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Le non-dualisme de Spinoza ou La dynamite philosophique

René Daumal – Não-dualismo de Espinosa (5)

terça-feira 1º de julho de 2025

Revolucionário diante do grande sono teológico, Spinoza o é de forma evidente no esquema abstrato da Ethica. Não é preciso lembrar que a violência de sua polêmica no Tractatus Theologico-Politicus e sobretudo nas Cartas é tal que quase o baniu da filosofia respeitável até os nossos dias. A própria Ethica, em poucas proposições, contém os princípios de uma revolução no plano social e também no político. Pode-se, além disso, meditar longamente sobre esta proposição: “Somente na medida em que vivem sob a orientação da razão, os homens necessariamente sempre concordam por natureza” (Eth. IV, prop. 35).

Mas aqui Spinoza é mais revolucionário por seu não-dualismo do que por suas teorias declaradamente políticas: teorias ousadas e corajosas para a época, mas a serem julgadas relativamente a essa época. Em contrapartida, o ritmo de seu pensamento, que estabelece e resolve antinomias, o coloca absolutamente na linha dos verdadeiros pensadores revolucionários — refiro-me àqueles para os quais conhecer e agir não são coisas separadas. A essa linha se opõem todos os outros filósofos, construtores de sistemas sempre dualistas, e que são meros reflexos dos conflitos materiais da sociedade que os produz: suas produções são julgáveis com base na explicação marxista da História.

Desde o início dos “tempos modernos”, o grande drama da filosofia-reflexo-social foi o seguinte: o nascimento e aperfeiçoamento dos novos métodos de produção exigiam uma técnica; a técnica, uma ciência da natureza; e desta surgia pouco a pouco uma filosofia crítica que tendia a derrubar toda metafísica e toda teologia, e assim matar a religião. Ora, a classe nascente, que detinha os meios de produção, precisava da “religião”, veneno precioso para adormecer e melhor dominar seus escravos. Essas duas exigências contraditórias se expressaram com clareza no desenvolvimento filosófico de Descartes até os nossos dias. Em Descartes, as duas correntes filosóficas coexistem: sua cosmologia é materialista, mas não invade em nada sua metafísica. Depois dele, os filósofos se especializam, e todo esforço é feito para conciliar “ciência” e “fé”. Mas em vão, como era de se prever! Por fim, idealistas e positivistas se reuniram nas universidades de diversos países, imagens bastante exatas das necessidades ideológicas da classe no poder.

Spinoza, negando toda dualidade fundamental entre matéria e espírito, corpo e alma, ação e pensamento, se coloca imediatamente fora dessa filosofia-reflexo — mas num plano eterno. Em uma história da filosofia (seguramente já foi notado), Spinoza sempre soa um pouco destoante. Incomoda. Não se encaixa no sistema. Sua obra, limitada pelos esquemas da filosofia, está sempre prestes a fazê-los explodir; ela representa uma época em que a humanidade estará libertada dos mitos do número dois, deixará de ser dilacerada pelas antinomias do pensamento e pelas oposições das classes sociais.