8. João Guimarães Rosa nos legou Sagarana, algo grande e à maneira de saga, isto é, grande e à maneira de lógos, a forma dizedora, mostradora – o sentido antecipador-instaurador. Este mesmo Rosa, para dizer história, no sentido grande e imediato de dar-se, acontecer, fala, em algum lugar, de acontecências. Grande, que se vem usando acima, não quer dizer de tamanho maior, nada enorme quantitativa e mensuravelmente, nada ‘grandão’ ou agigantado, mas, sim, [30] está apontando para a dimensão do (…)
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Guimarães Rosa
Guimarães Rosa (1908-1967)
Matérias
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Gilvan Fogel – estórias (Guimarães Rosa)
5 de julho, por Murilo Cardoso de Castro -
Guimarães Rosa (Tutaméia) – a estória não quer ser história
28 de junho, por Murilo Cardoso de CastroA estória não quer ser história. A estória, em rigor, deve ser contra a História. A estória, às vezes, quer-se um pouco parecida à anedota.
A anedota, pela etimologia e para a finalidade, requer fechado ineditismo. Uma anedota é como um fósforo: riscado, deflagrada, foi-se a serventia. Mas sirva talvez ainda a outro emprego a já usada, qual mão de indução ou por exemplo instrumento de análise, nos tratos da poesia e da transcendência. Nem será sem razão que a palavra “graça” guarde (…) -
Guimarães Rosa (GSV:) – esta vida está cheia de ocultos caminhos
23 de julho de 2024, por Murilo Cardoso de CastroEsta vida está cheia de ocultos caminhos. Se o senhor souber, sabe; não sabendo, não me entenderá. Ao que, por outra, ainda um exemplo lhe dou. O que há, que se diz e se faz — que qualquer um vira brabo corajoso, se puder comer cru o coração de uma onça pintada. É, mas, a onça, a pessoa mesma é quem carece de matar; mas matar à mão curta, a ponta de faca! Pois, então, por aí se vê, eu já vi: um sujeito medroso, que tem muito medo natural de onça, mas que tanto quer se transformar em jagunço (…)
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Guimarães Rosa (GSV) – O senhor vê aonde é o sertão?
23 de julho de 2024, por Murilo Cardoso de CastroO senhor nonada conhece de mim; sabe o muito ou o pouco? O Urucúia é ázigo… Vida vencida de um, caminhos todos para trás, é história que instrui vida do senhor, algum? O senhor enche uma caderneta… O senhor vê aonde é o sertão? Beira dele, meio dele?… Tudo sai é mesmo de escuros buracos, tirante o que vem do Céu. Eu sei.
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Guimarães Rosa (GSV) – O grande-sertão é a forte arma
23 de julho de 2024, por Murilo Cardoso de CastroE nisto, que conto ao senhor, se vê o sertão do mundo. Que Deus existe, sim, devagarinho, depressa. Ele existe — mas quase só por intermédio da ação das pessoas: de bons e maus. Coisas imensas no mundo. O grande-sertão é a forte arma. Deus é um gatilho?
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Guimarães Rosa (GSV) – Rebulir com o sertão, como dono?
23 de julho de 2024, por Murilo Cardoso de CastroRebulir com o sertão, como dono? Mas o sertão era para, aos poucos e poucos, se ir obedecendo a ele; não era para à força se compor. Todos que malmontam no sertão só alcançam de reger em rédea por uns trechos; que sorrateiro o sertão vai virando tigre debaixo da sela. Eu sabia, eu via. Eu disse: nãozão! Me desinduzi.
