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Jonathan Swift – mentir

sexta-feira 27 de junho de 2025

Meu mestre me ouviu com grande aparência de inquietação no semblante; pois duvidar ou não acreditar são coisas tão pouco conhecidas neste país, que os habitantes não sabem como se comportar em tais circunstâncias. E lembro-me de que, em frequentes diálogos com meu mestre sobre a natureza da humanidade em outras partes do mundo, tendo ocasião de falar sobre mentiras e falsas representações, foi com grande dificuldade que ele compreendeu o que eu queria dizer, embora tivesse, de outro modo, um julgamento muito apurado. Pois ele argumentava assim: “que o uso da fala era para que nos entendêssemos uns aos outros e para receber informações sobre fatos; agora, se alguém dissesse aquilo que não é, esses propósitos seriam derrotados, pois não se pode propriamente dizer que eu o entendi; e estou tão longe de receber informação, que fico pior do que na ignorância; pois sou levado a acreditar que algo é preto quando é branco, e curto quando é longo.” E estas eram todas as noções que ele tinha sobre essa faculdade de mentir, tão perfeitamente bem compreendida e tão universalmente praticada entre as criaturas humanas.


Gulliver’s Travels (1726). Delphi Complete Works of Jonathan Swift