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Tournier (Célébrations) – Prefácio

sábado 28 de junho de 2025

Através de sua aparente disparidade, esses oitenta e cinco textículos têm em comum uma certa visão de mundo. É aquela que Théophile Gautier reivindicava quando declarava: "Sou um homem para quem o mundo exterior existe." Notemos que o autor de Émaux et Camées inaugura uma família de poetas decididamente extrovertidos, primários, solares, espetaculares, que se chamam Leconte de Lisle, Heredia, Mallarmé, Valéry, Saint-John Perse. Aqui o espaço prevalece sobre o tempo. O olho comanda sozinho. Ele conta mais que o coração, e não tem nada a ver com as sutilezas da psicologia e as umidades da vida interior. A beleza dos seres e das coisas, sua bizarrice, seu humor, seu sabor justificam e recompensam uma caça feliz e insaciável. A paixão original foi a curiosidade, pois foi ela que fez colher o fruto do Conhecimento a Adão e Eva. Curiosidade, isto é, apetite de descobrir, de ver, de saber. E também admiração.

Não há nada como a admiração. Exultar porque se sente ultrapassado pela graça de um músico, a elegância de um animal, a grandeza de uma paisagem, ou mesmo o horror grandioso de um inferno, é o que dá sentido à vida. Aquele que não é capaz de admiração é um miserável. Nenhuma amizade é possível com ele, pois só há amizade no compartilhamento de admirações comuns. Nossos limites, nossas insuficiências, nossas pequenezas encontram sua cura na irrupção do sublime diante de nossos olhos. Como disse Ingmar Bergman, a música de Jean-Sébastien Bach nos consola de nossa impiedade. Poder-se-ia acrescentar: nossa futilidade se esvai na leitura da Bíblia, nossa obscenidade se transforma em amor carnal à vista dos corpos da capela Sistina, e os Cadernos de Paul Valéry transformam nossa estupidez em inteligência luminosa.

Este pequeno livro celebra, portanto, a riqueza inesgotável do mundo. A marcha dos quadrúpedes — ambulação ou diagonal? —, o valor fundamental do joelho, os segredos da praia revelados pela maré vazante, as deambulações noturnas dos ouriços, o ódio que as árvores nutrem umas pelas outras, e também esses personagens tutelares, os Reis Magos, o Papai Noel, São Cristóvão, São Luís, e sobretudo esses homens e mulheres devorados pela mídia — Sacha Guitry, lady Diana, Michael Jackson —, e finalmente esses amigos que agora estão do outro lado do rio e que me convidam suavemente a ir encontrá-los, eis do que tratam estas páginas.


TOURNIER, Michel. Célébrations. Paris: Mercure de France, 1999