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Guimarães Rosa (GSV) – Paciência de velho tem muito valor
28 de junho, por Murilo Cardoso de CastroMas, no vir de cimas desse morro, do Tebá — quero dizer: Morro dos Ofícios — redescendo, demos com o velho, na porta da choupã dele mesmo. Homem no sistema de quase-dôido, que falava no tempo do Bom Imperador. Baiano, barba de piassaba; goiano-baiano. O pobre, que não tinha as três espigas de milho em seu paiol. Meio sarará. A barba, de capinzal sujo; e os cabelos dele eram uma ventania. Perguntei uma coisa, que ele não caprichou de entender, e o catrumano Teofrásio, que já queria se mostrar (…)
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Guimarães Rosa (GSV) – obedecer do amor
23 de julho de 2024, por Murilo Cardoso de CastroO nome de Diadorim, que eu tinha falado, permaneceu em mim. Me abracei com ele. Mel se sente é todo lambente — “Diadorim, meu amor…” Como era que eu podia dizer aquilo? Explico ao senhor: como se drede fosse para eu não ter vergonha maior, o pensamento dele que em mim escorreu figurava diferente, um Diadorim assim meio singular, por fantasma, apartado completo do viver comum, desmisturado de todos, de todas as outras pessoas — como quando a chuva entre-onde-os-campos. Um Diadorim só para (…)
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Guimarães Rosa (GSV): Sertão que se alteia e se abaixa
23 de julho de 2024, por Murilo Cardoso de CastroE piorou um tico o tempo, em Minas entramos, serra-acima, com os cavalos esticados. Aí o truvisco; e buzegava. O ladeirão, ruim rampa, mas pegamos a ponta da chapada. Foi ver, que com o vento nas orêlhas, o vento que não varêia de músicas. Tudo consabia bem, isto sim, digo; no remedido do trivial, espaço de chuva, a gente em avanço por esses tabuleiros: fazia rio, por debaixo, entre as pernas de meu cavalo. Sertão velho de idades. Porque — serra pede serra — e dessas, altas, é que o senhor (…)
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Guimarães Rosa (GSV) – alma não é vendível
23 de julho de 2024, por Murilo Cardoso de CastroAgora, bem: não queria tocar nisso mais — de o Tinhoso; chega. Mas tem um porém: pergunto: o senhor acredita, acha fio de verdade nessa parlanda, de com o demônio se poder tratar pacto? Não, não é não? Sei que não há. Falava das favas. Mas gosto de toda boa confirmação. Vender sua própria alma… Invencionice falsa! E, alma, o que é? Alma tem de ser coisa interna supremada, muito mais do de dentro, e é só, do que um se pensa: ah, alma absoluta! Decisão de vender alma é afoitez vadia, (…)
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Notas
- Gilvan Fogel – à toa muito ativo (Guimarães Rosa)
- Gilvan Fogel – colossalidade (Guimarães Rosa)
- Gilvan Fogel – desafã (Guimarães Rosa)
- Gilvan Fogel – milagre (Guimarães Rosa)
- Gilvan Fogel – o aprender
- Gilvan Fogel – queda e travessia (Guimarães Rosa)
- Gilvan Fogel – Riobaldo é o sertão (Guimarães Rosa)
- Guimarães Rosa (ABL) – morte
- Guimarães Rosa (Ave Palavra) – mineiridade
- Guimarães Rosa (Entrevista) – gênio
- Guimarães Rosa (GSV) – A gente vive não é caminhando de costas?
- Guimarães Rosa (GSV) – ações?
- Guimarães Rosa (GSV) – coragem
- Guimarães Rosa (GSV) – Eu conto; o senhor me ponha ponto
- Guimarães Rosa (GSV) – largar ido meu sentimento
- Guimarães Rosa (GSV) – não deixa o diabo te pôr sela
- Guimarães Rosa (GSV) – Nhorinhá
- Guimarães Rosa (GSV) – Nhorinhá, namorã
- Guimarães Rosa (GSV) – o antes-do-começo
- Guimarães Rosa (GSV) – o coração de tempo passado
- Guimarães Rosa (GSV) – O demo
- Guimarães Rosa (GSV) – o Maligno
- Guimarães Rosa (GSV) – O passado – é ossos em redor de ninho de coruja
- Guimarães Rosa (GSV) – O sertão aceita todos os nomes
- Guimarães Rosa (GSV) – O sertão não tem janelas nem portas
- Guimarães Rosa (GSV) – o sertão se sabe só por alto
- Guimarães Rosa (GSV) – Possível o que é – possível o que foi
- Guimarães Rosa (GSV) – razão minha era assim de ter prazos
- Guimarães Rosa (GSV) – ser chefe
- Guimarães Rosa (GSV) – sertão está movimentante todo-tempo
- Guimarães Rosa (GSV) – tudo perpassante perpassou
- Guimarães Rosa (GSV) – uns lembrares e sustâncias
- Guimarães Rosa (Tutaméia) – a abelha é que é filha do mel
- Guimarães Rosa (Tutaméia) – as bisonhas
- Guimarães Rosa (Tutaméia) – estar-no-mundo
- Guimarães Rosa (Urubuquaquá) – desafã