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Jan Patocka. L’écrivain et son "objet"

Patocka – Tragédias de Sófocles

quinta-feira 3 de julho de 2025

A ideia de representar juntas as três tragédias sofoclianas sobre o tema dos Labdácidas se impõe do ponto de vista da unidade da história mítica das gerações sucessivas dos descendentes de Lábdaco, do ponto de vista do destino que se cumpre de pai para filho e até os filhos desse filho. Mas a unificação também coloca um problema: se Antígona, obra anterior às outras duas e concebida independentemente delas, é, nessa perspectiva, colocada no final, o espectador pode crer erroneamente que a intenção das três peças é simplesmente ilustrar essa fatalidade. Na realidade, se Édipo rei e Édipo em Colono formam uma unidade indissolúvel, um dos dois dramas abrindo um abismo que o outro fecha, trazendo reconciliação e apaziguamento, o propósito de Antígona é bem diferente. O tema das tragédias de Édipo é a falha que o homem não comete, mas que ele é. Elas nos apresentam uma forma madura do mito primordial do homem, criatura da claridade, do mito da claridade que é uma infração à ordem cósmica e se torna para o homem destino, caminho que ele deve seguir até seu término amargo. O tema de Antígona é o poder do mito e sua posição diante do mundo do saber-fazer, da ponderação e da racionalidade humana, diante do mundo do dia. As tragédias de Édipo e a de Antígona são assim profundamente diferentes. Claro, ao representar Antígona depois das outras duas, não se peca contra a lógica interna das obras de Sófocles; apenas é preciso nos darmos conta de que essa lógica não coincide com a lógica da cronologia e de que não se trata de uma tragédia "fatal".

O Édipo de Sófocles nos mostra o caminho traçado ao ser humano pela claridade, a compreensão, o olhar naquilo que é, que constitui a natureza humana, o destino que o homem deve cumprir até o fim ao se compreender a si mesmo como deriva, cisma e desastre, a menos que encontre o caminho de uma reinserção na sujeição à força preponderante, à lei e ao sentido mais elevado que domina também seu sentido finito. Existe um mais-alto, elevado acima do sentido humano — algo cujo valor perdura de século em século, que é ao mesmo tempo primordial e atual e que o olhar do adivinho pode, portanto, entrever antes mesmo que ele aconteça. O sentido humano pode se revoltar contra esse sentido preeminente, mas é impotente para resistir a ele ou superá-lo, pois está nele englobado e ultrapassado. O homem não pode deixar de cumprir esse mais-alto mesmo ao buscar se subtrair a ele, mesmo onde crê triunfar sobre ele. Ora, o próprio do homem reside precisamente nessa tentativa de se subtrair, de superar, de impor seu próprio sentido, esquecendo que este não é o sentido total. Como diz Heráclito: "É preciso seguir o que é comum; mas embora o sentido (o λόγος) seja comum, os homens vivem como se cada um tivesse sua própria compreensão." O homem é essa ἴδια φρόνησις que se remete ao próprio eu e ao entendimento privado; é isso que constitui ao mesmo tempo sua essência e a deriva que o põe à parte da totalidade, como atesta o destino de Édipo. O olhar naquilo que é, que conduz Édipo ao ápice da glória e do poder e lhe dá as aparências do salvador da cidade, faz com que ele ao mesmo tempo infrinja a lei que funda toda humanidade, aquilo pelo qual o homem, mesmo em sua corporalidade instintiva, se distingue da promiscuidade animal: a ordem familiar, o respeito e a submissão devidos ao pai, o interdito que pesa sobre o incesto. Aquele que se considera sábio e soberano é assim, na realidade e em seu íntimo, aquele que mina os alicerces da sociedade, um réprobo que é preciso fugir com nojo, expulsar longe dos umbrais e dos lares. Todo o drama reside na maneira como Édipo, com uma lógica inexorável, segue, sem buscar se subtrair, seu destino de homem vidente e querendo ver, desvela e monta ele mesmo, elemento após elemento, o edifício da prova que o fará aparecer sob a luz mais terrível. A sua esposa-mãe não resta senão deixar o mundo dos homens, mas um destino mais cruel está reservado a Édipo — extirpar e negar o poder da ἴδια φρόνησις, do entendimento privado, destruir com suas próprias mãos seu olhar implacável e aceitar o destino de banido e proscrito; pois seu papel ainda não está cumprido na catástrofe em que mergulha Jocasta.

De fato, Édipo não é apenas um criminoso que, superando a si mesmo, estabelece sua culpa pela força de seu próprio olhar. Enquanto criminoso, ele é tabu nos dois sentidos dessa palavra equívoca: ao mesmo tempo maldito e ser sagrado. Ele não é apenas um réprobo, mas um réprobo eleito. Ele é "eleito" entre todos os de seu sangue para que através dele seja desvelado e tornado manifesto o perigo essencial que o homem, por sua essência, representa para si mesmo. Ele não é criminoso por partidarismo; é culpado sem falta. A comunidade que o persegue comete o mesmo crime ao não ver, ao se recusar a reconhecer essa outra face da coisa. Não vendo o caráter sagrado daquele que sofre, ela renuncia por si mesma ao direito à graça que implica, como recompensa, um sofrimento tão incomensurável, assumido pela multidão, até por todos. Esse favor caberá por justiça à cidade que compreender a totalidade desse destino, à comunidade verdadeiramente "comum" que, em testemunho dessa compreensão, acolherá o proscrito e lhe oferecerá um asilo. Nem sua cidade natal, nem seu filho, presa de uma fúria destruidora, tornado inimigo mortal dessa cidade, veem o que é comum, o que une o céu e a terra, os mortais e os imortais, em um todo único. Eles deverão, portanto, ceder lugar a outra cidade, uma comunidade fundada sobre essa unidade e que se apoia em tudo nela — cidade "ideal" que Sófocles imagina sob os traços de Atenas, sua cidade natal, à qual ele revela e lega sua sabedoria mítica.

