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Contes philosophiques du monde entier: cercle des menteurs
Jean-Claude Carrière – Estórias, origens
quarta-feira 2 de julho de 2025
De onde elas vêm?
Alguns povos amaram as histórias com uma espécie de paixão, depositando nelas a maior parte de suas verdadeiras preocupações e, consequentemente, de seu saber-viver.
Em primeiro lugar, neste livro, figuram as histórias do budismo zen ou da tradição sufi, pois nesses dois casos a história foi considerada a própria ferramenta do conhecimento. Evidentemente, aqui, as histórias, especialmente concebidas e contadas, visam a um ensinamento em vários níveis. Para tanto, elas excitam e frequentemente desapontam a mente.
Mas essas duas fontes são relativamente recentes; elas bebem em reservatórios mais antigos que serão aqui amplamente representados: a tradição indiana primeiro, da qual se chegou a acreditar (absurdamente) que estava na origem de todas as histórias conhecidas; a tradição africana também, e a chinesa. O mundo islâmico — além do sufismo — aperfeiçoou maravilhosamente a arte do relato, entrelaçando-a, adornando-a, costurando-a com ouro e sombra.
No mundo judaico, sob outras influências e sob o efeito de um humor persistente, nascido do exílio e do autoexame, as mesmas histórias assumem outro tom, logo, outro sentido. Aqui, a maneira de contar a história (mesmo quando sagrada) é ao menos tão importante quanto a história ela mesma. A tradição judaica frequentemente pressupõe por trás das palavras, e da ordem das palavras, e até mesmo da posição das letras, uma espécie de estrutura secreta, uma mensagem ali colocada por sabe-se lá quem, outro sentido, que é o verdadeiro, como se a aparência do conto fosse apenas uma máscara.
As tradições europeias e ameríndias também estão presentes. Se as histórias puramente cristãs aparecem esparsas, é porque, na maioria das vezes, elas nos chegaram como relatos edificantes, destinados a persuadir e converter. A dimensão da perturbação, do inacabado, lhes escapa — e a mesma observação vale para todo o lendário religioso, em qualquer continente que seja redigido.


Ver online : CARRIÈRE, Jean-Claude. Le Cercle des menteurs. Contes philosophiques du monde entier. Paris: Plon 1998