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L’être et le neutre: à partir de Maurice Blanchot

Zarader – Blanchot, uma abordagem fenomenológica

quarta-feira 2 de julho de 2025

Para que esta demanda tenha alguma chance de sucesso, é preciso ainda dispor de um método apropriado. Daí a segunda decisão interpretativa: ela consiste em suspender essa avaliação filosófica da obra a um critério estritamente fenomenológico. Convém explicar-se. É evidente que Blanchot Blanchot Maurice Blanchot (1907-2003) não se reivindica diretamente da fenomenologia, corrente de pensamento da qual, aliás, tem apenas um conhecimento fragmentário. Mas a questão não é essa: é antes saber se o pensamento que ele implementa se presta, ou não, a uma investigação desse tipo. Ora, ele faz mais do que se prestar a isso: ele a exige imperativamente. Toda a meditação de Blanchot Blanchot Maurice Blanchot (1907-2003) , tomando sua origem em uma experiência, não tem outra ambição senão a de permanecer escrupulosamente fiel ao que, nela, é puramente vivido. De fato, só se poderá decidir sobre a legitimidade do que ele propõe ao pensamento na condição de se retornar a essa experiência e de interrogá-la segundo procedimentos rigorosos. Mas isso significa que o método aqui requerido, tanto pelo texto de Blanchot Blanchot Maurice Blanchot (1907-2003) quanto pela questão que ele assume, é aquele que nos foi legado pela fenomenologia: orientada para a própria coisa — uma vez reduzida ao que ela é nos atos em que a experimento -, ela se propõe a descrever, sem ultrapassá-lo, o «dado absoluto» que é o fenômeno assim conquistado, e a manifestar o que seu próprio modo de fenomenalidade requer. Interrogar o texto à luz de tal método equivale a perguntar: 1. Se o que ele qualifica de experiência efetivamente suporta esse nome; 2. Se ele a descreve efetivamente como ela se apresenta; 3. Supondo que ele seja levado a ultrapassá-la, esse ultrapassamento é fundamentado nela e pode-se, em consequência, dizê-lo fenomenologicamente legítimo?

Tal seria, no mínimo, o procedimento possível, se se tratasse apenas de interrogar um vivido entre outros. Mas, devido à extrema especificidade da experiência exibida por Blanchot Blanchot Maurice Blanchot (1907-2003) , essa série de questões não pode deixar de se desdobrar. Bastaria, de fato, que fosse possível, como ele afirma, experimentar uma pura «noite» — que a noção não fosse contraditória — para que não se pudesse dispensar um questionamento em retorno, orientado desta vez sobre a própria fenomenologia: se o que é descrito por Blanchot Blanchot Maurice Blanchot (1907-2003) se apresenta efetivamente em uma experiência, não seria preciso, para dar conta dessa possibilidade, redefinir a própria noção de experiência, e isso não correria o risco de abalar os conceitos diretores da fenomenologia?

Daí o duplo aspecto do trabalho que será conduzido nas páginas seguintes. Trata-se, sem dúvida, de considerar o que o texto de Blanchot Blanchot Maurice Blanchot (1907-2003) propõe ao pensamento e, para isso, de medir sua validade à luz da fenomenologia. Mas, se se verificar que ele permanece ordenado a um dado originário — embora este se exclua do que a fenomenologia considera o quadro obrigatório de toda doação -, então não se poderá evitar de avaliar os conceitos fenomenológicos à luz desse mesmo texto. Isso significa que o método fenomenológico permitirá interrogar o texto de Blanchot Blanchot Maurice Blanchot (1907-2003) enquanto esse texto, em retorno, permitirá medir o que poderia permanecer de infidelidade ao fenômeno (a título de pressupostos ininterrogados ou de escolhas hermenêuticas) nas próprias doutrinas fenomenológicas.