Antígona também é sagrada em seu sofrimento; ela continua nesse aspecto o destino de Édipo. Seu paradoxo reside no fato de que, filha do crime, ela se torna aquela através da qual se revela, em toda sua força, a lei da piedade familiar, "lei divina" da qual se alimentam todas as leis humanas. Antígona é uma personificação da piedade e do amor familiares — é ela que se torna o único apoio de Édipo na vida errante que segue sua expulsão da cidade natal, junto a ela que encontra um último refúgio seu irmão rebelde e infeliz, morto em um combate fratricida. No entanto, Sófocles apresenta ao mesmo tempo, na tragédia de Antígona, uma versão particular da υβρις que é a ἴδια φρόνησις, o sentido privado, fechado em si mesmo. Creonte representa a figura primitiva do racionalismo que Sófocles vê ganhar terreno ao seu redor na realidade política. É verdade que essa ἴδια φρόνησις visa o que ela estima ser o bem-estar e o poder de toda a cidade, mas não importa. A maneira como esse objetivo é perseguido, a confiança absoluta depositada por aquele que governa em seu próprio entendimento e a submissão absoluta exigida dos outros mostram que se trata de uma tendência despótica, tirânica. Contra essa pretensão do racionalismo nascente, pretensão do homem de tomar em mãos não apenas sua própria vida, mas também a da comunidade em seu conjunto, de instaurar em tudo o reinado da lei do dia, Antígona atesta a preponderância do mito, a força preponderante da totalidade da qual também se alimenta a lei do dia. Esta é apenas uma parte que se anula onde quer se identificar ao todo.

A intenção destas poucas palavras não é assinalar a importância do ato poético de Sófocles. Este é, sem dúvida, um daqueles criadores que arrebatam e enchem de entusiasmo quem quer que seja um pouco sensível à grandeza e à pureza, mas que cabe a muito poucos julgar. Ninguém soube caracterizar a figura poética de Sófocles de maneira tão simples e justa quanto Hölderlin, que escreve: "Assim como Ésquilo escreveu no estilo de sua década guerreira, assim Sófocles no espírito de sua época mais culta, mistura em tudo de virilidade orgulhosa e de moleza feminina: a expressão pura, refletida, e ao mesmo tempo calorosa, exaltante, que foi própria à era de Péricles [1]." E ninguém empreendeu uma tentativa tão penetrante de sondar toda a profundidade do mito sofocliano e das personagens de Antígona quanto Hegel, nos célebres capítulos da Fenomenologia do espírito e da Estética. Na Fenomenologia, sob o título "O Mundo ético, a lei humana e a lei divina, o homem e a mulher", a obra de Sófocles se torna uma das figuras fundamentais do espírito cujo devir reflete todo o sentido do mundo de mestres livres que foi a πόλις ateniense e antiga em geral, a πόλις que repousa, pedra angular, imperceptível, nos fundamentos de todo o edifício histórico da espiritualidade europeia. Sófocles deu a Hegel a possibilidade de mergulhar uma sonda filosófica nas profundezas do mito antigo, que ele compreendeu a força porque o tomou a sério, porque o concebeu, não como uma simples fantasmagoria, mas, ao mesmo tempo em seu conjunto e em seus detalhes, como a profunda verdade das relações fundamentais dos homens em geral, a verdade sobre a força e a fraqueza do mundo e da humanidade antigos, a verdade da relação do homem com tudo o que é sobre-humano, com a terra e o céu. Se Sófocles foi, aos olhos do maior pensador dos tempos modernos, um tal monumento de verdade e profundidade, não é preciso ver nisso um aviso, uma repreensão dirigida a nós, que viemos depois, que vivemos na agitação e no barulho de uma época sem largura nem profundidade, e que ousamos julgar, com o critério objetivista seco dessa época, o que é e o que não é?

De fato, a questão que Sófocles nos colocaria seria sem dúvida a seguinte: a visão de mundo que consideramos hoje evidente, visão da absurdidade desencantada do ente que se dobra elasticamente a nossos objetivos efêmeros arbitrários, não é ela novamente ἴδια φρόνησις, a lei humana em oposição à lei divina, a "visão própria", projetada no cosmos e absolutizada? Nosso mundo não é a consequência e o resultado último da mesma υβρις cuja contradição interna o destino dos Labdácidas exprime? As catástrofes de nosso século não são elas em última instância mais uma vez a mesma queda abaixo do limiar do humano que Sófocles representou, na pessoa de Édipo, para os homens de todos os tempos?


Ver online : PATOCKA, Jan. L’écrivain, son “ objet”. Paris: Presses Pocket, 1992


[1F. Hölderlin, «História das belas artes entre os gregos», Obras completas, Stuttgart, 1961, t. IV, primeira parte, p. 204. (N.d.T.)