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Tieck – Os Elfos
domingo 6 de julho de 2025
—Onde está nossa pequena Maria?
—Está brincando no campo com o filho do nosso vizinho — respondeu a mulher.
—Não vão se perder — disse o pai, preocupado —, são tão atrapalhados.
A mãe deu uma olhada nas crianças e levou o lanche delas para a mesa.
—Que calor! — disse o menino, enquanto a menina se jogava sobre as cerejas vermelhas.
—Cuidado, crianças — disse a mãe —, não vão muito longe de casa nem entrem na floresta; seu pai e eu vamos para o campo.
O jovem André respondeu:
—Oh, não precisa se preocupar! A floresta nos assusta e vamos ficar sentados perto de casa, onde há gente.
No mesmo instante, a mulher se retirou e saiu acompanhada do marido. Ambos fecharam a porta da casa e se dirigiram ao campo e aos prados para inspecionar os trabalhadores e, ao mesmo tempo, a colheita de feno. A casa ficava em uma pequena colina verde, cercada por um declive com cercas que abrangiam também as hortas e os viveiros; um pouco mais abaixo, estendia-se a vila, e ao longe erguia-se o palácio ducal. Martin alugava a propriedade senhorial e vivia com a esposa e sua única filha, feliz porque a cada ano economizava com a perspectiva de se tornar, graças ao seu trabalho, um homem rico, já que a terra era fértil e o senhor conde bastante benevolente.
Ao caminhar ao lado da mulher em direção aos campos, olhou alegremente ao redor e disse:
—Quão diferente é esta região da outra em que vivíamos, Brígida. Aqui tudo é tão verde, a vila é abundante em frutos, a terra transborda pastos e belas flores, todas as casas são alegres e limpas, e os habitantes, ricos. Até acho que as florestas aqui são mais bonitas e o céu mais azul; até onde a vista alcança, pode-se ver a alegria e o contentamento diante da generosidade da natureza.
—Assim que se está além do rio — disse Brígida —, parece que estamos em outra terra, tudo tão triste e raquítico. Qualquer forasteiro que vem afirma que nosso vilarejo é o mais bonito da região.
—Com exceção do vale dos abetos — respondeu ele. — Olhe para lá, como aquele lugar isolado parece negro e triste em meio a toda a alegria que o cerca. Atrás dos abetos escuros estão a casinha fumegante, os galpões arruinados, o fio d’água que passa com um ar triste.
—É verdade — disse a mulher, enquanto paravam. — Ao se aproximar daquele lugar, a pessoa fica triste e temerosa sem saber o motivo. Quem serão realmente aqueles que vivem ali e por que se mantêm afastados de toda a comunidade, como se não tivessem a consciência tranquila?
—Pobre gentinha — respondeu o jovem arrendatário. — Parecem ciganos que roubam e enganam em lugares isolados, e talvez ali seja seu esconderijo. O único que me surpreende é que o senhorio tão benevolente os tolere.
—Também podem ser pessoas pobres — disse a mulher, com compaixão — que se envergonham de sua pobreza, embora não tenhamos realmente motivo para culpar por nada; o único que nos faz pensar é que não demonstram devoção à igreja. E não se sabe de que vivem, pois o pequeno jardim, que parece completamente abandonado, não pode nem mesmo alimentá-los, e também não possuem seus próprios campos.
—Só Deus sabe no que se ocupam — continuou Martin, enquanto retomava os passos —, pois nenhum ser humano passa por eles, e o lugar onde vivem é isolado e assombrado, de modo que nem os meninos mais travessos se atrevem a se aproximar.
Continuaram conversando enquanto seguiam para o campo. Aquela região escura de que falavam ficava fora da vila. Em uma encosta cercada por abetos, via-se uma casinha e diversas construções pertencentes a várias fazendas quase totalmente destruídas. Raramente se via fumaça saindo das chaminés, e mais raro ainda era a presença de pessoas. Em uma única ocasião, um curioso que se atreveu a se aproximar notou, em um banco em frente à casinha, algumas mulheres horríveis vestidas com roupas esfarrapadas, acompanhadas de crianças igualmente feias e sujas que se reviravam em seus colos; alguns cães de pelagem escura corriam por perto; ao cair da noite, um indivíduo misterioso que ninguém conhecia cruzou o caminho na altura do riacho e entrou na casinha; mais tarde, ao longe, podiam-se ver na escuridão diversas silhuetas que se moviam como sombras ao redor de uma fogueira. A encosta, os abetos e a casinha arruinada davam realmente uma impressão muito estranha dentro da paisagem verde e alegre, em comparação com as casinhas brancas da vila e o palácio reluzente e magnífico.
As crianças haviam comido as frutas; sentiram vontade de correr, e a pequena e ágil Maria vencia em todas as ocasiões o lento André.
—Isso não tem graça nenhuma! — exclamou finalmente André. — Vamos fazer agora mais longe, então veremos quem ganha!
—Como quiser — disse a pequena. — Só que não podemos correr para onde está o rio.
—Não — respondeu André. — Mas ali, na colina, onde está a grande pereira, a um quarto de hora daqui. Eu corro para a esquerda, pela encosta dos abetos, e você, que consegue, corre pelo lado direito do campo, e os dois chegamos ao mesmo lugar. Então veremos quem corre melhor.
—Bom. Assim não vamos nos atrapalhar no caminho; além disso, meu pai diz que é a mesma distância em direção à colina, indo por este lado ou além da casa dos ciganos — disse Maria, e logo começou a correr.
André se apressou tão rápido que Maria, ao virar para a direita, já não conseguia mais vê-lo.
