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René Daumal – Contra-Céu IV

e contemple:
um   Mar   borbulhante diante de você;
a palavra SIM brilhando, refletida em cada bolha.
O NÃO é macho, ele observa a fêmea.
 
O mesmo ato   negador que faz o sujeito consciente   faz o objeto percebido. Despertar   é se colocar a pensar   alguma coisa exterior a si mesmo  ; aquilo que se identifica com o seu corpo  , ou com quem quer que seja, adormece.
 
A negação   é um ato simples, imediato e procriador, por assim dizer, macho. O que é negado, tomado em geral e a priori, pode ser   considerado o princípio comum a todos os aspectos, portanto, como fêmea.
 
O ato de negar, privado, por definição, de toda determinação positiva, é idêntico ao ’eu em seu movimento perpétuo; o objeto negado surge sem cessar, múltiplo e diverso, como o que não é eu, o que não é feito de minha realidade   substancial, como, segundo a Cabala  , um vazio, uma bolha na substância absoluta.

Ver online : DAUMAL, René. Le Contre-Ciel. Paris: Gallimard, 1955


R. Daumal, Le contre-ciel (1936; ed. completa póstuma 1955; prêmio Jacques Doucet 1935), Gallimard, col. Poésie, 1970.