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Suassuna (Pedra do Reino) – um pequeno rabo judaico-sertanejo, o cotoco

— Apesar de tudo   isso, no meu caso particular, com todo o orgulho   judaico-sertanejo, mouro-vermelho e negro-ibérico que sinto, o cotoco me prejudica e muito! Primeiro, ele existe mesmo, em mim, Sr. Corregedor: no fim   das minhas costas, o osso que fica entre as duas bundas, tem uma pequena saliência, um   pequeno rabo   judaico-sertanejo, o cotoco enfim! Depois, não sei se por causa   do osso, ou porque a dose de sangue   judaico que eu tenho é maior do que a dos paraibanos comuns, o fato é que a coisa mais difícil para mim é ficar sentado num lugar mais de cinco minutos: o cotoco dana-se a incomodar, a bunda dói, e começa a me dar uma agonia da gota-serena, uma gastura na natureza   que só passa quando eu me levanto e faço qualquer coisa! Ora, a qualidade mais indispensável para uma pessoa ser   escritor   é a capacidade de ficar sentado, feito um cu-de-ferro, pensando e escrevendo! É por isso que só agora, graças ao senhor e a Margarida, é que vou fazer   meu romance-epopeico, uma Obra de fogo   e sangue, “inflamada de furor épico  , rubra, empenachada de altivez e de vitórias, dolorosa, das renúncias graves e da vida   cantante, por amor   a uma defesa, a um símbolo, a um ideal, à Pátria”, como dizia a genial Albertina Bertha! [SUASSUNA  , A Pedra do Reino, Folheto L]


Ver online : SUASSUNA, Ariano. O Romance da Pedra do Reino. Rio de Janeiro : José Olympio, 2012.


SUASSUNA, Ariano. O Romance da Pedra do Reino. Rio de Janeiro: José Olympio, 2012.