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Tournier (Célébrations) – Filosofia do sono
sábado 28 de junho de 2025
Filho da noite e do sono, o pequeno deus dos sonhos chama-se Morfeu. Representam-no com asas de borboleta e um ramo de papoulas na mão. Tem uma filha natural chamada Morfina, capaz do melhor e do pior. É preciso que nos interessemos por ele, já que reina sobre um terço de nossa vida.
Em 1962, o professor Michel Jouvet realizou trabalhos inovadores com suas pesquisas sobre o "sono paradoxal" e os estados de vigília. O sono paradoxal corresponde aos períodos de sonho. O "paradoxo" consiste em uma atonia muscular que imobiliza o sujeito, acompanhada por um aumento do ritmo cardíaco e movimentos oculares rápidos. É a imagem de um homem cujo corpo estaria preso em alguma armadilha mecânica ou química, enquanto seu cérebro se debateria furiosamente com um turbilhão de fantasias nessa prisão de carne e osso.
O sonho só se distingue da vigília por sua incoerência. Um mundo tão absurdo não pode ser senão ilusão! Mas suponha que, ao adormecer todas as noites, você retomasse o fio de outra vida perfeitamente ordenada, que teria deixado ao acordar de manhã. A partir de então, você teria duas vidas paralelas, tão reais uma quanto a outra. É surpreendente que nenhum romancista tenha ainda tido a ideia de contar o caso do homem de vida dupla.
Mas o verdadeiro sono dispensa sonhos. Henri Bergson, é verdade, ensinava que todo sono inclui sonhos, mas que, ao despertar, só nos lembramos dos mais superficiais. Isso nunca pôde ser verificado. O sono puro, livre de toda fantasmagoria, repousa sem dúvida melhor que o sono paradoxal. Repousa tão bem que se assemelha a uma pequena morte. "Viver é uma doença da qual o sono nos alivia a cada dezesseis horas. É um paliativo. A morte é o remédio" (Chamfort). O célebre poema de Rimbaud Rimbaud Jean Nicolas Arthur Rimbaud (1854-1891) nos ensinou a buscar o verdadeiro morto no falso "dormidor do vale".
Mas essa visão peca por excesso de negritude. Na verdade, o dormidor vive à sua maneira, e muitas vezes vive bem. O sono é uma forma de felicidade. Há uma volúpia muscular intensa nas mudanças de posição do dormidor ao longo da noite. Pois a maioria dos dormidores se move muito. Adotam sucessivamente quatro posições que têm significados bem diferentes.
O dormidor dorsal tem o rosto voltado para o céu. É um jacente que repousa piedosamente na fé e na esperança, com as mãos unidas sobre o ventre.
Há duas posições laterais, conforme se repousa sobre o lado direito ou o lado esquerdo, ou seja, o lado do coração. A postura "en chien de fusil", com os joelhos recolhidos ao peito, reproduz a posição fetal, pré-natal. Faz da cama o simulacro de um ventre materno. O despertar e o salto da cama são o nascimento com suas asperezas.
Na posição ventral, o dormidor parece buscar a proteção da terra. É a posição do soldado sob metralha. Discute-se de ambos os lados do Atlântico se convém deitar os bebês de costas (à moda europeia) ou de bruços (à moda americana). Está comprovado que as mortes súbitas de bebês são mais frequentes na posição ventral. Notemos, por fim, que, devido à maleabilidade do crânio dos bebês, fabricam-se crânios redondos (braquicéfalos) ao deitá-los de costas, e crânios ovais (dolicocéfalos) ao deitá-los de bruços, com a cabeça necessariamente voltada para a direita ou a esquerda.
Aristipo de Cirene entendia de posições deitadas. Diógenes o chamava de "o cão real" devido à sua arte de lisonjear os tiranos. Ele respondia: "É minha culpa se eles têm os ouvidos nos pés?" Dizia também: "Antes de sair da cama, pergunte a si mesmo sete vezes se é útil aos deuses, ao mundo e a ti mesmo que te levantes."


TOURNIER, Michel. Célébrations. Paris: Mercure de France, 1999