estava perdido, mas agora me encontrei.” Quando sou salvo ou nasço de novo ou sou despertado, o que permanece o mesmo? Como eu (…) -
David Loy – o progresso
3 de julho, por Murilo Cardoso de CastroA crença moderna no progresso é uma versão secularizada do apocaliptismo cristão.
Pro-gresso é “caminhar para a frente”... para onde? Pode haver progresso se não soubermos nosso destino?
O progresso pode ter sido bom uma vez, mas já durou demais. Ogden Nash
O crescimento da liberdade é a estória central da estória, segundo Lord Acton, porque representa o plano de Deus para a humanidade. Rastreamos as origens da civilização ocidental até a libertação grega da razão (filosofia) do mito, (…) -
Jean-Claude Carrière – Estórias
2 de julho, por Murilo Cardoso de CastroComo as minhocas que, diz-se, fecundam a terra que atravessam cegamente, as histórias passaram de boca em boca e dizem, há muito, o que nada mais pode dizer. Algumas giram e se enrolam dentro de um mesmo povo. Outras, como que feitas de uma matéria sutil, furam as paredes invisíveis que nos separam, ignoram o tempo e o espaço e simplesmente se perpetuam. Assim, esta conhecida entrada circense, onde alguém procura um objeto perdido em um círculo luminoso, não porque o objeto se perdeu naquele (…)
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Mullah Nassr Eddin
26 de junho, por Murilo Cardoso de CastroSegundo Jean-Louis Maunoury, «Sublimes paroles e idioties de Nasr Eddin Hodja», um texto muito antigo já outorga a Nasr Eddin Hodja o título de «idiota completo». Não se engane: esta qualificação não é uma censura mas um elogio. Ela não significa que Nasr Eddin seja completamente idiota, segundo a expressão usual, mas muito mais que ele é um «idiota realizado». Como outros alcançam à iluminação, ele teria alcançado o estado supremo — sublime — da idiotice.
Mas que espécie de idiotice? (…) -
Gilvan Fogel – estórias (Guimarães Rosa)
5 de julho, por Murilo Cardoso de Castro8. João Guimarães Rosa nos legou Sagarana, algo grande e à maneira de saga, isto é, grande e à maneira de lógos, a forma dizedora, mostradora – o sentido antecipador-instaurador. Este mesmo Rosa, para dizer história, no sentido grande e imediato de dar-se, acontecer, fala, em algum lugar, de acontecências. Grande, que se vem usando acima, não quer dizer de tamanho maior, nada enorme quantitativa e mensuravelmente, nada ‘grandão’ ou agigantado, mas, sim, [30] está apontando para a dimensão do (…)
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Contos de Fadas
26 de junho, por Murilo Cardoso de CastroUma enorme diversidade de relatos ou contos se compuseram ao longo de gerações sucessivas, seja se referindo a episódios vividos ou imaginados, seja narrando sob a forma de mitos diferentes aspectos da profundeza do mundo visível, seja guardando em estórias mensagens de sabedoria para as próximas gerações. Assim também, cada indivíduo compartilhando deste acervo conta sua própria estória de vida, e nela se coloca como personagem principal, desempenhando os ditames que estabeleceu como seu (…)
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David Loy – A Estória da Vida e da Morte
3 de julho, por Murilo Cardoso de CastroA morte é o fim da minha narrativa, ou outra estória?
Estórias são o que a morte pensa que põe fim. Ela não consegue entender que elas acabam nela, mas não acabam com ela. Ursula K. Le Guin
A estória mais antiga, a epopeia suméria de Gilgamesh, é sobre seus esforços para evitar a morte. Lidamos com a morte tecendo-a em estórias que diminuem sua picada, para que ela não represente um fim da vida e do sentido que ofusque toda vida e sentido.
O sentido da vida é que ela para. Kafka
Se a (…) -
Tieck – Não despertes os mortos!
6 de julho, por Murilo Cardoso de Castro"Queres dormir para sempre? Nunca mais despertarás, meu amado, mas repousarás eternamente da tua curta peregrinação na terra? Oh, retorna ainda uma vez! e traz contigo o alvor da esperança que vivifica aquele cuja existência, desde a tua partida, foi obscurecida pelas sombras mais densas. Quê! Muda? Para sempre muda? Teu amigo se lamenta, e não lhe dás atenção? Ele derrama lágrimas amargas e escaldantes, e tu repousas indiferente à sua aflição? Ele está em desespero, e já não abres os braços (…)
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Jean-Claude Carrière – Estórias, inventar
2 de julho, por Murilo Cardoso de CastroEm algum lugar da Índia, um carregador de água levava água de uma fonte para uma aldeia, onde a vendia. Ele carregava sua carga em dois potes, presos a uma barra de madeira em cada lado de seus ombros.
O pote da direita estava intacto e sempre chegava cheio ao vilarejo, mas o pote da esquerda estava rachado e perdia metade da água no caminho.
Isso continuou por vários anos. O homem não tinha dinheiro para comprar outro pote. Um dia, o pote rachado falou e disse ao carregador:
– Tenho (…)