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Tournier (Célébrations) – O dinheiro
sábado 28 de junho de 2025
Creio sinceramente que as relações que cada um mantém com o dinheiro são tão fundamentais e correspondem tanto à sua personalidade quanto aquelas que tem com o sexo, Deus, a morte etc. Por exemplo, quem viu dia após dia seus pais se enfrentarem em discussões sórdidas em torno de uma carteira vazia guardará feridas psicológicas que poderão influenciá-lo por toda a vida. Muitas vezes fará fortuna, direcionando - sem sequer perceber - todos seus atos para a acumulação de dinheiro.
Demos então o exemplo da confissão financeira. Represento sem dúvida o caso exatamente oposto ao anterior. Meu pai não tinha fortuna familiar, mas ganhava muito bem a vida. Resultado: nunca ouvi falar de "dinheiro" em casa. A não ser neste princípio - uma das poucas lições que meu pai me deu: quando se tem dinheiro, gasta-se. Quando não se tem mais, ganha-se.
Tinha sete anos quando todos falavam do sequestro do filho de Charles Lindbergh (1932). Acabei perguntando ao meu pai: "Se bandidos me sequestrassem, quanto darias para me recuperar?" Ele fingiu absorver-se em um cálculo mental e finalmente disse: "Talvez chegasse a cinquenta francos, mas nem um centavo a mais!" A quantia me pareceu enorme e fiquei penetrado ao mesmo tempo da generosidade de meu pai e de meu próprio valor. Infelizmente minha mãe estragou tudo ao dizer: "Teu pai brinca. Podes crer que daria tudo o que possui para te recuperar!" Essas palavras me chocaram. Achei-as excessivas, passionais e, no fundo, inquietantes. Via-me como possível causa da ruína de toda a família. Decididamente, as mulheres mostravam-se imprevisíveis!
Enquanto isso, ainda não tenho nenhum senso de dinheiro. Devo ganhar o suficiente para nunca pensar nele. O que mais pedir? Se interrogo minhas lembranças, percebo que, durante anos, vivi na mais extrema pobreza. Nem sequer notei.
Quanto ao "padrão de vida", como se dizia, estou bastante em harmonia com meu tempo. O desaparecimento dos "domésticos" me parece uma boa coisa. Teria horror em tê-los. A verdadeira liberdade consiste em fazer tudo sozinho. Creio, por outro lado, que teria gostado de ser um criado muito estiloso em uma vasta mansão aristocrática. Ser testemunha de tudo sem que ninguém notasse, por não fazer parte da "sociedade". Quando os convidados e os donos riem de uma piada, o rosto do criado deve permanecer de gelo. Um sorriso de sua parte é uma falha profissional grosseira. A dona da casa o recebe montada em sua bacia. Ele não é um homem. No fundo, devo ter alma de lacaio.
Tenho pena dos que têm respeito sacrossanto pelo dinheiro. Desprezo os que têm medo ou o odeiam. Há uma afinidade profunda entre dinheiro e sexo. Dar dinheiro a um(a) parceiro(a) sexual é o gesto mais natural e sem dúvida mais arcaico do mundo. Era a Mœgengabe dos antigos germânicos. Leia o capítulo "Casamento" do Código Civil. Lá só se fala rigorosamente de dinheiro. A diferença de sexos não faz parte das condições do casamento, de modo que os casamentos homossexuais são perfeitamente legais. O ódio ao dinheiro não passa do disfarce do ódio ao sexo. A equação sexo = dinheiro é fonte de grandes satisfações. Quem dá dinheiro assegura uma espécie de domínio sobre o corpo e a alma de quem o recebe. "Bolsa: 1. Pequeno saco de dinheiro. 2. Envoltório dos testículos" (Larousse).
Mas é preciso falar do ouro, e aqui tudo muda para mim. Para ser completo, devo contar a história do meu lingote.


TOURNIER, Michel. Célébrations. Paris: Mercure de France, 1999