A estória não quer ser história. A estória, em rigor, deve ser contra a História. A estória, às vezes, quer-se um pouco parecida à anedota.
A anedota, pela etimologia e para a finalidade, requer fechado ineditismo. Uma anedota é como um fósforo: riscado, deflagrada, foi-se a serventia. Mas sirva talvez ainda a outro emprego a já usada, qual mão de indução ou por exemplo instrumento de análise, nos tratos da poesia e da transcendência. Nem será sem razão que a palavra “graça” guarde (…)
Página inicial > Palavras-chave > Autores e Obras > Guimarães Rosa
Guimarães Rosa
Guimarães Rosa (1908-1967)
Matérias
-
Guimarães Rosa (Tutaméia) – a estória não quer ser história
28 de junho, por Murilo Cardoso de Castro -
Guimarães Rosa (GSV) – O senhor vê aonde é o sertão?
23 de julho de 2024, por Murilo Cardoso de CastroO senhor nonada conhece de mim; sabe o muito ou o pouco? O Urucúia é ázigo… Vida vencida de um, caminhos todos para trás, é história que instrui vida do senhor, algum? O senhor enche uma caderneta… O senhor vê aonde é o sertão? Beira dele, meio dele?… Tudo sai é mesmo de escuros buracos, tirante o que vem do Céu. Eu sei.
-
Guimarães Rosa (GSV) – o real no meio da travessia
23 de julho de 2024, por Murilo Cardoso de CastroPor que era que eu estava procedendo à-tôa assim? Senhor, sei? O senhor vá pondo seu perceber. A gente vive repetido, o repetido, e, escorregável, num mim minuto, já está empurrado noutro galho. Acertasse eu com o que depois sabendo fiquei, para de lá de tantos assombros… Um está sempre no escuro, só no último derradeiro é que clareiam a sala. Digo: o real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia. Mesmo fui muito tôlo! Hoje em dia, não me queixo (…)
-
Guimarães Rosa (GSV) – alma não é vendível
23 de julho de 2024, por Murilo Cardoso de CastroAgora, bem: não queria tocar nisso mais — de o Tinhoso; chega. Mas tem um porém: pergunto: o senhor acredita, acha fio de verdade nessa parlanda, de com o demônio se poder tratar pacto? Não, não é não? Sei que não há. Falava das favas. Mas gosto de toda boa confirmação. Vender sua própria alma… Invencionice falsa! E, alma, o que é? Alma tem de ser coisa interna supremada, muito mais do de dentro, e é só, do que um se pensa: ah, alma absoluta! Decisão de vender alma é afoitez vadia, (…)
-
Guimarães Rosa (GSV) – obedecer do amor
23 de julho de 2024, por Murilo Cardoso de CastroO nome de Diadorim, que eu tinha falado, permaneceu em mim. Me abracei com ele. Mel se sente é todo lambente — “Diadorim, meu amor…” Como era que eu podia dizer aquilo? Explico ao senhor: como se drede fosse para eu não ter vergonha maior, o pensamento dele que em mim escorreu figurava diferente, um Diadorim assim meio singular, por fantasma, apartado completo do viver comum, desmisturado de todos, de todas as outras pessoas — como quando a chuva entre-onde-os-campos. Um Diadorim só para (…)
-
Guimarães Rosa (GSV): Sertão que se alteia e se abaixa
23 de julho de 2024, por Murilo Cardoso de CastroE piorou um tico o tempo, em Minas entramos, serra-acima, com os cavalos esticados. Aí o truvisco; e buzegava. O ladeirão, ruim rampa, mas pegamos a ponta da chapada. Foi ver, que com o vento nas orêlhas, o vento que não varêia de músicas. Tudo consabia bem, isto sim, digo; no remedido do trivial, espaço de chuva, a gente em avanço por esses tabuleiros: fazia rio, por debaixo, entre as pernas de meu cavalo. Sertão velho de idades. Porque — serra pede serra — e dessas, altas, é que o senhor (…)
