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Fernando Pessoa – Soneto XIV

domingo 29 de junho de 2025

Sonnet XIV

Nascemos ao pôr do sol e morremos antes da manhã,
E conhecemos toda a escuridão   do mundo  ,
Como adivinhar sua verdade  , nós que nascemos na escuridão,
A obscura consequência da ausência de brilho  ?
Somente as estrelas   nos ensinam a luz  . Apreendemos
Suas pequenezas espalhadas com pensamentos que divagam,
E, embora seus olhos atravessem a máscara total da noite  ,
Ainda assim não revelam os traços do dia.
Por que essas pequenas negações do todo  
Mais que o todo negro atraem os olhos satisfeitos?
Por que aquilo que chama de «valor» a alma   cativa
Acrescenta ao pequeno e subtrai ao grande?
Assim, por amor   à luz desejando a extensão da noite,
Um   pensamento noturno do dia alcançamos às escuras.