O mundo rosiano é, de fato, um mundo de como se, de faz de conta, o regresso pensado à desordem ordenadora do mito e da natureza, na sua lógica sensível, na sua linguagem carnal, na sua hybris caudalosa e espontânea. Homem do sertão , como ele próprio se deixa denominar, Guimarães Rosa descobre-se, selvagem, eterna criança, enunciando a verdade possível, a não verdade de uma Verdade inominável, no eterno retorno do mythos. Fiel às formas simples de que fala Jolles , na escrita deste autor, o (…)
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Guimarães Rosa
Guimarães Rosa (1908-1967)
Matérias
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Varela – O mundo rosiano
27 de junho, por Murilo Cardoso de Castro -
Guimarães Rosa (GSV) – O grande-sertão é a forte arma
23 de julho de 2024, por Murilo Cardoso de CastroE nisto, que conto ao senhor, se vê o sertão do mundo. Que Deus existe, sim, devagarinho, depressa. Ele existe — mas quase só por intermédio da ação das pessoas: de bons e maus. Coisas imensas no mundo. O grande-sertão é a forte arma. Deus é um gatilho?
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Guimarães Rosa (GSV) – amor destino dado
23 de julho de 2024, por Murilo Cardoso de CastroPara que referir tudo no narrar, por menos e menor? Aquele encontro nosso se deu sem o razoável comum, sobrefalseado, como do que só em jornal e livro é que se lê. Mesmo o que estou contando, depois é que eu pude reunir relembrado e verdadeiramente entendido — porque, enquanto coisa assim se ata, a gente sente mais é o que o corpo a próprio é: coração bem batendo. Do que o que: o real roda e põe diante. — “Essas são as horas da gente. As outras, de todo tempo, são as horas de todos” — me (…)
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Guimarães Rosa (Tutaméia) – a estória não quer ser história
28 de junho, por Murilo Cardoso de CastroA estória não quer ser história. A estória, em rigor, deve ser contra a História. A estória, às vezes, quer-se um pouco parecida à anedota.
A anedota, pela etimologia e para a finalidade, requer fechado ineditismo. Uma anedota é como um fósforo: riscado, deflagrada, foi-se a serventia. Mas sirva talvez ainda a outro emprego a já usada, qual mão de indução ou por exemplo instrumento de análise, nos tratos da poesia e da transcendência. Nem será sem razão que a palavra “graça” guarde (…) -
Guimarães Rosa (GSV) – Paciência de velho tem muito valor
28 de junho, por Murilo Cardoso de CastroMas, no vir de cimas desse morro, do Tebá — quero dizer: Morro dos Ofícios — redescendo, demos com o velho, na porta da choupã dele mesmo. Homem no sistema de quase-dôido, que falava no tempo do Bom Imperador. Baiano, barba de piassaba; goiano-baiano. O pobre, que não tinha as três espigas de milho em seu paiol. Meio sarará. A barba, de capinzal sujo; e os cabelos dele eram uma ventania. Perguntei uma coisa, que ele não caprichou de entender, e o catrumano Teofrásio, que já queria se mostrar (…)
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Guimarães Rosa (GSV) – Rebulir com o sertão, como dono?
23 de julho de 2024, por Murilo Cardoso de CastroRebulir com o sertão, como dono? Mas o sertão era para, aos poucos e poucos, se ir obedecendo a ele; não era para à força se compor. Todos que malmontam no sertão só alcançam de reger em rédea por uns trechos; que sorrateiro o sertão vai virando tigre debaixo da sela. Eu sabia, eu via. Eu disse: nãozão! Me desinduzi.
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Guimarães Rosa: entrevista a crítico alemão
23 de julho de 2024, por Murilo Cardoso de CastroExcertos da entrevista de Guimarães Rosa a Günter Lorenz, constante da Introdução de Eduardo F. Coutinho da Obra Completa I, p. xxxi-lxv.
JGR: Escrever é um processo químico; o escritor deve ser um alquimista. Naturalmente, pode explodir no ar. A alquimia do escrever precisa de sangue do coração. Não estão certos, quando me comparam com Joyce. Ele era um homem cerebral, não um alquimista. Para poder ser feiticeiro da palavra, para estudar a alquimia do sangue do coração humano, é preciso (…) -
Guimarães Rosa (GSV) – Excertos
23 de julho de 2024, por Murilo Cardoso de CastroE nisto, que conto ao senhor, se vê o sertão do mundo. Que Deus existe, sim, devagarinho, depressa. Ele existe — mas quase só por intermédio da ação das pessoas: de bons e maus. Coisas imensas no mundo. O grande-sertão é a forte arma. Deus é um gatilho?