-
Guimarães Rosa (GSV:) – esta vida está cheia de ocultos caminhos
23 de julho de 2024, por Murilo Cardoso de CastroEsta vida está cheia de ocultos caminhos. Se o senhor souber, sabe; não sabendo, não me entenderá. Ao que, por outra, ainda um exemplo lhe dou. O que há, que se diz e se faz — que qualquer um vira brabo corajoso, se puder comer cru o coração de uma onça pintada. É, mas, a onça, a pessoa mesma é quem carece de matar; mas matar à mão curta, a ponta de faca! Pois, então, por aí se vê, eu já vi: um sujeito medroso, que tem muito medo natural de onça, mas que tanto quer se transformar em jagunço (…)
-
Guimarães Rosa: correspondência com tradutor italiano
23 de julho de 2024, por Murilo Cardoso de CastroPrimeiro, precisarei de tagarelar também um pouco sobre o livro, as outras novelas. Quero afirmar a Você que, quando escrevi, não foi partindo de pressupostos intelectualizantes, nem cumprindo nenhum planejamento cerebrino’ cerebral deliberado. Ao contrário, tudo, ou quase tudo, foi efervescência de caos, trabalho quase "mediúmnico" e elaboração subconsciente. Depois, então, do livro pronto e publicado, vim achando nele muita coisa ; às vezes, coisas que se haviam urdido por si mesmas, muito (…)
-
Guimarães Rosa (GSV) – amor destino dado
23 de julho de 2024, por Murilo Cardoso de CastroPara que referir tudo no narrar, por menos e menor? Aquele encontro nosso se deu sem o razoável comum, sobrefalseado, como do que só em jornal e livro é que se lê. Mesmo o que estou contando, depois é que eu pude reunir relembrado e verdadeiramente entendido — porque, enquanto coisa assim se ata, a gente sente mais é o que o corpo a próprio é: coração bem batendo. Do que o que: o real roda e põe diante. — “Essas são as horas da gente. As outras, de todo tempo, são as horas de todos” — me (…)
- 1
- 2
Notas
- Guimarães Rosa (GSV) – A gente vive não é caminhando de costas?
- Guimarães Rosa (GSV) – ações?
- Guimarães Rosa (GSV) – coragem
- Guimarães Rosa (GSV) – Eu conto; o senhor me ponha ponto
- Guimarães Rosa (GSV) – largar ido meu sentimento
- Guimarães Rosa (GSV) – não deixa o diabo te pôr sela
- Guimarães Rosa (GSV) – Nhorinhá
- Guimarães Rosa (GSV) – Nhorinhá, namorã
- Guimarães Rosa (GSV) – o antes-do-começo
- Guimarães Rosa (GSV) – o coração de tempo passado
- Guimarães Rosa (GSV) – O demo
- Guimarães Rosa (GSV) – o Maligno
- Guimarães Rosa (GSV) – O passado – é ossos em redor de ninho de coruja
- Guimarães Rosa (GSV) – O sertão aceita todos os nomes
- Guimarães Rosa (GSV) – O sertão não tem janelas nem portas
- Guimarães Rosa (GSV) – o sertão se sabe só por alto
- Guimarães Rosa (GSV) – Possível o que é – possível o que foi
- Guimarães Rosa (GSV) – razão minha era assim de ter prazos
- Guimarães Rosa (GSV) – ser chefe
- Guimarães Rosa (GSV) – sertão está movimentante todo-tempo
- Guimarães Rosa (GSV) – tudo perpassante perpassou
- Guimarães Rosa (GSV) – uns lembrares e sustâncias
- Guimarães Rosa (Tutaméia) – a abelha é que é filha do mel
- Guimarães Rosa (Tutaméia) – as bisonhas
- Guimarães Rosa (Tutaméia) – estar-no-mundo