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René Daumal – O Budismo, suas doutrinas e seus métodos
terça-feira 1º de julho de 2025
Seria apenas mais um livro sobre o budismo (Por Alexandra DAVID-NEEL, Paris, 1935) se sua autora não fosse budista, não tivesse vivido grande parte de sua vida em países budistas, e não tivesse publicado sobre sua longa permanência no Tibete quatro ou cinco livros cheios de vida, que este completa e esclarece.
Pensando e vivendo como budista, o que não impede, muito pelo contrário, um espírito crítico muito desenvolvido e uma boa cultura ocidental, a Sra. David-Neel nos mostra sobretudo o budismo como método, como arte de viver. É verdadeira toda doutrina útil à libertação; todo o resto é erro ou tempo perdido. O Buda o disse em termos aproximados, e nosso século teria grande necessidade que lho gritassem aos ouvidos. Seria preciso também bradar bem alto esta outra regra do budismo: ser para si mesmo sua própria lâmpada e não crer em nada que não se tenha experimentado; pois nossa ciência só aplica esta regra ao conhecimento dos objetos exteriores.
As doutrinas budistas, com suas bases comuns e divergências, explicam-se por esses princípios de utilidade superior e experiência direta. A Sra. David-Neel expõe com muita clareza o essencial, com uma preferência marcada e justificada pelas doutrinas do "Grande Veículo" que são adaptações do ensino budista às tradições sociais e religiosas dos países budistas do Norte.
Prosseguindo meu pensamento após a leitura do livro, dizia a mim mesmo que esses grandes princípios nada têm de especialmente budista; apenas nossa civilização os ignora. O budismo os herda da tradição hindu da qual se separou. Por que então não vamos buscá-los nas fontes brâmanes, em vez de procurá-los na heresia budista? É que a tradição hindu, por ser tradição, abarca todos os aspectos da vida; e, em particular, as idades, os ofícios, as cerimônias e instituições. Daí resulta que os textos do brâmanismo, por suas referências propriamente indianas, são de difícil acesso ao ocidental. Enquanto o budismo, ao se separar da vida social da Índia, encontrou uma expressão mais universal; ao menos na aparência, pois só volta a ser universal ao se integrar na vida cotidiana do indivíduo e da sociedade: a heresia budista torna-se então uma cultura tradicional, como no Tibete sob a forma do lamaísmo. A heresia é a mensageira da tradição: onde pousa, morre fecundando o germe de uma nova tradição.
Também é preciso — e isso é simplesmente tomar o budismo ao pé da letra — julgar os ensinamentos budistas por sua utilidade real. Do contrário, certas fórmulas podem ser de grande perigo. Assim, o desdém do budismo (ao menos o do Sul) pela vida social; e seu desprezo (ao menos teórico) pela antiga regra hindu das idades humanas, segundo a qual um homem só podia "retirar-se para a floresta" após ter experimentado toda uma vida humana normal e ter visto diante de si "os filhos de seus filhos". Assim também a fórmula da "não-realidade do eu" que realmente levou infelizes teosofistas à aniquilação moral e espiritual; fórmula tão bem corrigida porém por esta definição do nirvana citada pela Sra. David-Neel: "Nirvana significa a percepção da realidade tal como é, verdadeiramente, em si mesma. E quando, pelo efeito de uma mudança completa (’reviravolta’) de todos os métodos de operações mentais sobrevém a aquisição da compreensão de si mesmo (e por si mesmo), isso eu chamo de nirvana."
Um filósofo poderá lamentar que as doutrinas especulativas do budismo, com suas diferentes escolas cosmológicas e teológicas, não tenham sido expostas pela autora. Mas pouco importa, pois já o foram em muitos outros trabalhos e com razão a Sra. David-Neel quis nos falar da vida budista e não da "filosofia" budista (que aliás existe sobretudo em nossa imaginação de europeus).
O livro traz em apêndice numerosas citações traduzidas de textos páli, sânscritos, chineses e tibetanos; e algumas páginas, que se desejariam mais numerosas, sobre a seita Zen. Um patriarca dessa seita dizia:
"Buscar a iluminação separando-se deste mundo é tão absurdo quanto sair à procura de chifres de lebre." E: "Não penses no bem, não penses no mal, mas olha o que é, no momento presente, tua fisionomia originária, aquela que tinhas mesmo antes de nascer."
Por si só, esta última citação é um tesouro. Um tesouro difícil de administrar.
(1936.)


Ver online : DAUMAL, René. Essais et notes II. Les pouvoirs de la parole (1935-1943). Paris: Gallimard, 1993
DAUMAL, René. Essais et notes II. Les pouvoirs de la parole (1935-1943). Paris: Gallimard, 1993