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René Daumal – a maneira de produzir literária
terça-feira 1º de julho de 2025
tradução
(...) Ele (Daumal Daumal René Daumal (1908-1944) ) tentava fazer compreender ao seu amigo íntimo André Rolland de Renéville em que consistia essa preparação no domínio literário, desejando utilizar as regras sânscritas para seus próprios escritos.
Eis o que lhe escreveu: a maneira de (o) produzir tem, é verdade, pátrias, pelo menos duas:
I. — O ocidental, como eu, dá o "tom" por uma projeção direta de seu estado interior sobre o magma caótico das imagens e das palavras: esses elementos se ordenam um pouco ao acaso sob esse sopro; se eles estão, nesse momento, como a areia seca da praia:
1° suficientemente ricos, numerosos
2° suficientemente independentes uns dos outros e 2bis portanto bem definidos em seus contornos
3° suficientemente móveis
o vento doador de tom os esculpirá em dunas bem ritmadas, cuja ondulação evocará novamente o "tom" no espírito do espectador ou do leitor.
Mas, repito, é um pouco ao acaso.
II. — O oriental prepara primeiro sua "areia" por uma técnica longa e difícil que tem suas leis e seus cânones. O "tom" jorra também espontaneamente (no verdadeiro sentido da palavra) mas não corre o risco de se perder em vão: as vias lhe estão traçadas. Assim, na arte dramática hindu, a expressão tem oito "sabores" principais: erótico, cômico, patético, furioso, heróico, terrível, repugnante, admirável (às vezes se acrescenta: 9° pacífico e 10° parental — sentimento paterno ou materno).
Esses sabores se realizam nas "manifestações do ser": há oito "manifestações permanentes" (que duram durante a obra inteira) e 33 "manifestações temporárias" (cito ao acaso: embriaguez — suor — lágrimas — morte — dúvida — despertar — arrependimento — vergonha — esforço de memória...). Há quatro maneiras de pô-las em jogo: verbal, grandiosa, graciosa, violenta... etc., etc. Cada uma se subdivide ainda, e todas (sejam de ordem psíquica, fisiológica, melódica, rítmica, pictural, mímica, gramatical etc.) estão ligadas por sistemas de correspondências apertados e intrincados que levam anos para conhecer. Tudo isso é uma maneira de classificar o material interior de forma a tê-lo instantaneamente à mão quando necessário. E ainda não falo senão do "tom", do estado afetivo, do "sabor" geral. Não ouso falar de ideia: isso queima. Mas, como dizia, elas não têm pátria.
original
(...) Il (Daumal Daumal René Daumal (1908-1944) ) essaya de faire comprendre à son ami intime André Rolland de Renéville, en quoi consistait cette préparation dans le domaine littéraire, désirant utiliser les règles sanskrites pour ses propres écrits.
Voici ce qu’il lui écrivit : la manière de (le) produire a, c’est vrai, des patries, au moins deux:
I. — L’occidental, comme moi, donne le « ton » par une projection directe de son état intérieur sur le magma chaotique des images et des mots : ces éléments s’ordonnent un peu au petit bonheur sous ce souffle; s’ils sont, à ce moment-là, comme le sable sec de la plage:
1° assez riches, nombreux
2° assez indépendants les uns des autres et 2bis donc bien définis des contours
3° assez mobiles
le vent donneur de ton les sculptera en dunes bien rythmées, dont l’ondulation évoquera à nouveau le « ton » dans l’esprit du spectateur ou du lecteur.
Mais, je répète, c’est un peu au petit bonheur.
II. — L’oriental prépare d’abord son « sable » par une longue et difficile technique qui a ses lois et ses canons. Le « ton » jaillit aussi spontanément (au vrai sens du mot) mais il ne risque pas de se perdre pour rien : les voies lui sont tracées. Ainsi, dans l’art dramatique hindou, l’expression a huit « saveurs » principales : érotique, comique, pathétique, furieuse, héroïque, terrible, dégoutante, étonnante (on ajoute parfois : 9° paisible et 10° parental — sentiment paternel ou maternel).
Ces saveurs se réalisent dans les « manifestations de l’être » : il y a huit « manifestations permanentes » ( qui durent pendant l’oeuvre entière) et 33 « manifestations temporaires » (je cite au hasard : ivresse — sueur — larmes — mort —doute — éveil —– regret — honte —– effort de mémoire...). Il y a quatre manières de les mettre enjeu : verbale, grandiose, charmante, violente... etc., etc. Chacun se subdivise encore, et tous (qu’ils soient d’ordre psychique, physiologique, mélodique, rythmique, pictural, mimique, grammatical, etc.) sont liés par des systèmes de correspondances serrés et intriqués qu’il faut des années pour connaître. Tout cela, c’est une manière de classer le matériel intérieur de façon à l’avoir instantanément à sa portée quand on en a besoin. Encore je ne parle que du « ton », de l’état affectif, de la « saveur » générale. Je n’ose pas parler d’idée : ça brûle. Mais, comme je disais, elles n’ont pas de patrie.


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