—Ele é mesmo um tolo — pensou —, pois me basta um pouco de coragem para cruzar a pequena ponte, passar perto da casinha e sair do terreno para o outro lado; assim chegarei muito antes que André.
Já estava diante do riacho, ao pé da colina dos abetos.
—Cruzo a ponte? Que medo! — pensou.
Um cachorrinho branco latia por perto com todo seu ímpeto. Ao se assustar, o animal pareceu a Maria como um monstro, e ela recuou inesperadamente.
—Ai! — disse. — O Andrezinho já está bem à frente, e eu ainda aqui, parada como uma estátua, pensando.
O cachorro não parava de latir; ao olhá-lo com mais atenção, não lhe pareceu tão horrível, mas, pelo contrário, muito engraçado: tinha um colar vermelho do qual pendia um sininho brilhante, e toda vez que levantava a cabeça, balançando-se ao latir, o sininho soava encantadoramente.
—Eh, só preciso me decidir! — exclamou a pequena Maria. — Corro o mais rápido que puder e — rápido, rápido! — saio de novo para o caminho. Esse bichinho não vai me devorar tão rápido!
Ao dizer isso, a resoluta e vivaz menina se lançou em direção à ponte e passou correndo ao lado do cachorro, que, sem latir mais, festejou ao seu redor. De repente, estava na encosta, de modo que os abetos negros lhe impediam a vista para os arredores da casa paterna e o resto da paisagem.
Como ficou surpresa. A cercava o jardim de flores mais vistoso e alegre, cheio de tulipas, rosas e lírios de cores incomparavelmente belas; borboletas azuis e púrpuras balançavam nas pétalas, pássaros multicoloridos penduravam-se nos caramanchões em gaiolas de grades brilhantes enquanto cantavam melodias lindas, e algumas crianças, com vestidinhos brancos e curtos, cabelos loiros e cacheados e olhos claros, saltavam ao redor. Algumas brincavam com cordeirinhos, outras alimentavam os pássaros ou colhiam flores que trocavam entre si. Outras ainda comiam cerejas, uvas e damascos avermelhados. Não se via nenhuma casinha. Em vez disso, uma ampla e bela casa, com porta de ferro em um desenho artístico e nobre, destacava-se no meio daquele espaço. Maria estava absorta e maravilhada, e nem mesmo soube se orientar; mas, como não era nada boba, em poucos instantes se aproximou da primeira criança que viu e estendeu a mão para cumprimentá-la.
—Que surpresa você nos visitar! — disse a deslumbrante menina que ela cumprimentara. — Vi você correr e pular lá fora, mas se assustou com nosso cachorrinho.
—Então vocês não são ciganos ladrões, como diz o André? Ora! Mas ele é um tolo, e o dia inteiro fala sem pé nem cabeça!
—Fique conosco — disse a maravilhosa menina —, você vai gostar.
—Mas é que estamos correndo.
—Você voltará a tempo. Tome e coma!
Maria comeu e achou a fruta tão doce como nunca havia provado nenhuma, e André, a corrida e o aviso dos pais desapareceram completamente de sua mente.
Uma mulher muito alta, vestida com um luxo deslumbrante, se aproximou e perguntou pela menina estrangeira.
—Bela senhora — disse Maria —, vim correndo até aqui e ela me convidou para ficar.
—Você sabe, Zerina — disse a bela mulher —, que ela só tem permissão por pouco tempo e, além disso, deveria ter me perguntado antes de tudo.
—Pensei — disse a deslumbrante menina — que, se a deixaram cruzar a ponte, poderia então ficar; já a vimos correr muitas vezes pelo campo e você mesma se deleitou com seu jeito alegre e vivaz; afinal, ela terá que nos deixar muito em breve.
—Não, quero ficar aqui — disse Maria. — Isso é muito bonito; além disso, aqui estão as coisas mais agradáveis que já vi, especialmente os morangos e as cerejas. Lá fora não é tão esplêndido como aqui.
A mulher, vestida com suas roupas douradas, afastou-se sorrindo, e muitas das crianças pularam então ao redor da alegre Maria, brincando com ela e incentivando-a a dançar; outras lhe trouxeram cordeirinhos e brinquedos maravilhosos; outras ainda tocaram seus instrumentos e cantaram. Mas ela se manteve especialmente próxima da companheira que conhecera desde sua chegada, pois era a mais amável e simpática de todos. A pequena Maria exclamava uma e outra vez:
—Quero ficar sempre com vocês para que sejam meus irmãos.
Diante disso, todas as crianças riam e a abraçavam.
—Agora vamos fazer um jogo bonito — disse Zerina. Correu rapidamente para dentro do palácio e voltou com uma minúscula caixinha dourada que guardava um pólen brilhante. Pegou um pouco dele com seus dedinhos e espalhou alguns grãos no chão verde. De repente, a grama começou a se agitar em forma de ondas e, após alguns momentos, surgiram imediatamente roseiras que cresceram e se desenvolveram no instante, invadindo o espaço com o aroma mais doce. Maria também pegou um pouco do pó e, quando o espalhou, apareceram lírios brancos e cravos multicoloridos. Com um gesto de Zerina, as flores desapareceram, dando lugar a outras.
—Agora — disse Zerina —, prepare-se para algo melhor. Então colocou dois pinhões no chão, pisou neles energicamente até enterrá-los e, no mesmo instante, dois arbustos verdes começaram a se erguer diante das crianças.
—Segure-se bem em mim — disse Zerina.
