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René Daumal – Hinos e Preces do Veda
terça-feira 1º de julho de 2025
Diante dos hinos védicos, como diante dos antigos poemas babilônicos, hebraicos ou chineses, o pensamento comum - incluindo o de nossos maiores "pensadores" - deve abdicar. São poemas, criações, e o homem como somos não pode criar, não pode portanto compreender um verdadeiro poema. Sua origem, dizem os hindus, é "não-humana" (apaurusheya).
É preciso ter enfrentado esses hinos nos textos que possuímos e com as armas insuficientes da filologia védica, é preciso além disso ter se esquadrinhado profundamente a si mesmo diante dessas palavras cujo zumbido poderoso atinge os corações diretamente, esmagando nossas frágeis lógicas no caminho, é preciso, pobre Sherlock Holmes, ter se confessado vencido diante desses mistérios, para apreciar, em última análise, a humildade da tradução de Louis Renou. Acrescento que é preciso também, para lhe render homenagem, ter se envergonhado da impudência com a qual tantos outros, até agora, quiseram "explicar" os hinos védicos, semelhantes a astrônomos que, para melhor ver o Sol, tentassem iluminá-lo com velas. Louis Renou, ao que me parece, escolheu para cada palavra e para cada forma sintática, entre os diversos sentidos possíveis, aquele que é o menos inverossímil no estado atual da exegese védica. Seus predecessores fundavam suas traduções em ideias parciais, falsas. Ele não baseia a sua, de fato, em nenhuma teoria preconcebida (verdadeira ou falsa), e isso dará certamente ao público francês uma imagem menos mentirosa (não mais verdadeira) da poesia védica. Ignorar é apenas uma doença, nossa doença de todos; pretender saber é um crime. Aceitemos de bom grado esse mal menor, pois é pouco provável que se encontre antes de muito tempo um homem ao mesmo tempo capaz de compreender o pensamento do Veda (mas não seria mais um homem no sentido comum da palavra), e conhecendo suficientemente a linguagem védica e a língua francesa para nos dar uma tradução perfeita.
A escolha dos hinos traduzidos é boa, no sentido de mostrar a variedade de tom e de propósito dos milhares de poemas reunidos nos quatro livros dos Vedas. O que seria necessário agora, para apesar de tudo tentar penetrar melhor no pensamento do Veda, seriam traduções não mais horizontais, por assim dizer, mas verticais: em vez de traduzir um hino após outro, traduzir um hino, depois seus comentários mais autorizados (como os de Sâyana); depois as passagens dos brâhmana e das upanishads relativas a esse hino, com suas glosas e os comentários dessas glosas; e enfim os principais textos psicológicos, mitológicos, jurídicos etc., baseados na autoridade da palavra originária. Um tal trabalho poderia, ao menos, dar uma ideia do que representa para um hindu ortodoxo a autoridade do Veda.
(1939)


Ver online : DAUMAL, René. Essais et notes II. Les pouvoirs de la parole (1935-1943). Paris: Gallimard, 1993
DAUMAL, René. Essais et notes II. Les pouvoirs de la parole (1935-1943). Paris: Gallimard, 1993