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O senhor nonada conhece de mim; sabe o muito ou o pouco? O Urucúia é ázigo… Vida vencida de um, caminhos todos para trás, é história que instrui vida do senhor, algum? O senhor enche uma caderneta… O senhor vê aonde é o sertão? (…) -
Guimarães Rosa (GSV) – alma não é vendível
23 de julho de 2024, por Murilo Cardoso de CastroAgora, bem: não queria tocar nisso mais — de o Tinhoso; chega. Mas tem um porém: pergunto: o senhor acredita, acha fio de verdade nessa parlanda, de com o demônio se poder tratar pacto? Não, não é não? Sei que não há. Falava das favas. Mas gosto de toda boa confirmação. Vender sua própria alma… Invencionice falsa! E, alma, o que é? Alma tem de ser coisa interna supremada, muito mais do de dentro, e é só, do que um se pensa: ah, alma absoluta! Decisão de vender alma é afoitez vadia, (…)
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Guimarães Rosa (GSV) – O senhor vê aonde é o sertão?
23 de julho de 2024, por Murilo Cardoso de CastroO senhor nonada conhece de mim; sabe o muito ou o pouco? O Urucúia é ázigo… Vida vencida de um, caminhos todos para trás, é história que instrui vida do senhor, algum? O senhor enche uma caderneta… O senhor vê aonde é o sertão? Beira dele, meio dele?… Tudo sai é mesmo de escuros buracos, tirante o que vem do Céu. Eu sei.
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Guimarães Rosa (GSV) – o real no meio da travessia
23 de julho de 2024, por Murilo Cardoso de CastroPor que era que eu estava procedendo à-tôa assim? Senhor, sei? O senhor vá pondo seu perceber. A gente vive repetido, o repetido, e, escorregável, num mim minuto, já está empurrado noutro galho. Acertasse eu com o que depois sabendo fiquei, para de lá de tantos assombros… Um está sempre no escuro, só no último derradeiro é que clareiam a sala. Digo: o real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia. Mesmo fui muito tôlo! Hoje em dia, não me queixo (…)
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Francis Utéza (JGR) – A Travessia Iniciática
23 de novembro, por Murilo Cardoso de Castro* **A Estrutura Iniciática e os Ciclos de Metamorfose** * A análise do percurso do protagonista revela a existência de três mortes iniciáticas que pontuam a narrativa, sendo a primeira localizada no Cansanção-Velho após a batalha do Alto dos Angicos e marcada pelo relato de Jõe Bexiguento sobre Maria Mutema, a segunda ocorrendo na encruzilhada das Veredas Mortas à meia-noite do São João de inverno, e a terceira culminando no alto da Torre do Paredão ao fim de uma agonia reveladora. * (…)
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O Simbolismo das ilustrações de Poty em "Grande Sertão" de Guimarães Rosa
22 de abril, por Murilo Cardoso de CastroUtezaMGS
Quanto às ilustrações de Poty, sabemos pelo testemunho do editor, que figura na coletânea de homenagens publicada no Rio de Janeiro, em 1968, com o título Em Memória de João Guimarães Rosa, que o próprio Poty havia realizado dois projetos, ambos sob as sugestões do escritor. Em comentário que acompanhava a reprodução do projeto que não fora aproveitado, o editor dizia: Acaso será fácil adivinhar o que são esses desenhos cabalísticos? Por certo que não: pois são desenhos que Poty (…) -
Guimarães Rosa: correspondência com tradutor italiano
23 de julho de 2024, por Murilo Cardoso de CastroPrimeiro, precisarei de tagarelar também um pouco sobre o livro, as outras novelas. Quero afirmar a Você que, quando escrevi, não foi partindo de pressupostos intelectualizantes, nem cumprindo nenhum planejamento cerebrino’ cerebral deliberado. Ao contrário, tudo, ou quase tudo, foi efervescência de caos, trabalho quase "mediúmnico" e elaboração subconsciente. Depois, então, do livro pronto e publicado, vim achando nele muita coisa ; às vezes, coisas que se haviam urdido por si mesmas, muito (…)
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Francis Utéza (JGR) – A Obra em negro
23 de novembro, por Murilo Cardoso de Castro##### O Ciclo Iniciático e a Dualidade do Ser no Limiar da Metamorfose
* O percurso iniciático, em sua totalidade, compreende necessariamente uma etapa preliminar de retração que culmina em uma morte simbólica, liberando a parte divina aprisionada na materialidade corpórea, processo mediante o qual, através das operações de fixação e subsequente separação, o Ser profundo reúne-se à matriz universal para regenerar-se antes de reanimar o antigo despojo. * No derradeiro ciclo da aventura, o (…) -
Guimarães Rosa (GSV) – obedecer do amor
