A inação consola de tudo. Não agir dá-nos tudo. Imaginar é tudo, desde que não tenda para agir. Ninguém pode ser rei do mundo senão em sonho. E cada um de nós, se deveras se conhece, quer ser rei do mundo.
Não ser, pensando, é o trono. Não querer, desejando, é a coroa. Temos o que abdicamos, porque o conservamos sonhado, intacto, eternamente à luz do sol que não há, ou da lua que não pode haver. (Fernando Pessoa, O Livro do Desassossego, 164)
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Fernando Pessoa
Pessoa, Fernando (1888-1935)
Matérias
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Pessoa (LD:164) – inação consola tudo
23 de julho de 2024, por Murilo Cardoso de Castro -
Pessoa (LD:364) – não possuo o meu corpo
23 de julho de 2024, por Murilo Cardoso de CastroEu não possuo o meu corpo — como posso eu possuir com ele? Eu não possuo a minha alma — como posso possuir com ela? Não compreendo o meu espírito — como através dele compreender?
Não possuímos nem o corpo nem uma verdade — nem sequer uma ilusão. Somos fantasmas de mentiras, sombras de ilusões, e a nossa vida é oca por fora e por dentro.
Conhece alguém as fronteiras à sua alma, para que possa dizer — eu sou eu?
Mas sei que o que eu sinto, sinto-o eu.
Quando outrem possui esse corpo, (…) -
Fernando Pessoa – Pensar por antíteses...
28 de junho, por Murilo Cardoso de CastroSabem todos que a dialéctica platônica decompõe o movimento do raciocínio em três tempos sucessivos — a tese, a antítese, e a síntese. O mesmo íntimo critério preside ao movimento da ode grega, ou de toda a ode — a estrofe, em que se determina a ideia; a antístrofe, em que se lhe opõe a ideia contrária, que a própria posição daquela exige; o epodo, em que se conciliam as duas. Nem sempre assim era na realização da ode: sempre assim deveria ser.
Toda opinião é uma tese, e o mundo, à falta (…) -
Agamben – experiência em Proust
28 de junho, por Murilo Cardoso de CastroPorém, a objeção mais peremptória ao conceito moderno de experiência foi levantada na obra de Proust. Pois o objeto da Recherche não é uma experiência vivida, mas justamente o contrário, algo que não foi nem vivido nem experimentado; e nem mesmo o seu subitaneo aflorar nas intermittences du coeur constitui uma experiência, a partir do instante em que a condição deste afloramento é precisamente uma oscilação das condições kantianas da experiência: o tempo e o espaço. E não são apenas as (…)
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Fernando Pessoa – Heráclito e a ideia do movimento
28 de junho, por Murilo Cardoso de CastroO movimento universal pode ser muito lento e assim a sensação ser possível (Rádio-Atividade) .
Heráclito diz que tudo é movimento. Mas o que é o movimento? Qualquer coisa que só pode ser concebida por oposição a substância.
Além disso, o movimento exige duas coisas: uma coisa que move e uma coisa que é movida, um motor e um móvel. — Necessita primeiro, de uma coisa para mover, porque é inconcebível que qualquer coisa possa mover-se a si própria. Necessita em seguida, de uma coisa para (…) -
Fernando Pessoa – O sino da minha aldeia
28 de junho, por Murilo Cardoso de CastroLe cloche de mon village,
plaintive dans le soir calme,
il n’est un de tes battements
qui dans mon âme ne résonne.
Il est si lent, ton rythme,
triste ainsi que celui de la vie,
que le premier coup a déjà
l’accent d’une redite.
D’aussi près que tu résonnes,
quand je passe, éternel errant,
tu m’es un songe quasiment,
en mon âme tu retentis lointaine.
A chaque coup que tu égrènes,
vibrant dans le ciel sans frontières,
je sens plus lointain le passé,
je sens la nostalgie plus (…) -
Fernando Pessoa – Neste mundo em que esquecemos
28 de junho, por Murilo Cardoso de CastroEn ce monde de notre oubli,
Ombres nous sommes de nous-mêmes,
Et les gestes réels que nous faisons
Dans l’autre où, âmes, nous vivons,
Sont ici feintes et grimaces.
Tout est nocturne et confus
Dans nos échanges d’ici-bas
Projections, fumée diffuse
Du feu qui brille celé
Au regard qui donne la vie.
Mais l’un ou l’autre, en un éclair
D’attention vive, pourra voir
Dans l’ombre et dans son mouvement
S’ébaucher le dessein outre-monde
Du geste qui soutient sa vie.
Alors il (…) -
Fernando Pessoa – O poeta é um fingidor...
28 de junho, por Murilo Cardoso de CastroLe poète sait l’art de feindre.
Il feint si complètement
Qu’il en vient à feindre qu’est douleur
La douleur qu’en fait il sent.
Et ceux qui lisent ses écrits
Dans la douleur lue sentent bien
Non les deux qu’il a connues,
Mais celle qu’ils n’éprouvent point.
Et ainsi, en ses engrenages
Tourne, jouet de la raison,
Ce petit train mécanique
Qui de cœur a reçu le nom.
(Trad. Armand Guibert) -
Fernando Pessoa – Religião
28 de junho, por Murilo Cardoso de CastroChaque religion est un monde à part, mais plus particulièrement lorsqu’elle est essentiellement initiatique. C’est-à-dire qu’une religion composée de mystères, dans la connaissance desquels on s’élève par degrés, est une sorte de nouvelle région par laquelle l’âme se transforme.
C’est éminemment vrai de la FM (Franc-maçonnerie) qui est la seule religion moderne de type purement initiatique. Chez d’autres, les degrés sont des états d’émotion ; il y a des états de compréhension, et ils le (…) -
Pessoa (LD:163) – falta de imaginação
23 de julho de 2024, por Murilo Cardoso de CastroA experiência direta é o subterfúgio, ou o esconderijo, daqueles que são desprovidos de imaginação. Lendo os riscos que correu o caçador de tigres tenho quanto de riscos valeu a pena ter, salvo o do mesmo risco, que tanto não valeu a pena ter, que passou.
Os homens de ação são os escravos involuntários dos homens de entendimento. As coisas não valem senão na interpretação delas. Uns, pois, criam coisas para que os outros, transmudando-as em significação, as tornem vidas. Narrar é criar, (…)
Notas
- Fernando Pessoa – inteligência analógica
- Fernando Pessoa – Parmênides e a eternidade do ser
- Fernando Pessoa – S de serpente
- Fernando Pessoa – Sobre o pensamento grego
- Fernando Pessoa – Soneto I
- Fernando Pessoa – Soneto XIV
- Fernando Pessoa – Soneto XXII
- Guimarães Rosa (GSV) – Deus é urgente sem pressa