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Henri Borel – Amor (3)

segunda-feira 26 de maio de 2025

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"O que significa essa tristeza difusa por toda a natureza? — perguntei. Não é toda a Terra que geme de dor no crepúsculo? E chora, com cores languidas, com os topos curvados das árvores, com as montanhas vigilantes. Quando a natureza sofredora brilha diante de seus olhos, os humanos são tomados por uma dor maravilhosa.

É como se a própria natureza expressasse seu desejo de Amor. E tudo se torna nostalgia, os mares, as montanhas, as nuvens."

E o Sábio disse: "É a mesma dor que se sente nos corações humanos. Teu desejo agita também a natureza. A melancolia da noite é a nostalgia que sentes em tua alma. É tua alma que perdeu seu Amor, o Tao, com o qual outrora era um só. E agora não quer senão fundir-se com sua Amada. Aquele fluir totalmente no Tao, aquele sentir-se um só com teu Amor, aquele senso de pertencimento, tão infinito que nenhuma morte e nenhuma vida poderá romper sua unidade, tão inabalável e puro que não sentes mais nenhum desejo agitar-se em ti, porque a perfeita bem-aventurança foi alcançada e é a paz total, única, sagrada, serena, imperturbável, não é esse o amor infinito?

Porque só o Tao é o eterno, puro e infinito, e a essência da alma. Não é mais puro que o amor por uma mulher, aquele amor pobre e triste, no qual cada dia vês a vida pura da alma, contaminada por uma paixão obscura e mortal?

Só quando te uniste ao Tao, dura para sempre a conexão, a união perfeita com a alma de teu Amor, e com a alma de todas as pessoas que foram teus irmãos, e com a alma da Natureza.

E aqueles raros momentos de felicidade, que todos os amantes na Terra sentem por um instante, não são nada comparados à alegria infinita, na qual as almas de todos os amantes se perdem uma na outra, e se tornam um só ser infinito de candida pureza."

Foi para mim a luz de um horizonte de felicidade para minha alma, que ia além do instável horizonte do mar, mais alto que o Céu.

"Pai — disse em lágrimas — havia tanta sacralidade, e eu não estava consciente? Desejei tanto, e tanto chorei que não tinha mais lágrimas, e meu peito ofegante tremia de medo. Sim, eu tive muito medo. Pensei que morreria. Não acreditava que pudesse estar bem, porque ao meu redor via tanto sofrimento. Pensei que estivesse condenado para sempre àquelas paixões selvagens, aquele desejo físico ardente que enfurecia em mim, e que eu detestava, e ao qual, como um covarde, tive que me render. O medo paralisava minha respiração, enquanto pensava no corpo frágil de minha mulher, indefeso, absorvido na terra fria. Pensei que nunca mais sentiria a calma bem-aventurança de olhar em seus olhos, aqueles olhos nos quais brilhava sua alma luminosa. E estava realmente, sempre presente, em mim, como um bom pastor, o Tao, e era o Tao a luz que brilhava em seus olhos? Estava realmente em toda parte, ao meu redor, no céu, nas árvores, no mar? A essência do Céu e da Terra é então a essência de minha Amada e de minha alma? Havia então em mim um desejo ardente que eu não conhecia, e que me tornava inquieto? Eu pensava que queria tirar-me meu Amor, e que não amaria mais.

Mas era realmente o ritmo que movia também minha Amada, aquele mesmo ritmo que dá respiro a todo o mundo natural, e no qual os sóis e planetas se movem luminosos através do infinito? Então tudo é sagrado, e o Tao está em tudo, e também em minha alma. Oh! Pai, tudo se torna tão leve em mim. Creio que minha alma já intui o que será, como também o Céu acima de nós, e o grande mar. Olha com quanto cuidado as árvores nos rodeiam, e observa com terna devoção as linhas das montanhas. Toda a natureza vibra de sacralidade, e também minha alma agora treme de bem-aventurança, porque viu seu Amor."

Por muito tempo fiquei em silêncio, tacitamente esquecido. Sentia-me um só com a alma de meu Mestre e com a Natureza. Não via nem sentia mais nada, e sem desejos e sem vontade alguma, estava em profunda paz.

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