Maria colocou os braços ao redor de seu corpo delicado. Sem pensar, sentiu-se elevada, as pequenas árvores cresceram debaixo das meninas com uma rapidez surpreendente até que os altos pinheiros se arqueavam e as meninas tiveram que se manter abraçadas entre as nuvens vermelhas do pôr do sol, balançando de um lado para o outro no meio de beijos. As outras crianças subiam e desciam com muita agilidade entre os galhos das árvores; faziam brincadeiras e davam empurrões com muitas risadas ao se encontrarem no caminho. Um dos meninos caiu por causa do amontoado dos outros e voou então pelos ares, embora descesse lenta e seguramente ao chão. Por fim, Maria sentiu medo, a outra menina entoou algumas canções com voz muito clara, e as árvores desceram tão rapidamente quanto haviam subido até as nuvens.
Entraram pela porta de ferro em direção ao palácio. Sentadas ali, belas mulheres, tanto idosas quanto jovens, se deleitavam dentro da sala circular comendo frutas agradáveis. Enquanto isso, podia-se ouvir uma melodia bela e sutil. Na abóbada havia palmeiras pintadas, flores e folhagens entre as quais subiam e desciam, fazendo movimentos graciosos, várias figuras infantis. As imagens variavam e cintilavam nas cores mais vibrantes, de acordo com a música; no mesmo instante, o verde e o azul se acendiam como uma luz diáfana e, com tons de chama dourada e púrpura, a cor se apagava até desaparecer; então as crianças, nuas entre os folhagens de flores, pareciam se animar e respirar através de seus lábios vermelhos como rubi, de modo que se podia ver o brilho dos dentinhos e dos olhos azul-celeste.
Da sala, uma escada de ferro conduzia a uma grande câmara subterrânea. Lá, entre uma grande quantidade de ouro, prata e pedras preciosas, reluziam gemas de infinitas cores; havia nas paredes belos vasos que pareciam transbordar de magníficos tesouros, e ouro trabalhado de várias maneiras que brilhava com um tom avermelhado familiar. Inúmeros anões estavam ocupados em selecionar as peças para colocá-las nos vasos. Outros, corcundas e deformados, com narizes longos e avermelhados, traziam com muito esforço, quase ofegantes até inclinar a testa no chão, como moleiros sob sua carga de trigo, uns sacos dos quais caíam grãos de ouro no chão. Imediatamente, pulavam desajeitadamente de um lado para o outro e pegavam as pedrinhas que rolavam escapando; não era raro que, em meio à sua inquietação, um batesse no outro de modo que caíam no chão, atordoados sob seu próprio peso. Faziam caras fechadas e desdenhosas quando ela ria diante de seus gestos de feiura. Encolhido, sentado no fundo, estava um pequeno velho a quem Zerina cumprimentou cerimoniosamente, enquanto ele agradecia com uma severa inclinação da cabeça. Tinha na mão um cetro e na cabeça uma coroa; todos os outros anões pareciam reconhecê-lo como seu senhor e obedecer às suas ordens.
—O que está acontecendo agora? — perguntou, mal-humorado, quando as meninas se aproximaram um pouco mais.
Maria ficou em silêncio, com medo, mas sua companheira respondeu que só tinham ido dar uma olhada nos porões.
—Sempre essas bobagens! — exclamou o velho. — Quando acaba essa ociosidade? — e, depois disso, voltou a suas ocupações, fazendo pesar e selecionar diversas peças de ouro; enviou outros anões para fora e repreendeu mais um.
—Quem é esse senhor? — perguntou Maria.
—Nosso príncipe do Metal — disse a pequena, enquanto continuavam caminhando.
Pareciam estar novamente lá fora; estavam na margem de um lago. No entanto, não havia sol nem se podia ver o céu. Um barquinho as recebeu, e Zerina remou incansavelmente. A travessia foi rápida. No meio do lago, Maria viu milhares de juncos, canais e afluentes que se ramificavam do centro em todas as direções.
—Essas águas correm sob nosso jardim para o lado direito — disse a deslumbrante menina. — Por isso, tudo floresce tão fresco. Daqui pode-se descer até a grande corrente do rio.
De repente, de todos os canais, apareceu uma multidão de crianças, e todas se aproximavam nadando; muitas traziam grinaldas de juncos e lírios; outras, pontas de coral, e outras ainda usavam conchas torcidas. Um barulho confuso ressoava alegremente das margens escuras; entre os pequenos, era possível ver os movimentos das mulheres mais belas, e muitas crianças saltavam sem parar e se penduravam nelas, beijando seus pescoços e ombros. Todas saudaram a estrangeira enquanto ela atravessava o lago em meio aquele alvoroço, até entrar em um afluente do rio, cada vez mais estreito. Por fim, o barco parou. Despediram-se dela, e Zerina tocou uma rocha que se abriu como uma porta, e uma figura feminina vermelha as conduziu para baixo.
—Estão se divertindo? — perguntou Zerina.
—Estão tão agitados e contentes quanto se pode ver — respondeu a mulher —, e o calor é extremamente agradável.
Subiram por uma escada circular e, de repente, Maria se viu em uma sala tão iluminada que, ao entrar, seus olhos ficaram deslumbrados. Tapeçarias de um vermelho intenso enchiam as paredes com um braseiro púrpura, e quando o olhar de Maria se adaptou, viu, para sua surpresa, como certas figuras saltavam e dançavam sobre as tapeçarias em meio à maior alegria e com uma constituição e proporção tão graciosas que não podia imaginar nada mais cativante. Seus corpos pareciam feitos de metal vermelho, e era como se o sangue inquieto pulsasse visivelmente dentro deles. Mostravam seu riso para a menina estrangeira, cumprimentando com repetidas inclinações, mas quando Maria tentou se aproximar, Zerina a segurou de repente com força, gritando:
—Você vai se queimar, Maria, tudo isso é fogo!
