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La Grande beuverie
René Daumal – Diálogo laborioso sobre o poder das palavras (5)
Dialogue laborieux sur la puissance des mots et la faiblesse de la pensée V
terça-feira 1º de julho de 2025
Totochabo dizia:
— ... O mais cretino dos virtuosos, depois de alguns anos de exercício, consegue quebrar uma taça de cristal à distância, pela simples emissão da nota exata correspondente ao equilíbrio instável da matéria vítrea. Citam-se vários violinistas, não mais idiotas que outros, que faziam isso quase naturalmente. A dona da casa fica sempre muito orgulhosa de ter sacrificado à Arte, ou à Ciência, conforme o caso, a mais bela peça de sua cristaleira, uma lembrança de família, ainda por cima, ela fica tão radiante que esquece de brigar com seu filho que acaba de voltar da escola completamente bêbado, o filho persistirá no vício, reprovará nos exames, será obrigado a fazer comércio, ficará rico e respeitado, e toda essa cadeia de efeitos está suspensa a um som musical determinado, que pode ser expresso por um número. Esqueci de dizer que a palavra "Arte" é a única que as carpas são capazes de pronunciar. Eu continuo.
"Os físicos Chladni e Savart, ao fazer vibrar placas metálicas cobertas de areia fina, produziram figuras geométricas pelas linhas nodais separando as zonas de movimento. Ao empregar em vez de areia o pó de tornassol gomado, esses sábios — como são chamados, não sem razão —...
— A gente se cansou, de ver essas vitórias, gritou Johannes Kakur, um erudito gascão, avançando sobre Totochabo, o vinho tinto saindo de seus olhos; e ele colocou sob o nariz dele, com um punho furioso, alguns livros cheios de fichas e com margens rabiscadas de colorações multicoloridas.
— Mas não, meu pequeno homem, disse o velho docemente.
O erudito gascão, acalmado, soltou seus livros. Fui discretamente recolhê-los. Os nomes dos autores não me diziam grande coisa: Higgins, De la Rive, Faraday, Wheatstone, Rijke, Sondhaus, Kundt, Schaffgotsch. Havia também um volume de Hclinholtz avulso, que eu separei. Encontrei finalmente um Dictionnaire des rimes e uma Encyclopédie des Sciences occultes na qual me aprofundei, não sem beber depois de cada artigo, com as delícias que se sente sempre ao encontrar alguém mais tolo que a gente.


Ver online : DAUMAL, René. La grande beuverie. Éd. nouvelle ed. Paris: Gallimard, 1994
DAUMAL, René. La grande beuverie. Éd. nouvelle ed. Paris: Gallimard, 1994