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Fernando Pessoa – Soneto XXII
domingo 29 de junho de 2025
Minha alma é um rígido cortejo, homem por homem,De uma arte egípcia mais antiga que o Egito,Achada em algum túmulo cujo rito ninguém adivinha,Onde tudo mais em pó colorido se desfez.Seja qual for seu sentido, sua idade é gêmeaDa dos sacerdócios cujos pés pisaram perto de Deus,Quando o saber era tão grande que era pecadoE a simples alma do homem era humana demais para sua morada.Mas quando pergunto o que significa esse cortejo que souE tento olhá-lo de súbito, percoO senso que tinha de vê-lo, nem posso tentarOlhar de novo, nem tem minha memória utilidadeQue pareça lembrar, exceto que recordaUm vazio de ter visto aquelas paredes.