Como as minhocas que, diz-se, fecundam a terra que atravessam cegamente, as histórias passaram de boca em boca e dizem, há muito, o que nada mais pode dizer. Algumas giram e se enrolam dentro de um mesmo povo. Outras, como que feitas de uma matéria sutil, furam as paredes invisíveis que nos separam, ignoram o tempo e o espaço e simplesmente se perpetuam. Assim, esta conhecida entrada circense, onde alguém procura um objeto perdido em um círculo luminoso, não porque o objeto se perdeu naquele (…)
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Carrière
Carrière, Jean-Claude
Matérias
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Jean-Claude Carrière – Estórias
2 de julho, por Murilo Cardoso de Castro -
Jean-Claude Carrière – Estórias se repetem
2 de julho, por Murilo Cardoso de CastroNão há certeza de que a História se repita. O fenômeno é frequentemente discutido. Mas a história — com "h" minúsculo — gosta de se repetir incansavelmente. Todos sabemos: aquilo que um dia ouvimos e nos agradou, sentimos como uma necessidade, como um leve dever, de transmitir. Aqui não há segredo, nem guarda ciumenta. No final de uma refeição, assim que um dos convidados entrega uma história, outro lhe responde, preocupado em fazer melhor, e assim por diante. Isso pode ocupar a noite. Uma (…)
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Jean-Claude Carrière – Estórias, como organizá-las
2 de julho, por Murilo Cardoso de CastroMuitas das histórias a seguir foram me contadas aqui e ali. A maioria eu encontrei em livros (mais de duas mil). Tentei relatá-las de forma simples, com o mínimo de literatura, esforçando-me para me apagar, como é de costume, para colocar a narrativa à frente do contador de histórias. Qualquer transcrição desse tipo de conto é necessariamente falha. Não é feito para ser lido. Espero que a simplicidade da minha entrega permita a outros contadores — oralmente — bordados, divagações, um jogo, (…)
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Jean-Claude Carrière – Estórias, contador
2 de julho, por Murilo Cardoso de CastroA única ambição do contador de histórias é parecer necessário. Como um camponês ou um padeiro. Nem mais, nem menos. Pois as histórias que ele conta revelam certos aspectos do espírito que não são perceptíveis de outra forma. Civilizações muito poderosas o colocaram no centro dos cruzamentos, às vezes no centro do próprio palácio, e sua santa padroeira é obviamente uma mulher, a ilustre Sherazade, que jogava uma cabeça em cada relato, que encantava cuidadosamente a noite e se calava, (…)
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Jean-Claude Carrière – Estórias, origens
2 de julho, por Murilo Cardoso de CastroDe onde elas vêm?
Alguns povos amaram as histórias com uma espécie de paixão, depositando nelas a maior parte de suas verdadeiras preocupações e, consequentemente, de seu saber-viver.
Em primeiro lugar, neste livro, figuram as histórias do budismo zen ou da tradição sufi, pois nesses dois casos a história foi considerada a própria ferramenta do conhecimento. Evidentemente, aqui, as histórias, especialmente concebidas e contadas, visam a um ensinamento em vários níveis. Para tanto, elas (…) -
Jean-Claude Carrière – Estórias preferidas
2 de julho, por Murilo Cardoso de CastroPor todas essas razões — e algumas outras de puro capricho — nasce a tentação, para um contador de histórias profissional, de um dia compor uma coletânea de suas histórias favoritas.
Mas que histórias, que contos escolher? Como, no oceano, identificar, preferir algumas gotas? Obrigatoriamente, mesmo com pesar às vezes, é preciso selecionar, é preciso eliminar.
Assim, as histórias que reuni e contei à minha maneira (que é uma maneira entre outras, em um dado momento, em um dado lugar) não (…) -
Jean-Claude Carrière – Estórias, inventar
2 de julho, por Murilo Cardoso de CastroEm algum lugar da Índia, um carregador de água levava água de uma fonte para uma aldeia, onde a vendia. Ele carregava sua carga em dois potes, presos a uma barra de madeira em cada lado de seus ombros.
O pote da direita estava intacto e sempre chegava cheio ao vilarejo, mas o pote da esquerda estava rachado e perdia metade da água no caminho.
Isso continuou por vários anos. O homem não tinha dinheiro para comprar outro pote. Um dia, o pote rachado falou e disse ao carregador:
– Tenho (…) -
Jean-Claude Carrière – Estórias como fabulações para pensar
2 de julho, por Murilo Cardoso de CastroPouco a pouco, ao compor este livro, o que me levou mais de vinte e cinco anos, percebi que procurava outro tipo de contos e histórias, presentes em quase toda parte, mas tão difíceis de classificar que eu não sabia como chamá-los. Histórias de sabedoria? Isso é tão sem graça quanto uma entrega de prêmios. Histórias de saber viver? De ensinamento? Histórias divertidas e instrutivas, como se dizia antigamente? Histórias engraçadas? Mas isso parece uma coletânea de piadas. Contos do espaço e (…)