Creio sinceramente que as relações que cada um mantém com o dinheiro são tão fundamentais e correspondem tanto à sua personalidade quanto aquelas que tem com o sexo, Deus, a morte etc. Por exemplo, quem viu dia após dia seus pais se enfrentarem em discussões sórdidas em torno de uma carteira vazia guardará feridas psicológicas que poderão influenciá-lo por toda a vida. Muitas vezes fará fortuna, direcionando - sem sequer perceber - todos seus atos para a acumulação de dinheiro.
Demos então (…)
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Ditados
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Tournier (Célébrations) – O dinheiro
28 de junho, por Murilo Cardoso de Castro -
Tournier (Célébrations) – A alma do vinho
28 de junho, por Murilo Cardoso de CastroEntre Dionísio e Jesus, a videira lança uma ponte frágil e frutífera. O vinho, estranho símbolo da civilização mediterrânea, confunde insolentemente a folia e o sagrado. De um lado Baco e seu cortejo de bêbados alegres como os pintou Rubens, do outro as Bodas de Caná e o cálice da Última Ceia.
Se a França é chamada de "filha primogênita da Igreja", deve-o antes de tudo a seus vinhos. É o único país do mundo onde se tem certeza de encontrar garrafas honradas até nas mais modestas mercearias (…) -
Tournier (Célébrations) – Diálogo do insípido e do temperado
28 de junho, por Murilo Cardoso de CastroConvém começar pelo começo. Quem já teve a tarefa de alimentar crianças pequenas sabe como é difícil fazê-las abandonar uma certa insipidez fundamental para elas. Para os bem pequenos, a chave é fácil de encontrar: o leite. Leite puro, sem qualquer acréscimo. Passar daí para o iogurte e a infinita variedade dos queijos não é tarefa simples. Melhor começar com purê de batata e peito de frango. Qualquer avanço no campo dos sabores mais acentuados provoca recusa veemente (eca!). Nada menos (…)
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Tournier (Célébrations) – Atavismo
28 de junho, por Murilo Cardoso de CastroAtavismo. Que bela palavra! Bem construída, musical, fácil de pronunciar, agradável aos ouvidos, estranha sem ser bizarra, científica sem parecer pedante. Devemos-lha ao botânico holandês Hugo De Vries (1848-1935) que descobriu e estudou as mutações. Forma-se a partir do radical latino atavi (tetravós), o que na verdade é apenas uma sinédoque, pois evoca uma multidão de outros ancestrais. Seu significado não parece ser apreciado em seu justo valor, que é considerável. Para os criadores, como (…)
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Tournier (Célébrations) – Filosofia do sono
28 de junho, por Murilo Cardoso de CastroFilho da noite e do sono, o pequeno deus dos sonhos chama-se Morfeu. Representam-no com asas de borboleta e um ramo de papoulas na mão. Tem uma filha natural chamada Morfina, capaz do melhor e do pior. É preciso que nos interessemos por ele, já que reina sobre um terço de nossa vida.
Em 1962, o professor Michel Jouvet realizou trabalhos inovadores com suas pesquisas sobre o "sono paradoxal" e os estados de vigília. O sono paradoxal corresponde aos períodos de sonho. O "paradoxo" consiste (…) -
Tournier (Célébrations) – Deciframento da serpente
28 de junho, por Murilo Cardoso de CastroO deserto é seu reino, como a aridez é seu clima. Para lá ele conduziu Adão e Eva depois de os fazer perder o Paraíso. Falava-lhes nos ramos da árvore do Bem e do Mal, como Deus falaria mais tarde a Moisés do centro de uma sarça ardente. De que lhes falava ele? Como Deus a Moisés, do bem e do mal. Mas chamando bem ao mal e mal ao bem.
Pois a inversão maligna define seu modo de agir habitual. Assim como o amor. Há dois tipos de serpentes, as venenosas e as constritoras. As venenosas matam (…) -
Tournier (Célébrations) – Prefácio
28 de junho, por Murilo Cardoso de CastroAtravés de sua aparente disparidade, esses oitenta e cinco textículos têm em comum uma certa visão de mundo. É aquela que Théophile Gautier reivindicava quando declarava: "Sou um homem para quem o mundo exterior existe." Notemos que o autor de Émaux et Camées inaugura uma família de poetas decididamente extrovertidos, primários, solares, espetaculares, que se chamam Leconte de Lisle, Heredia, Mallarmé, Valéry, Saint-John Perse. Aqui o espaço prevalece sobre o tempo. O olho comanda sozinho. (…)
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Guimarães Rosa (GSV) – Paciência de velho tem muito valor
28 de junho, por Murilo Cardoso de CastroMas, no vir de cimas desse morro, do Tebá — quero dizer: Morro dos Ofícios — redescendo, demos com o velho, na porta da choupã dele mesmo. Homem no sistema de quase-dôido, que falava no tempo do Bom Imperador. Baiano, barba de piassaba; goiano-baiano. O pobre, que não tinha as três espigas de milho em seu paiol. Meio sarará. A barba, de capinzal sujo; e os cabelos dele eram uma ventania. Perguntei uma coisa, que ele não caprichou de entender, e o catrumano Teofrásio, que já queria se mostrar (…)
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Jonathan Swift – advogados
27 de junho, por Murilo Cardoso de CastroDisse: "Havia entre nós uma sociedade de homens, criados desde a juventude na arte de provar, por meio de palavras multiplicadas para o fim, que branco é preto, e preto é branco, conforme são pagos. A essa sociedade todos os demais são escravos. Por exemplo, se meu vizinho cobiça minha vaca, contrata um advogado para provar que deve tirar minha vaca de mim. Devo então contratar outro para defender meu direito, sendo contra todas as regras da lei que alguém possa falar por si mesmo. Agora, (…)
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Jonathan Swift – mentir
27 de junho, por Murilo Cardoso de CastroMeu mestre me ouviu com grande aparência de inquietação no semblante; pois duvidar ou não acreditar são coisas tão pouco conhecidas neste país, que os habitantes não sabem como se comportar em tais circunstâncias. E lembro-me de que, em frequentes diálogos com meu mestre sobre a natureza da humanidade em outras partes do mundo, tendo ocasião de falar sobre mentiras e falsas representações, foi com grande dificuldade que ele compreendeu o que eu queria dizer, embora tivesse, de outro modo, um (…)