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L’Invisible
Clément Rosset – Percepção ilusória
Shakespeare - Hamlet
sexta-feira 1º de agosto de 2025
Na Cena XI de Hamlet, Hamlet conversa com sua rainha mãe depois de assassinar Polônio. O espectro do pai de Hamlet entra, a única pessoa que pode vê-lo e ouvi-lo, e fala com ele, para surpresa de sua mãe, que não vê nada do espectro e fica preocupada com essas palavras dirigidas a uma pessoa invisível:
A RAINHA
Por que você olha para o vazio e troca palavras com o ar impalpável? (...) Para quem você diz isso?
HAMLET
Não está vendo nada lá?
A RAINHA
Nada mesmo, e ainda assim vejo tudo aqui.
HAMLET
Você não ouviu nada?
A RAINHA
Não, nada além de nossas próprias palavras.
HAMLET
Veja, ali! Veja como ele se afasta. Meu pai, vestido como quando estava vivo! Veja, aqui ele vem pelo portão.
O Espectro está saindo.
A RAINHA
Tudo isso é inventado por seu cérebro: o delírio tem um dom para essas criações fantásticas3.
A interpretação literal e mais comum aqui é que Hamlet é o único a ver o espectro de seu pai (como Macbeth, o único a ver o espectro de Banquo na multidão em um banquete); a realidade me parece ser que ele mesmo não o vê e que o diagnóstico da rainha está correto. Ele também não o vê das muralhas de Elsinore nas cenas iniciais da peça. O importante não é que ele não veja, mas que pense que vê: outro exemplo de percepção ilusória, que consiste não em não ver o invisível, mas em imaginar que o vemos.


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