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Fernando Pessoa – três ordens de coisas
sábado 28 de junho de 2025
Way of the Serpent.
Há em tudo trez ordens de coisas: ha trez ordens de cousas no Ser, trez ordens de cousas no Universo, trez ordens de cousas no Mundo, e assim por deante. Tudo é triplo, mas o triplo ser de cada cousa consiste em trez graus ou camadas, um baixo, outro medio, outro alto. Tudo que se dá numa camada se reflecte e figura em outra. É este o principio fundamental de toda a sciencia secreta, e assim o representou o Hermes Trismegistos na formula, «o que está em cima é como o que está em baixo, e o que está em baixo é como o que está em cima».
Devidamente entendida, esta formula explica muita cousa. Assim, na astrologia, parece a principio estranho que a posição dos astros no nascimento de um homem, ou no inicio de um emprehendimento, mostre, em suas relações e aspectos, o destino d’esse homem ou o curso d’esse emprehendimento. Não são porém os astros que operam sobre o homem ou o successo. Opera sobre elles um destino, e esse destino, que existe como força espiritual numa camada superior, encontra-se representado material, ou mundanamente, nos astros. Quando digo que devo tal successo de minha vida a tal aspecto de Saturno, digo, ao mesmo tempo, bem e mal. Digo bem porque, de facto, seguindo a leitura do horoscopo, posso prever esse successo pela previsão do aspecto de Saturno, que apparentemente o causa. Não é porém o planeta Saturno que materialmente o causa: é o que o planeta Saturno representa, no mundo material, que causa o successo.
Para os effeitos do mundo em que vivemos — não digo a terra, mas o conjunto de matéria animada que forma este universo — as coisas dividem-se em trez camadas — a material, a espiritual, e a divina. Entre ellas ha uma exacta correspondência. Cada uma, por sua vez, se divide em trez. A camada material divide-se na camada physica ou exterior, na camada magnética ou media, e na camada astral ou interior. A camada espiritual divide-se [1] (Esp. 54A-7)


CENTENO, Y. K.. Fernando Pessoa e a filosofia hermética. Fragmentos do espólio. Lisboa: Editorial Presença, 1985.
[1] Incompleto no original.