A tragédia ática expressa de maneira nova uma intuição homérica muito antiga: por mais forte, por mais semelhante aos deuses que seja, não é permitido ao homem transgredir a lei suprema, sob pena de cair fora de seu papel em uma queda tanto mais cruel quanto mais alto seu destino o tiver elevado. A consciência desse interdito é agora abordada sob um ângulo diferente, em uma nova luz dada pela relação com a sociedade, com a comunidade, com a coletividade humana em geral. É aí, nessa nova (…)
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Patocka
Jan Patocka (1907-1977)
Matérias
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Patocka – Digressão sobre a tragédia ática
2 de julho, por Murilo Cardoso de Castro -
Patocka – Mito
3 de julho, por Murilo Cardoso de CastroTodos temos o hábito de abusar das palavras, de reduzi-las ao seu significado mais banal para usá-las como uma espécie de moeda falsa. É, entre outros, o caso da palavra "mito", que designa aos nossos olhos uma mistificação ou uma automistificação, uma representação anônima, surgida não se sabe de onde nem como, uma simples opinião ou rumor desprovido de fundamento que não consideramos como uma criação do pensamento com alcance objetivo, mas sim como um epifenômeno subjetivo. É nesse sentido (…)
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Patocka – Tragédias de Sófocles
3 de julho, por Murilo Cardoso de CastroA ideia de representar juntas as três tragédias sofoclianas sobre o tema dos Labdácidas se impõe do ponto de vista da unidade da história mítica das gerações sucessivas dos descendentes de Lábdaco, do ponto de vista do destino que se cumpre de pai para filho e até os filhos desse filho. Mas a unificação também coloca um problema: se Antígona, obra anterior às outras duas e concebida independentemente delas, é, nessa perspectiva, colocada no final, o espectador pode crer erroneamente que a (…)
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Patocka – Antígona e a lei
3 de julho, por Murilo Cardoso de CastroVamos tentar traduzir a mensagem de Sófocles em uma linguagem compreensível para os homens de hoje. Vamos tentar levar a sério mesmo o que à primeira vista nos parece não apenas estranho mas chocante: o culto aos mortos que supera o respeito pelos vivos, o risco da própria vida pelos costumes e ritos, a crença nos oráculos e nos deuses. A mensagem de Sófocles é eminentemente simples, mas é precisamente isso que complica a tarefa de compreendê-la. Outra dificuldade reside no fato de que o (…)
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Patocka – Antígona, não autonomia do sentido e do mundo humanos
3 de julho, por Murilo Cardoso de CastroAntígona é, portanto, uma confirmação mítica da não autonomia essencial do sentido e do mundo humanos. A atestação da dependência do homem, de sua finitude fundamental, de sua crise e de seu errar na questão do bem e do mal, faz parte da essência do mito autêntico. O mito tal como o homem moderno o compreende é, por outro lado, um mito essencialmente falseado. O pensamento racionalista tem razão em se insurgir contra o mito na medida em que toma essa falsificação como alvo de seus ataques. O (…)
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Patocka – o épico e o dramático
3 de julho, por Murilo Cardoso de CastroTalvez não seja sem interesse para os especialistas do teatro, cuja atenção se volta, muito compreensivelmente, para os imperativos do presente, para a atualidade com seu turbilhão multifacetado e sua imensa multidão de aspirações que não se pode abarcar com o olhar, se um não-especialista, aproveitando o distanciamento que sua posição lhe oferece, tenta uma reflexão mais fundamental, considerando o tempo presente como uma simples fase sem autonomia do emaranhado das eras. Antigamente, um (…)
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Patocka – o medo-pavor e a piedade-compaixão
3 de julho, por Murilo Cardoso de CastroA poesia, diz Aristóteles (e ele entende por isso principalmente o drama e, sobretudo, a tragédia), é nitidamente mais filosófica que a historiografia, pois a crônica é uma simples descrição do que foi, dos fatos singulares e, portanto, contingentes, ao passo que a poesia concerne a algo universal, as possibilidades da natureza humana e do destino do homem em geral .
O que é essa coisa necessária e sempre possível? Quais são esses aspectos essenciais do humano — não apenas da natureza do (…) -
Patocka – compenetração do dramático e do épico
3 de julho, por Murilo Cardoso de CastroÉ portanto a essa época [Antiguidade grega] que remonta o apoio recíproco, a compenetração teórica e prática do dramático e do épico, do drama e do épos. Apoio e compenetração para os quais a objetividade épica é o próprio solo da formação poética do destino humano, sem o qual a criação dramática tampouco poderia, de maneira verdadeiramente artística, captar, conhecer e explorar a fonte autônoma de sentido que lhe é própria. O vínculo estreito dos dois vai tão longe que, no fim mesmo dessa (…)
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Patocka – linguagem e fala
3 de julho, por Murilo Cardoso de CastroA linguagem, traço distintivo do homem (nenhum animal possui linguagem no sentido de um meio de entendimento com um teor de significação), cristaliza-se originalmente a partir da fala, da atividade de falar, sendo esta inseparável de uma situação de fala. A situação de fala é o que determina o sentido do que é dito, o que localiza a significação no tempo e no espaço, relacionando-a a tais ou tais pessoas cuja presença é dada a entender pelo contexto. Na origem, a fala é parte integrante de (…)
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Patocka – linguagem e escrita
3 de julho, por Murilo Cardoso de CastroO próximo passo da dialética pela qual o homem se torna expressamente um ser vivente espiritualmente, ou seja, em uma relação explícita e consciente com o mundo, é a escrita, a fixação da expressão verbal. A necessidade de fixação é muito antiga, primordial, como se depreende da estereotipia da narração inicialmente oral, da precisão ritual com que os mitos são transmitidos, das figuras que facilitam a recitação e a memorização. Com a escrita, que transforma a fala em algo que pode ser (…)
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