Maria sentiu o calor:
—Por que essas figuras tão delicadas não saem e brincam conosco? — perguntou à amiga.
—Porque, assim como você vive no ar, elas têm que permanecer no fogo; do contrário, morreriam. Veja como se sentam bem, como riem e gritam; lá embaixo, os rios de fogo se expandem em todas as direções. Por causa deles, crescem agora as flores, as frutas e as videiras; os rios vermelhos correm ao lado dos riachos, e assim esses seres de chamas cambiantes se mantêm sempre ativos e alegres. Mas já é fogo demais para você. Vamos novamente para o jardim.
No jardim, o cenário era diferente. O brilho da lua repousava em cada pétala, os pássaros permaneciam em silêncio e as crianças dormiam, em grupos variados, entre a folhagem verde. Mas Maria e sua amiguinha não sentiam cansaço; em meio a longas conversas, passeavam sob a noite quente de verão.
Ao amanhecer, refrescaram-se com frutas e leite. Maria disse:
—Vamos mudar de ambiente e sair para o abetal para ver os abetos de perto.
—Com muito prazer — disse Zerina. — Assim você poderá visitar nossos guardas, que certamente vão gostar de você. Eles estão no alto do terrapleno, entre as árvores.
Caminharam entre jardins multicoloridos, cruzando florestas cheias de rouxinóis; depois subiram por colinas repletas de videiras e, após seguir o curso intrincado de um fio d’água claro, chegaram finalmente ao abetal e ao declive que limitava a região.
—Como é possível — perguntou Maria — que lá dentro tenhamos que caminhar tanto e lá fora a distância seja tão curta?
—Não sei como acontece, mas é assim — respondeu a amiga.
Subiram até o sombrio abetal, e um vento frio vinha acariciá-las do lado de fora; a paisagem parecia cobrir-se completamente de névoa. No alto, figuras estranhas, cujos rostos pareciam cobertos de pó farinhento, estavam de pé, semelhantes às repugnantes cabeças das corujas brancas. Estavam cobertas com casacos ásperos de lã grossa e grossa e seguravam, abertos, guarda-chuvas de pele estranha; sopravam e abanavam sem parar com asas de morcego, ocasionalmente olhando absortas através das dobras.
—Quero rir e sinto medo — disse Maria.
—Esses são nossos bons e laboriosos guardiões — replicou a pequena companheira de brincadeiras. — Aqui ficam produzindo ar para que todo estrangeiro que queira se aproximar sinta um temor estranho. Estão cobertos dessa maneira por causa da chuva e do frio, pois não suportam nenhum dos dois. Aqui embaixo nunca chega neve nem vento, nem faz frio; aqui é o eterno verão e a eterna primavera, mas se não se revezassem em seus postos, morreriam completamente.
—Então, quem são vocês? — perguntou Maria enquanto desciam novamente entre aromas florais. — Ou não têm um nome pelo qual possam ser reconhecidos?
—Nos chamamos de elfos — disse a amável menina. — Pelo que ouvi, é assim que nos chamam no mundo.
Ouviram um tumulto que surgia do prado mais próximo.
—Chegou o belo pássaro! — gritaram as crianças à distância.
Todos se agitavam dentro da sala. Enquanto isso, viram jovens e velhos se apressarem para cruzar a soleira e se regozijarem; dentro ressoava uma música cheia de júbilo. Ao entrar, viram a sala circular repleta das figuras mais variadas; todos olhavam para cima, em direção ao enorme pássaro que, com suas penas luxuosas, descrevia lentamente múltiplos círculos. A música soava mais alegre do que nunca, e cores e luzes mudavam com rapidez incrível. Finalmente, a música parou, e o pássaro se lançou estrepitosamente sobre uma coroa refulgente que flutuava sob uma janela alta, iluminando a abóbada de cima. Suas penas eram verdes e púrpura, e através delas corriam as linhas mais brilhantes em ouro; em sua cabeça movia-se uma diadema de pequenas penas, tão claras e luminosas que relampejavam como gemas. O bico era vermelho, e as patas, de um azul intenso. A cada movimento do pássaro, todas as cores brilhavam mescladas, e todos os olhares, encantados, se prendiam nele. Seu tamanho era o de uma águia. Ao abrir seu bico luminoso, uma doce melodia escapou de seu peito agitado em tons ainda mais belos que os do apaixonado rouxinol; o canto ganhava força e se espalhava como uma massa de raios de luz, de modo que todos, até os menores, não conseguiam conter as lágrimas de alegria e entusiasmo. Quando terminou, todos se curvaram diante do pássaro, que novamente voou em círculos sob a abóbada, disparando-se pela porta e lançando-se para o céu limpo, onde logo pareceu apenas um ponto vermelho, tão rapidamente que, no mesmo instante, desapareceu nas alturas.
—Por que estão todos tão contentes? — perguntou Maria, inclinando-se para a bela menina, que naquele momento lhe pareceu mais pequena que no dia anterior.
—Está vindo o rei! — disse a pequena. — Muitos de nós ainda não o viram, e onde quer que ele vá, há fortuna e alegria. Há muito tempo o esperamos, mais ansiosamente do que vocês esperam a primavera depois de um longo inverno; e agora ele anunciou sua vinda com este belo mensageiro. Esta ave agradável e inteligente, que nos foi enviada a serviço do rei, chama-se Fênix. Vive em terras distantes, na Arábia, na copa de uma árvore da qual há apenas uma no mundo, assim como não existe uma segunda Fênix. Quando se sente velha, constrói um ninho com bálsamos e incensos, acende-o e se incendeia, de modo que morre cantando; das cinzas aromáticas, levanta-se novamente a Fênix rejuvenescida, com beleza renovada. Muito raro é que ela empreenda o voo, então aqueles que conseguem vê-la — o que acontece uma vez em séculos — registram em suas memórias e esperam acontecimentos maravilhosos. Mas agora, amiga minha, você também tem que partir, pois não lhe é concedida a presença do rei.
