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Gilvan Fogel – Riobaldo é o sertão (Guimarães Rosa)

sábado 5 de julho de 2025

Corpo, pois, é obra do fazer-se de experiência — perfeição de experiência ou história. Incorporação — melhor: encorpoação. No fazer-se de uma experiência, no expor-se de um pathos ou afeto (um verbo), vai fazendo-se ou realizando-se, modelando-se igualmente um corpo, uma individuação — um homem, este homem, uma ou esta vida, que é, sim, doação, perduração, atravessamento ou suportação de vida, de um modo possível de ser de vida, a saber, a experiência em questão. A isso, a este perfazimento ou caminho, a esta per-feição de experiência, pode-se também chamar amadurecimento, no sentido de crescimento e este, no sentido de agravamento, de intensificação, à medida que se mostra ser este o tempo do tempo fazer-se tempo. Sim, uma duração, uma perduração no atravessamento e na diversificação ou alteração. Mais uma vez, isso é história. Amadurecimento, crescimento, intensificação como obra de tempo, como per-feição de tempo.

Num tal enredo, numa tal história, o tipo, o indivíduo que aí vem se fazendo, se toma aceso, alerta, vivo, isto é, tudo passa então a ter lugar e hora certos, tudo passa a bem se articular e se compor, tudo passa a ter sentido, ou seja, orientação, assim como desorientação ou perda, e gênese.

Imagine-se, por exemplo, Riobaldo, em Grande sertão: veredas, de João Guimarães Rosa. Riobaldo é corpo, quer dizer, ele é o fazer-se ou a história (narrativa, estória, saga, “sagarana”) de sertão, da experiência- ou da possibilidade-sertão fazendo-se tal experiência ou tal possibilidade e, com isso, urdindo, tecendo, historiando ou corporando Riobaldo — este destino, esta identidade, este próprio. Por isso, é dito pelo próprio Rosa: “Riobaldo é o sertão”.