Passemos aos personagens. Desde o início de O Inominável, o "eu" se coloca como sua origem. São "fantoches" (I, 8), "meus delegados" (I, 17), "minhas criaturas" (I, 22), "esses bodes expiatórios" (I, 28), "meu rebanho de excitados" (I, 35), "esses sacos de serragem" (I, 173), etc. É impressionante que os nomes mencionados não pertençam apenas aos dois primeiros volumes da trilogia, mas também a obras anteriores (Murphy), incluindo aquelas que permanecerão inéditas por muito tempo ainda, como (…)
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Beckett
BECKETT, Samuel (1906-1989)
Matérias
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Jean-Louis Chrétien – personagens na trilogia de Beckett
7 de julho, por Murilo Cardoso de Castro -
Jean-Louis Chrétien – o eu que fala em Beckett
7 de julho, por Murilo Cardoso de CastroA essa dimensão transcendental e a essa temática gnóstica soma-se o incessante movimento da fala: este movimento, tendo se desvencilhado do mundo e de qualquer situação definida nele, é apenas um movimento interior, fazendo de L’Innommable um puro romance da consciência sob o modo do monólogo, uma consciência despida que não é mais uma consciência singular e definida, mas uma forma pura do relato. Esse movimento tem duas dimensões, das quais a segunda é pouco enfatizada pelos intérpretes, (…)
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Jean-Louis Chrétien – reflexão sobre os pronomes pessoais
7 de julho, por Murilo Cardoso de CastroA reflexão sobre a subjetividade toma a forma de uma reflexão sobre a fala, sobre a voz, e sobre o que permite seu uso, os pronomes, os pronomes pessoais. O tema reaparece frequentemente: "Depois chega dessa maldita primeira pessoa, já é demais no final, não se trata dela, vou arrumar problemas. Mas também não se trata de Mahood, ainda não. De Worm então menos ainda. Bah, pouco importa o pronome, desde que não sejamos enganados. Depois o preço está pago (sic). Mais veremos mais tarde" (I, (…)
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Jean-Louis Chrétien – monólogos na trilogia de Samuel Beckett
7 de julho, por Murilo Cardoso de CastroA segunda objeção [ à trilogia de Beckett ] é formal. A presente obra concentra-se no monólogo interior e deixou de lado as narrativas em primeira pessoa. Ora, se a trilogia é de fato uma série de monólogos, estes se apresentam eles mesmos como escritos (um escrito encomendado e remunerado para Molloy (M, 7), um "relatório" para Moran (M, 142)), e não poderiam ser formalmente qualificados como monólogos interiores. No máximo, pode-se dizer que eles têm origem no monólogo interior, como (…)
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Jean-Louis Chrétien – maniqueísmo de Beckett
7 de julho, por Murilo Cardoso de CastroEm Beckett, primeiramente a gente se desloca, depois tem dificuldades, e finalmente não consegue mais se mover, o corpo perde sucessivamente o uso de um ou outro membro até que se torne problemático que ainda se tenha um corpo, não estamos mais no mundo, não há mais nem coisas nem pessoas: resta apenas a voz e as palavras, e a crença incerta, vacilante de que, apesar de tudo, apesar do roubo de tudo, eu falo. “Tudo se resume a uma questão de palavras, não se deve esquecer, eu não esqueci.” (…)
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Jean-Louis Chrétien – "consciência" na trilogia de Beckett
7 de julho, por Murilo Cardoso de CastroO quarto ponto a ser abordado é o da consciência e seu status. Em sua busca incessante, O Inominável apresenta diversos modelos da consciência ou da subjetividade, sem se fixar em nenhum. O "sujeito" não aparece como suporte, como fundamento subjacente (hupokeimenon), mas como aquilo que detém um processo:
"(...) preciso dizer, quando falo, Quem fala, e procurar, e quando procuro, Quem procura, e procurar, e assim por diante e o mesmo para todas as outras coisas que me acontecem e para as (…) -
Jean-Louis Chrétien – "monólogo interior" na trilogia de Beckett
7 de julho, por Murilo Cardoso de CastroO modelo seguinte é para nós da mais alta importância, pois enuncia a possibilidade do monólogo interior como emanando de um eu consistente. Apresenta-se como um programa metódico, fundado em "resoluções" e "decisões". Perdoe-se a longa citação, necessária:
"Supor doravante, nomeadamente, que o que é dito e o que é ouvido tenham a mesma proveniência, evitando duvidar da possibilidade de supor o que quer que seja. Situar essa proveniência em mim, sem especificar onde, sem retoques, tudo (…) -
Jean-Louis Chrétien – inversão de valores em Beckett
7 de julho, por Murilo Cardoso de CastroO que está em jogo, como em muitos outros lugares, é uma Umwertung, uma inversão de valores: a descrição que Beckett faz é de um rigor perfeito, está em perfeito acordo com a fenomenologia da linguagem contemporânea de sua obra, mas seu sentido se inverte completamente. Não há, e não poderia haver, idioleto, linguagem que seria apenas minha. Tenho minha dicção, meu fraseado, meu estilo, mas não minha própria língua. A fala, de fato, assina a pertença à humanidade e a uma comunidade (…)
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Jean-Louis Chrétien – Samuel Beckett
7 de julho, por Murilo Cardoso de CastroA trilogia formada por Molloy, Malone Morre e O Inominável, era aos olhos de Beckett uma obra única, para a qual ele desejava um único contrato de edição, e que foi, em inglês, conforme seu desejo, reunida em um só volume. Conforme as últimas palavras de O Inominável, “é preciso continuar, não posso continuar, vou continuar” (I, 213), ela prosseguiu apesar de tudo uma vez terminada, já que houve o doloroso e dificultoso trabalho de sua tradução, em colaboração para Molloy e sozinho para as (…)
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Beckett (EG) – existência
26 de junho, por Murilo Cardoso de CastroFábio de Souza Andrade
LUCKY [exposição monótona] Dada a existência tal como se depreende dos recentes trabalhos públicos de Poinçon e Wattmann de um Deus pessoal quaquaquaqua de barba branca quaqua fora do tempo e do espaço que do alto de sua divina apatia sua divina athambia sua divina afasia nos ama a todos com algumas poucas exceções não se sabe por quê mas o tempo dirá e sofre a exemplo da divina Miranda com aqueles que estão não se sabe por quê mas o tempo dirá atormentados atirados (…)