Então a bela mulher do vestido dourado se aproximou no meio do tumulto, fez um sinal para Maria e se afastou com ela sob uma alameda solitária.
—Agora você tem que nos deixar, minha querida menina — disse-lhe. — O rei quer manter sua corte neste lugar pelos próximos vinte anos ou até mais; fertilidade e bênçãos se espalharão por todo o país e especialmente aqui. Os mananciais e os rios serão mais abundantes, todos os campos e jardins, mais ricos, e mais nobre o vinho, mais pródigo o prado e mais fresco e verde o bosque; ventos mais suaves soprarão, nenhum granizo prejudicará as colheitas nem inundação ameaçará os lares. Tome este anel e pense em nós, mas cuidado para não falar a ninguém sobre nós, pois se o fizer, seremos obrigados a abandonar esta terra, e todas as pessoas ao redor, como também você, ficarão sem a fortuna e as bênçãos que nossa proximidade lhes concede. Beije pela última vez sua companheira e adeus.
Ao sair, Zerina chorava; enquanto isso, Maria se inclinou para abraçá-la, e se separaram. Já na estreita ponte, o ar frio soprou em suas costas, do abetal, e o cachorrinho a saudou com seus latidos, fazendo soar seu sininho; ela se virou para dar uma última olhada e se apressou para sair; a densidade dos abetos, a escuridão das casinhas arruinadas e as silhuetas nebulosas lhe inspiraram um temor angustiante.
—Como meus pais devem ter se preocupado esta noite comigo! — pensou, ao se encontrar novamente no campo. — E não posso lhes dizer onde estive nem o que vi. Além disso, nunca acreditariam.
Dois homens passaram por ela, a cumprimentaram, e ela os ouviu dizer:
—Que garota bonita! De onde será?
Maria apressou seus passos em direção à casa paterna. As árvores, ontem ainda repletas de frutos, agora pareciam raquíticas e sem folhas. A casa estava pintada de outra cor, e um novo celeiro se erguia ao seu lado. Maria ficou tão surpresa que achou estar em um sonho. Sob tal turbulência, abriu a porta da casa; seu pai estava sentado à mesa, entre uma mulher desconocida e um jovem estrangeiro.
—Meu Deus, pai! — exclamou. — Onde está minha mãe?
—Sua mãe? — disse a mulher, pressentindo algo; precipitadamente, deu um passo à frente. — Ora! Você não seria...? Mas claro, claro! Você é Maria, minha filha perdida que achavam morta, a única, querida Maria.
A reconhecera por uma pequena marca debaixo do queixo, por seus olhos e por sua figura. Todos a abraçaram, todos estavam alegremente emocionados, e os pais enxugavam as lágrimas abundantes. Maria se surpreendeu ao notar que quase igualava em altura a seu pai e não conseguia entender como sua mãe havia mudado e envelhecido tanto. Perguntou o nome do jovem.
—É André, o filho do nosso vizinho — disse Martin. — Como você volta tão inesperadamente depois de sete longos anos? Onde esteve? Por que não nos enviou notícias suas?
—Sete anos? — perguntou Maria, sem conseguir se orientar em suas ideias e lembranças. — Sete anos inteiros?
—Sim, sim — disse André, rindo e pegando sua mão cordialmente. — Eu venci, Maria, cheguei há sete anos à pereira e voltei; e você, lenta, só está chegando agora?
Perguntaram-lhe repetidas vezes, insistiram, mas ela, lembrando-se do aviso, não pôde dar nenhuma resposta. Quase lhe impuseram a história de que se havia perdido ao subir em um carro que passava; que foi parar em um lugar estranho onde não soube indicar às pessoas qual era seu lar paterno; como foi parar em uma cidade distante, onde umas boas pessoas a haviam educado e amado; como elas haviam morrido e ela se lembrou de seu lugar de origem e decidiu fazer a viagem de volta.
—Deixemos assim — disse a mãe. — Já é suficiente tê-la novamente ao nosso lado. Minha filhinha, minha única, meu tudo!
André ficou para o jantar; Maria ainda estava desorientada. A casa lhe parecia pequena e escura, seu vestido a surpreendia — limpo e simples, mas totalmente estranho; observou o anel em seu dedo, seu ouro brilhava em profusão, e uma pedra de um vermelho refulgente se destacava ainda mais. À pergunta do pai, respondeu que o anel era um presente de seus benfeitores.
Ansiava pelo momento de ir dormir e, finalmente, se retirou. Na manhã seguinte, sentia-se serena, havia ordenado melhor suas ideias e foi capaz de responder às pessoas da vila que vieram cumprimentá-la. André, que foi muito cedo, mostrava-se afável e alegre, assim como disposto a servi-la. A moça, de quinze anos completos, lhe causara grande impressão, e nem mesmo na noite anterior conseguira dormir. Mandaram chamá-la do palácio, para onde foi e teve que contar sua história, que já havia aprendido bem. O velho senhor e sua esposa admiraram seu bom comportamento, pois era modesta sem ser tímida, respondia cortesmente e com boas palavras a todas as perguntas que lhe faziam; a timidez diante dos nobres e daqueles que os rodeavam havia desaparecido, pois ao comparar essas salas e seus adornos com os prodígios e a elevada beleza que vira na sala secreta dos elfos, esse luxo terreno lhe parecia opaco, e a presença das pessoas, insignificante. Os jovens estavam extremamente encantados com sua beleza.
