Litteratura

Página inicial > Obras e crítica literárias > Gilvan Fogel – colossalidade (Guimarães Rosa)

Gilvan Fogel – colossalidade (Guimarães Rosa)

sábado 5 de julho de 2025

Este mesmo acontecimento é celebrado, esta mesma experiência é dita e festejada, quando se lê, quando se ouve:

E, ao descobrir, no meio da mata, um angelim que atira para cima cinquenta metros de tronco e fronde, quem não terá ímpeto de criar um vocativo absurdo e bradá-lo — ó colossalidade! — na direção da altura? [1]

Ó pura emergência! Ó colossalidade! “Pura”, isto é, não outra coisa que só e tão só irrupção gratuita, gratuita emergência e instauração ou fundação. Só, tão só, isto é, por nada, graças a nada e para nada. De nenhum lugar, para nenhum lugar. Sem por quê, sem para quê. Pura gratuidade, doação. Milagre. ...! O começo, o acontecimento transcendente, enfim, transcendência é exclamação, vocativo, pura exclamação, puro vocativo — chamado, apelo, convocação. ! É. Há.

Ouçamos ainda João Guimarães Rosa: “Reporto-me ao transcendente. Tudo, aliás, é a ponta de um mistério. Inclusive, os fatos. Ou a ausência deles. Duvida? Quando nada acontece, há um milagre que não estamos vendo” [2]

FOGEL, Gilvan. O desaprendizado do símbolo: ou da experiência da linguagem. Rio de Janeiro: Mauad X, 2017


[1Cf. ROSA, J.G., São Marcos. In: Sagarana. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1978, p. 238.

[2Linguagem, o nosso tema, acontece, se faz desde e como elemento e/ou transcendência. Ao tema, à coisa, pois.