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Arquivo Pessoa - Obra Édita

Fernando Pessoa - Da Lei da Natureza

Escritos ocultistas (em francês)

domingo 29 de junho de 2025

De la Loi de Nature, représentée par Hiram on passe à la Loi humaine,

Da Lei da Natureza, representada por Hiram, passa-se à Lei humana, representada por Christian Rosencreutz, e depois à Lei de Deus, representada por Jesus. A elevação ritual do candidato marca a primeira passagem, e o instinto é a palavra que perdeu. A abertura do túmulo de C[hristian] R[osenkreutz] marca a segunda passagem: ao ver o livro T, que o Segundo Mestre pressiona contra o peito, encontra-se finalmente a intuição, ou seja, a palavra em seu estado humano, pois a intuição é o instinto da inteligência, o casamento destes dois nas "núpcias químicas" cujos graus, ou degraus, mágicos foram descritos alhures em linguagem simbólica. A descoberta, sem busca nem dificuldade, do túmulo de Jesus, aberto e vazio, marca a passagem final, o casamento divino, o da intuição com a própria profundidade da alma, a união com Cristo.

No primeiro grau desta verdadeira iniciação, o candidato tem a tarefa de matar (em si) os três assassinos do Mestre, os três elementos que se opõem (nele) à Lei da Natureza - o desejo do supérfluo, a crença na ciência e o impulso de dominar (a vontade de poder, de Nietzsche); ou, em linguagem mais simples, a ambição, o orgulho e a vaidade. Isto, aliás, já lhe é obscuramente indicado no próprio início de sua vida iniciática, quando é despido de metais. É tecnicamente despido do ferro (armas), da prata (que é o dinheiro que compra) e do ouro (que é o dinheiro que deslumbra) - metais regidos, respectivamente, por Marte, Lua e Sol, significadores da ambição, da vaidade e do orgulho. Quando os três assassinos são mortos na alma do aspirante, ele está pronto para avançar.

No segundo grau desta ascensão a Deus, a tarefa do candidato é recuperar a palavra. Para isso deve fazer três coisas: encontrar onde está situada a abóbada mortuária de C[hristian] R[osenkreutz], abrir essa abóbada, abrir o túmulo e ver nele o Mestre Perfeito, que traz a Palavra contra seu peito - este Livro T (Templi) que ao mesmo tempo completa e se opõe ao Livro M (Mundi). Primeiro deve saber que há nele uma abóbada onde está alojada sua alma superior, morta neste mundo. Depois, deve encontrá-la. Em seguida, deve saber abrir essa abóbada. Deve ainda saber olhar bem o que ali vê. Finalmente, deve saber abrir o túmulo do Mestre e vê-lo na majestade de sua morte viva, incorruptível. Estes são os cinco pontos perfeitos da grande maestria, [as cinco pontas da estrela mágica, as cinco pétalas da Rosa crucificada.] Por eles é elevado desta vida, que não passa de uma morte figurativa.

O homem não estava destinado a ser o que é: tornou-se assim apenas pela Queda. Recuperar a Palavra é recuperar a verdadeira Lei Humana, o Adão primitivo e andrógino, feito assim à imagem de Elohim. Realizar em si mesmo o casamento dos dois princípios - eis a Lei Humana recuperada, a verdadeira criação da pedra filosofal.

Hiram é o Homem que deveria ser e sua Palavra era esse destino que se perdeu. Poderemos recuperar a Palavra, não recuperar Hiram. Ele está verdadeiramente morto, e eis o pecado original; só poderemos dele nos livrar regenerando-nos, ou seja, nascendo de novo. Este é o sentido da palavra "neófito".


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