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Henri Borel – Amor (2)
segunda-feira 26 de maio de 2025
BorelWW
És ainda como um rio, que conhece apenas suas margens luminosas, inconsciente da força que o move, mas que depois, inevitavelmente, fluirá para o grande mar. Por que sentimos aquele desejo de felicidade, de felicidade humana, que dura um instante e depois se vai?
Chuang Tzu disse:
’A suprema felicidade não é felicidade.’
Não achas repreensível e insensato que as pessoas caiam à mercê de uma vontade que vacila em busca de um instante de felicidade, que se esvai no mesmo instante? Não desjas a felicidade de uma mulher. Ela te revela o Tao. É a forma mais pura do Tao que se manifesta na totalidade da natureza. É a força gentil que acende o ritmo dentro de ti. Porém ela também precisa dele, como tu, e tu és para ela a mesma revelação que ela é para ti. Não penses que ela seja o Tao, e que por isso quererias unir-te a ela, como à coisa mais sagrada. Tu a repelirias, se ao final visses quem ela realmente é. Se realmente queres amar uma mulher, ama-a como amas a mísera criatura que és, e não busques nela a felicidade. Que consigas ou não vê-lo no Amor, sua natureza é o Tao. Um poeta vê uma mulher, e, emocionado pelo Ritmo, vê a beleza de sua Amada por toda parte, entre as árvores, as montanhas, os horizontes, porque a beleza da mulher é a mesma da natureza. É a forma do imenso Tao Sem-Forma, e o que tua alma deseja na emoção de vê-la, aquela vaga e estranha sensação que te invade, não é senão ser um só com aquela beleza e com o Tao, a essência dessa beleza. E o mesmo ocorre com tua esposa. Vós sois, um para o outro, dois anjos que mutuamente se guiam para o Tao, sem saber."
Fiquei em silêncio por um tempo, pensativo. Havia uma grande melancolia nas cores suaves e no silêncio da noite. No horizonte, onde o sol desaparecera, uma faixa de luz vermelha e fraca brilhava, como uma dor que se aplaca.