Era fevereiro. As árvores se cobriram muito antes do habitual com sua frondosidade. O rouxinol nunca havia aparecido tão cedo. A primavera se apresentou no país com um esplendor maior, tanto quanto os anciãos mais velhos não conseguiam lembrar. De todas as partes brotaram mananciais que forneciam água em abundância a prados e pomares. As colinas pareciam ter crescido, as regiões onde as parreiras de uva amadureciam se elevaram notavelmente, as árvores frutíferas floresceram como nunca, e uma bênção plena de aromas se expandia sobre a paisagem em forma de nuvens e pétalas. Tudo acontecia surpreendentemente bem, não houve um dia em que faltasse água nem tempestade alguma que danificasse as colheitas, o vinho brotava avermelhado de imensos cachos e os habitantes do vilarejo se admiravam sobrecarregados como em meio a um doce sonho. O ano seguinte foi igual, embora as pessoas já se tivessem acostumado ao maravilhoso. No outono, Maria cedeu aos rogos de André e de seus próprios pais: tornou-se sua namorada e no inverno se casou com ele.
Muitas vezes lembrava com profunda nostalgia sua viagem à região oculta dos abetos; permanecia calada e séria. Apesar de tudo ao seu redor ser tão belo, conhecia algo ainda mais belo; por isso, uma leve melancolia transformava seu ser com serena tristeza. Doía-lhe ouvir seu pai ou seu marido falarem dos ciganos e ladrões que supostamente viviam na encosta escura; muitas vezes quis defendê-los, especialmente diante de André, que parecia encontrar certo prazer em falar mal deles, pois sabia que eram os benfeitores da região. No entanto, sempre reprimia suas palavras. Assim viveu durante um ano, e no seguinte ficou muito feliz com a chegada de uma filha, à qual deu o nome de Elfriede, certamente em memória dos elfos.
O jovem casal vivia com Martinho e Brígida na mesma casa, que era suficientemente ampla, e ajudava os velhos nos afazeres domésticos. A pequena Elfriede logo mostrou capacidades e talentos especiais: andou prematuramente e pôde falar tudo antes mesmo de completar os primeiros doze meses; mais ainda, após vários anos era tão inteligente e sensata e de extraordinária beleza que todos a admiravam, enquanto sua mãe não podia deixar de pensar em sua semelhança com as crianças reluzentes que habitavam a encosta dos abetos. Elfriede não gostava de estar com as outras crianças; pelo contrário, evitava, a ponto de parecer tímida, seus jogos entusiasmados, e preferia mais que tudo ficar sozinha. Então se afastava para um canto e lia ou trabalhava com afinco em sua delicada costura. Muitas vezes era vista profundamente absorta em si mesma ou caminhando de um lado para outro, falando excitadamente consigo mesma. Seus pais a deixavam felizes, pois era uma criança saudável e alegre. Mas as respostas e comentários estranhamente inteligentes os deixavam preocupados.
—Crianças tão inteligentes —disse a avó Brígida— muitas vezes não chegam à idade adulta, não são feitas para este mundo. Além disso, a menina é extraordinariamente bela e não se sentirá à vontade neste mundo.
A pequena tinha a particularidade de ficar muito aborrecida quando era ajudada em seus afazeres; queria sempre fazer tudo sozinha. Quase diariamente era a primeira a se levantar, cuidava de sua higiene com muito esmero e se vestia sozinha. Era muito cuidadosa à noite; ao guardar suas roupas e vestidos, absolutamente ninguém, incluindo sua mãe, tinha permissão de se aproximar de suas coisas. Sua mãe a observava em meio a tais caprichos; ainda não suspeitava de nada. Mas não saiu de seu espanto quando, num dia de festa em que iam visitar o castelo, ao trocar sua roupa entre forcejos, gritos e choros da criança, descobriu em seu peito, pendurada em uma corrente, uma estranha medalha de ouro; nela reconheceu imediatamente uma das tantas que havia visto na abóbada subterrânea. A pequena ficou muito assustada, confessou tê-la encontrado no jardim e, por gostar tanto, a guardou com ciúme. Rogou com tanta insistência e ternura que permitissem que a guardasse, que Maria a prendeu novamente em seu pescoço e, pensativa e silenciosamente, seguiu com ela para o castelo.
Ao lado da casa havia um celeiro e uma construção onde guardavam os utensílios de lavoura. Atrás, havia um pequeno prado com um velho galpão que ninguém visitava, pois após a nova disposição dos edifícios ficava muito longe do jardim. Era nessa solidão que Elfriede preferia ficar; lá ninguém a perturbava, de modo que seus pais não a viam durante grande parte do dia. Uma tarde, quando Maria estava nas velhas construções tentando colocar ordem e encontrar algo, notou que através de uma fenda na parede um raio de luz entrava no aposento. Teve a ideia de espiar pela fenda para observar sua filha, descobrindo que era possível remover um tijolo solto e, assim, ver diretamente para o galpão. Elfriede estava sentada em seu banquinho e, ao seu lado, a bem conhecida Zerina; ambas brincavam e se divertiam em meio a uma graciosa harmonia. A elfa abraçou a bela criança e, um tanto triste, disse:
—Minha adorada criatura! Assim como contigo, brinquei com tua mãe quando, pequena, nos visitou. Mas vocês, humanos, crescem muito rápido e se tornam rapidamente adultos e sensatos. Isso me deixa completamente triste. Ah, se permanecessem crianças como eu!