Uma objeção parece, contudo, apresentar-se. Dir-se-á que é interrogar Blanchot Blanchot Maurice Blanchot (1907-2003) de um lugar inadequado: «presumindo que ele pode ser abordado como fenomenólogo, o que sempre prescreve o Eu, que Blanchot Blanchot Maurice Blanchot (1907-2003) exclui». Mas é preciso medir tudo o que implica a referência blanchotiana à experiência. A «noite» — e o fora de que ela testemunha — não tem outra existência senão a «vivida». Recusa-se esse recurso ao puro vivido (ao direito que ele tem de se fazer reconhecer como tal), e a noite perde toda consistência: não podendo mais levantar questão, torna-se simples peripécia psicológica. Desde então, é verdade que Blanchot Blanchot Maurice Blanchot (1907-2003) exclui o Eu, mas o exclui mantendo-se dentro de um pensamento que o prescreve. A aporia — real — não vem aqui do fato de se impor a Blanchot Blanchot Maurice Blanchot (1907-2003) uma perspectiva que não é a sua, ela é inerente à sua própria perspectiva: sua obra só tem sentido (e força) se recolocada em um solo fenomenológico do qual, ao mesmo tempo, ela quer se extrair. É preciso que a noite permaneça uma experiência, mas, para que esta seja extrema (como deve ser para ser «a noite»), é preciso que não haja mais ninguém para vivê-la. Se não se recoloca esse discurso no solo da experiência (ou da prova, do vivido, etc.), sem dúvida se o faz escapar à aporia, mas também se lhe retira o direito que era seu, a única autoridade da qual ele podia se reivindicar — e da qual, de fato, ele se reivindica, mesmo que não exiba o título.

O confronto entre Blanchot Blanchot Maurice Blanchot (1907-2003) e a fenomenologia pode assim permitir decidir sobre o neutro. Embora este último vocábulo se desdobre em um registro especulativo (em oposição ao ser), Blanchot Blanchot Maurice Blanchot (1907-2003) o conquistou ao termo do que ele persiste em definir como uma experiência. Ao propô-lo ao pensamento, ele não pretende senão permanecer «fiel» à pura «prova» da noite. Em consequência, não há outro meio de decidir sobre o neutro senão refletir sobre o que se reserva nessa prova. Ou a descrição eidética da experiência-limite conduz efetivamente, sem solução de continuidade, à «ontologia» do neutro e, nesse caso, são todos os disfarces deste, mesmo os realizados pela fenomenologia, que aparecerão como desvios da fenomenalidade própria dessa experiência. Ou essa mesma descrição não conduz ao neutro e, nesse caso, restará mostrar que ela não pode fazê-lo e por que não pode fazê-lo, ou seja, restará identificar o ponto exato onde Blanchot Blanchot Maurice Blanchot (1907-2003) se mostraria infiel ao fenômeno que ele exibe e ao qual dedicou sua obra.

Tratar Blanchot Blanchot Maurice Blanchot (1907-2003) como pensador — abrir o debate sobre a questão por ele levantada, e sobre a resposta que ele lhe dá — equivale assim a enfrentar um duplo risco. O risco de que seu pensamento, filosoficamente interrogado, não consiga se justificar, que se mostre inconsistente ou irresponsável. Mas também o risco inverso: que, ao se justificar, ele não ponha em perigo a filosofia que pretendia avaliá-lo. A menos que essa alternativa se revele finalmente ilusória, e que seja preciso distinguir, na própria obra de Blanchot Blanchot Maurice Blanchot (1907-2003) , uma dimensão que «resiste» de outra que não pode fazê-lo. Se tal fosse o caso, essa obra teria cumprido plenamente seu papel de «instrumento pedagógico», permitindo separar, mais amplamente, o que é da alçada de um pensamento possível e o que não pode sê-lo.


Ver online : Marlène Zarader


ZARADER, Marlène. L’être et le neutre: à partir de Maurice Blanchot. Lagrasse: Éd. Verdier, 2001.