23 de julho de 2024, por Murilo Cardoso de CastroO nome de Diadorim, que eu tinha falado, permaneceu em mim. Me abracei com ele. Mel se sente é todo lambente — “Diadorim, meu amor…” Como era que eu podia dizer aquilo? Explico ao senhor: como se drede fosse para eu não ter vergonha maior, o pensamento dele que em mim escorreu figurava diferente, um Diadorim assim meio singular, por fantasma, apartado completo do viver comum, desmisturado de todos, de todas as outras pessoas — como quando a chuva entre-onde-os-campos. Um Diadorim só para (…)
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Francis Utéza (JGR) – A Obra em branco
23 de novembro, por Murilo Cardoso de Castro##### A Via Seca e a Ascensão ao Arquétipo do Centro
* O reduto dos jagunços opera como um cadinho da via seca alquímica onde o composto humano é submetido à depuração pelo fogo, processo exemplificado pela morte de Marcelino Pampa, cuja natureza áurea exige que seu corpo, compreendido como escória aurífera destacada do amálgama, seja piedosamente resgatado da lama para não ser maculado por elementos terrestres, uma vez que o fogo que vige nas duas bandas da morte ilumina a iniciação de (…) -
Varela – obras do heterologos rosiano
27 de junho, por Murilo Cardoso de Castro[...] seja Grande sertão: veredas, seja Tutaméia, culminando no conto A terceira margem do rio de Primeiras estórias, sobremaneira expressivo do pensamento de Guimarães Rosa e do heterologos em geral. Enquanto Grande sertão nos sugere a imensidão da terra brasileira, o sertão-macrocosmos, “lugar de latifúndios e epopéias”, como diz Gilberto Mendonça Teles, Tutaméia é “uma espécie de ‘grande sertão’ fracionado em pequenas narrativas”, o microcosmos onde decorre o infinitamente pequeno dos (…)
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O Simbolismo do Adro em "Grande Sertão" de Guimarães Rosa
22 de abril, por Murilo Cardoso de CastroUtezaMGS
GRANDE SERTÃO: VEREDAS. Três palavras, reunidas em duas expressões a priori geográficas, compõem uma unidade intermediada pelos dois pontos que as colocam em uma [56] relação ao mesmo tempo de oposição e de complementaridade. Um espírito ocidental reconhecerá aí sobretudo a oposição:
O sertão acaba sendo toda a confusão e tumultuosa massa do mundo sensível, caos ilimitado de que só uma parte ínfima nos é dado conhecer, — precisamente a que se avista ao longo das veredas, tênues (…) -
Francis Utéza (JGR) – A Obra em rubro
23 de novembro, por Murilo Cardoso de Castro##### A Dinâmica do Mandala e a Geometria do Combate
* Dois círculos concêntricos, compostos primeiramente pelos defensores do Paredão e cercados pelos homens de Hermógenes que por sua vez são envolvidos pelos reforços do Cererê-Velho, formam-se em volta do sobrado no cimo do qual flutua um Riobaldo desintegrado, dissolvendo-se seguidamente para dar lugar a uma nova configuração quando os dois grupos antagonistas se desafiam na faca em torno de seus respectivos condutores. Esta coreografia (…)
Notas
- Gilvan Fogel – à toa muito ativo (Guimarães Rosa)
- Gilvan Fogel – colossalidade (Guimarães Rosa)
- Gilvan Fogel – desafã (Guimarães Rosa)
- Gilvan Fogel – milagre (Guimarães Rosa)
- Gilvan Fogel – o aprender
- Gilvan Fogel – queda e travessia (Guimarães Rosa)
- Gilvan Fogel – Riobaldo é o sertão (Guimarães Rosa)
- Guimarães Rosa (ABL) – morte
- Guimarães Rosa (Ave Palavra) – mineiridade
- Guimarães Rosa (Entrevista) – gênio
- Guimarães Rosa (GSV) – A gente vive não é caminhando de costas?
- Guimarães Rosa (GSV) – ações?
- Guimarães Rosa (GSV) – coragem
- Guimarães Rosa (GSV) – Eu conto; o senhor me ponha ponto
- Guimarães Rosa (GSV) – largar ido meu sentimento
- Guimarães Rosa (GSV) – não deixa o diabo te pôr sela
- Guimarães Rosa (GSV) – Nhorinhá
- Guimarães Rosa (GSV) – Nhorinhá, namorã
- Guimarães Rosa (GSV) – o antes-do-começo
- Guimarães Rosa (GSV) – o coração de tempo passado
- Guimarães Rosa (GSV) – O demo
- Guimarães Rosa (GSV) – o Maligno
- Guimarães Rosa (GSV) – O passado – é ossos em redor de ninho de coruja
- Guimarães Rosa (GSV) – O sertão aceita todos os nomes
- Guimarães Rosa (GSV) – O sertão não tem janelas nem portas
- Guimarães Rosa (GSV) – o sertão se sabe só por alto
- Guimarães Rosa (GSV) – Possível o que é – possível o que foi
- Guimarães Rosa (GSV) – razão minha era assim de ter prazos
- Guimarães Rosa (GSV) – ser chefe
- Guimarães Rosa (GSV) – sertão está movimentante todo-tempo
- Guimarães Rosa (GSV) – tudo perpassante perpassou
- Guimarães Rosa (GSV) – uns lembrares e sustâncias
- Guimarães Rosa (Tutaméia) – a abelha é que é filha do mel
- Guimarães Rosa (Tutaméia) – as bisonhas
- Guimarães Rosa (Tutaméia) – estar-no-mundo
- Guimarães Rosa (Urubuquaquá) – desafã
- Utéza (JGR) – Cantando silêncio de cantigas
- Guimarães Rosa (GSV) – ser chefe de jagunço
- Guimarães Rosa (GSV) – Deus é urgente sem pressa
- Guimarães Rosa (GSV) – norteado