—Gostaria tanto de te agradar —disse Elfriede—, mas todos os meus acham que muito em breve ficarei sensata e não brincarei mais, pois dou claras mostras de ser uma criança precoce. Ai! Como se não bastasse, não te verei mais, querida Zerinita! É como com as flores das árvores: quão magnífica a macieira florida com seus botões vermelhos e inchados! A árvore cresce e se alarga tanto que cada homem que passa por ela pensa que será algo especial; depois vem o sol, o florescimento de seus ramos se desenvolve tão felizmente com o duro núcleo em seu interior que mais tarde expele o colorido enfeite e o joga ao chão. Então já não se pode mais ajudá-la em seu triste desenvolvimento, e deve voltar a dar seus frutos até o outono. Certamente, uma maçã também é prazerosa e agradável, mas insignificante ao lado desse florescimento primaveril. Assim ocorre também com as pessoas; não posso me alegrar por me tornar adulta. Ai, se pudesse vos visitar uma única vez!
—Desde que o rei vive conosco —disse Zerina— é absolutamente impossível, mas venho te ver muitas vezes sem que ninguém me veja ou saiba, querida; sou invisível no ar e voo como um pássaro. Oh, vamos ficar juntas por muito tempo, enquanto fores pequena! E agora, o que posso fazer para te agradar?
—Deves me amar tanto quanto eu te guardo no coração; mas façamos uma rosa para nós.
Zerina pegou de seu peito seu conhecido cofrinho, jogou dois grãos no chão e, no mesmo instante, brotou dele um arbusto verde com um par de rosas vermelhas intensas que pareciam se inclinar e se beijar. Sorridentes, cortaram as rosas e o arbusto desapareceu.
—Oh, se ao menos a vida desta rosa não fosse tão breve! —disse Elfriede—. Criatura ardente, milagre da terra.
—Dá-me! —disse a elfa, que aspirou o botão antes de beijá-lo três vezes—. Agora —disse ao devolvê-lo— permanecerá fresca e florida até o inverno.
—Quero guardar esta rosa como se fosse tua própria imagem —disse Elfriede—; quero guardá-la no canto mais secreto de meu quarto para beijá-la todas as noites e todos os dias como se fosses tu mesma.
—O sol está se pondo —disse Zerina—; já tenho que ir para casa.
Abraçaram-se mais uma vez e Zerina desapareceu.
À noite, Maria pegou sua filha, com uma sensação de angústia e respeito, em seus braços. A partir de então, deu à sua menina mais liberdade que antes e, às vezes, acalmou seu marido quando este ia à procura da criança, o que vinha fazendo há algum tempo, pois não gostava de seu excessivo isolamento e temia que pudesse se tornar uma jovem ingênua e pouco perspicaz. Sigilosamente, a mãe ia repetidas vezes até a fenda na parede e, frequentemente, encontrava a pequena e deslumbrante elfa sentada ao lado de sua filha, ocupadas ambas em algum jogo ou em uma conversa muito séria.
—Gostarias de voar? —perguntou certa vez Zerina a sua amiguinha.
—Como gostaria! —exclamou Elfriede.
Imediatamente a fada abraçou a menina e se elevou com ela de modo que ambas ficaram à altura do galpão. A mãe, inquieta, esqueceu toda precaução e espiou, assustada, com o objetivo de não perdê-las de vista; de repente Zerina levantou seu dedo e, sorridente, a ameaçou; desceu com a menina, apertou-a contra seu coração e desapareceu. Muitas vezes Maria foi advertida pela maravilhosa criança, que balançava a cabeça ameaçadoramente, embora sempre com gestos amáveis.
Maria havia dito muitas vezes, em tom de repreensão, a seu marido:
—És injusto com a gente que habita a casinha!
Quando André insistia para que explicasse por que estava contra a opinião do povo e até do conde, achando-se mais entendida, ela se continha e, desconcertada, permanecia em silêncio.
Um dia, André chegou em casa na hora do almoço mais impetuoso que outras vezes; chegou a afirmar que era necessário desterrar essa canalha por ser perniciosa para a região. Ela exclamou então, cheia de indignação:
—Cala-te! Eles são nossos benfeitores.
—Nossos benfeitores? —perguntou André, surpreso—. Os vagabundos?
Um acesso de cólera incontenível a levou a contar ao marido a história de sua juventude sob a promessa de guardar o mais absoluto silêncio, e como ele se mostrasse majoritariamente incrédulo ante suas palavras e inclinasse a cabeça tornando mais patente seu ceticismo, conduziu-o ao aposento de onde costumava observar sua filha e, para sua surpresa, viu a elfa no galpão brincando com ela.
Não soube o que dizer. Soltou uma exclamação de espanto, diante da qual Zerina ergueu o olhar. Imediatamente, esta ficou pálida, tremendo com certa agitação e mostrou-se mal-humorada sem conseguir conter sua expressão alterada, tudo o que a fez se comportar de maneira ameaçadora antes de dizer a Elfriede:
—Tu não tens culpa disso, coração meu, mas nunca conhecerão a prudência por mais inteligentes que se achem.
Abraçou a pequena, assustada e apressadamente, e voou em seguida como um corvo, lançando grasnos roucos, em direção aos abetos, além do jardim.
