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Henri Borel – Amor (2)

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És ainda como um   rio, que conhece apenas suas margens luminosas, inconsciente   da força que o move, mas que depois, inevitavelmente, fluirá para o grande mar  . Por que sentimos aquele desejo de felicidade  , de felicidade humana, que dura um instante e depois se vai?

Chuang Tzu disse:
’A suprema felicidade não é felicidade.’

Não achas repreensível e insensato que as pessoas caiam à mercê de uma vontade que vacila em busca   de um instante de felicidade, que se esvai no mesmo instante? Não desjas a felicidade de uma mulher  . Ela te revela o Tao. É a forma   mais pura do Tao que se manifesta na totalidade   da natureza  . É a força gentil que acende o ritmo dentro de ti. Porém ela também precisa dele, como tu, e tu és para ela a mesma revelação que ela é para ti. Não penses que ela seja o Tao, e que por isso quererias unir-te a ela, como à coisa mais sagrada. Tu a repelirias, se ao final visses quem ela realmente é. Se realmente queres amar uma mulher, ama-a como amas a mísera criatura que és, e não busques nela a felicidade. Que consigas ou não vê-lo no Amor  , sua natureza é o Tao. Um poeta vê uma mulher, e, emocionado pelo Ritmo, vê a beleza   de sua Amada por toda parte, entre as árvores, as montanhas, os horizontes, porque a beleza da mulher é a mesma da natureza. É a forma do imenso Tao Sem-Forma, e o que tua alma   deseja na emoção   de vê-la, aquela vaga e estranha sensação   que te invade, não é senão ser   um só com aquela beleza e com o Tao, a essência dessa beleza. E o mesmo ocorre com tua esposa  . Vós sois, um para o outro  , dois   anjos   que mutuamente se guiam para o Tao, sem saber."

Fiquei em silêncio por um tempo  , pensativo. Havia uma grande melancolia   nas cores suaves e no silêncio da noite  . No horizonte, onde o sol desaparecera, uma faixa de luz   vermelha e fraca brilhava, como uma dor   que se aplaca.

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