Ao anoitecer, a pequena permaneceu extremamente calada e, chorando, beijava sua rosa. Maria sentiu-se tomada de angústia; André mal disse algo: chegou a noite. De repente, os árvores sussurraram, os pássaros voaram lançando gritos angustiantes, ouviu-se o ribombar de um trovão que sacudiu a terra e também vozes lamentosas que o vento parecia aproximar e afastar. Maria e André não tinham coragem nem para se levantar. Enrolaram-se em seus cobertores e esperaram o dia tremendo de medo. Pela manhã, as coisas se acalmaram; tudo ficou em silêncio quando o sol penetrava com sua luz no alto dos bosques.
André levantou-se e vestiu-se; ao acordar, Maria percebeu que a pedra de seu anel havia se opacado. Ao abrir a porta, o sol brilhava claramente diante deles, mas quase não reconheceram a paisagem ao seu redor. A frescura do bosque havia desaparecido, as colinas eram mais baixas, os riachos corriam cansados e quase secos, o céu estava cinzento. Quando dirigiram o olhar para o abetal, os abetos não lhes pareceram nem mais escuros nem mais tristes que as outras árvores. Não havia nas casinhas situadas atrás deles nada que pudesse inspirar temor. Vários aldeões chegaram e contaram os estranhos sucessos da noite anterior; alguns até foram até os terrenos onde viviam os supostos ciganos, que muito provavelmente, segundo disseram, já haviam partido, pois as casinhas estavam desabitadas e seu interior parecia como sempre, semelhante ao das casas da gente pobre; até parte dos móveis havia sido abandonada.
Elfriede disse em segredo à mãe:
—Mamãe, à noite, quando não conseguia dormir por medo dos trovões e comecei a rezar fervorosamente, de repente a porta se abriu e entrou minha companheira de brincadeiras para se despedir. Trazia uma mala e usava um chapéu; trazia também um cajado enorme para a viagem. Estava visivelmente zangada contigo, pois agora terá que suportar as piores e mais dolorosas penas por tua causa. Tanto te amara sempre! De qualquer forma, segundo ela, abandonarão contra sua vontade nossa região.
Maria proibiu-a de falar sobre o assunto. Enquanto isso, o barqueiro chegou do outro lado do rio; contou coisas extraordinárias. Ao cair da noite, segundo disse, um homem de elevada estatura e aspecto estranho chegou com ele para alugar-lhe a embarcação até o amanhecer, mas com a condição de que ficasse tranquilamente dormindo em sua casa ou, ao menos, não passasse da porta para fora.
—Tive medo —continuou o ancião—, mas esse assunto estranho não me deixava dormir. Escorreguei silenciosamente até a janela e olhei para fora buscando com os olhos o rio. Grandes e turbulentas nuvens flutuavam no céu e os bosques distantes sussurravam terrivelmente. Minha cabana parecia tremer, e lamentos e uivos pareciam cercá-la lentamente. Então vi de repente uma luz branca que se estendia e se alargava, como milhares e milhares de estrelas caídas do céu. Palpitando com muito brilho, agitou-se sobre a encosta do abetal, avançou através do campo e se espalhou ao longo das águas do rio. Então ouvi por todos os lados, como se alguém caminhasse desajeitadamente, algo semelhante a um tinir e, depois, murmúrios. Dirigiram-se para meu barco e todos subiram nele; grandes e pequenas silhuetas luminosas, homens, mulheres e aparentemente crianças, assim como um homem alto e estranho que ia à frente deles para a outra margem. Milhares nadavam nas águas do grande rio, ao lado da embarcação, enquanto no ar flutuavam luzes e nuvens brancas, e não havia quem desse fim a seus lamentos e queixas por terem que viajar tão longe. O golpe dos remos sobre a água produzia um murmúrio isolado de tudo o mais, e depois, de repente, surgiu o silêncio. Muitas vezes o barco atracava e voltava em todas as ocasiões com uma nova carga. Levavam consigo muitos tonéis de grande peso, que carregavam e faziam rolar uns asquerosos anões que os acompanhavam; pareciam diabos ou duendes, não sei. Mais tarde, em meio a um fulgor ondulante, chegou um séquito adornado. Um ancião, que montava um corcel branco, parecia ser o centro em torno do qual todos se apertavam; só pude apreciar a cabeça do cavalo coberta completamente com belos e lustrosos mantos. O velho trazia sobre a cabeça uma coroa tão brilhante que, quando cruzou o rio em direção à margem oposta, pensei que o sol queria se elevar e a aurora flamejava diante de mim. Assim transcorreu toda a noite; por fim adormeci, ao mesmo tempo alegre e temeroso. Pela manhã tudo estava tranquilo, mas o rio quase desaparecera, e é tanta sua diminuição que terei dificuldades para governar minha embarcação.
No transcurso desse mesmo ano, tudo o que abarcava a vista foi diminuindo. Os bosques morriam, os mananciais se esgotavam e a região —outrora a comum alegria dos viajantes— estava no outono tão assolada, dizimada e árida por todas as partes, que mal se mostrava um pequeno lugar, em meio ao mar terroso, onde crescessem pálidas ervas. As árvores frutíferas haviam desaparecido, as vinhas se perderam e o aspecto da paisagem era tão triste que no ano seguinte o conde abandonou com sua família o castelo, que com o tempo ficou em ruínas.
Elfriede, mergulhada na maior tristeza, contemplava noite e dia sua rosa. Lembrava-se de sua companheira de brincadeiras e, à medida que a flor se inclinava e secava, também ela ia inclinando sua cabecinha, até consumir-se antes da primavera. Maria ficava muitas vezes em frente à casinha e implorava e chorava pela felicidade perdida. Consumiu-se como sua pequena filha e morreu após poucos anos. Então o velho Martinho foi viver com seu genro na região onde outrora havia vivido.

