Litteratura

Página inicial > Ditados > René Daumal – Ambivalência das expressões verbais

Chaque fois que l’aube paraît

René Daumal – Ambivalência das expressões verbais

Les limites du langage philosophique et les savoirs traditionnels (1935)

segunda-feira 30 de junho de 2025

Esse momento é aquele em que um homem, tendo adquirido um conhecimento, quer transmiti-lo com palavras. Primeiro para torná-lo um objeto do mundo, para lhe dar uma forma definida e assim se libertar completamente do problema que acabou de resolver; depois para que outros possam se beneficiar dessa aquisição.

É quase desnecessário dizer que a própria pesquisa que levou a esse conhecimento não pode ter sido uma pesquisa verbal. Nenhum mecanismo verbal pode criar verdade. Nenhum pensamento real pode se expressar em palavras se não tiver sido vivido. Mas o uso constante da linguagem falada nas relações humanas gera a ilusão de que a linguagem pode conter em si mesma um conhecimento. Na cidade onde moro, se um estrangeiro me perguntar o caminho; eu lhe direi com palavras. Mas ele percorrerá esse caminho só porque já tem uma razão ou um desejo de ir a tal lugar da cidade. Ora, desde sempre, os homens que conseguiram viver um conhecimento viram outros homens se aproximarem para lhes perguntar o caminho; aqueles que tinham um objetivo e um desejo de ir recebiam suas indicações e partiam. Mas a maioria ficava ali, contentando-se em decorar as explicações do mestre, em embelezá-las com retórica, em colocá-las em formas lógicas, finalmente em traçar mapas; e, ao fazer isso, imaginavam estar viajando. Aquele que havia sido príncipe, rico, possuidor de um vasto harém e de escravos, como o Buda em sua juventude, dizia aos que vinham encontrá-lo: prazeres e riquezas são vãos e desprezíveis. E muitos, que nunca haviam provado nem possuído nada, renunciavam ao que não tinham, privavam-se de tudo para não encontrar nada; o mestre havia feito toda a viagem de uma vida humana, e dizia: eu paro; eles paravam antes de partir. Assim, a expressão nua de um conhecimento vivido pode induzir o ouvinte ao erro exatamente oposto, se o ouvinte não tiver primeiro o desejo de conhecer vivendo. Inversamente, se o ouvinte tiver esse desejo, duas expressões contraditórias em seus termos poderão incitá-lo igualmente a perseguir seu objetivo. Cristão, ele poderá dizer: "tenho apenas uma vida terrestre, portanto devo me esforçar para alcançar meu objetivo sem perder tempo"; budista, dirá: "o que deixei de fazer hoje, sofrei por vidas a fio; portanto, devo a cada instante me esforçar para fazer conscientemente o que faço, para evitar sua repetição perpétua e pior". Mas — mais comumente, pois o homem teme o esforço — o cristão pensará: "Deus é tão bom... tudo se arranjará; e além disso meu destino está decidido de antemão"; e o budista: "tenho mil vidas pela frente; sempre terei tempo...".

Escolhi exemplos da ordem moral porque a ambivalência das expressões verbais ali é flagrante. É dessa ambivalência que provém o caráter de dois gumes dos dogmas religiosos: originados de um pensamento real e testado em uma vida humana, eles são para alguns um estímulo para fazer em sua própria vida uma experiência análoga. Mas para a maioria são um porto de preguiça, e quanto maior for a autoridade do dogma aos seus olhos, mais eles confiam nesse dogma para não terem que pensar nem inventar nem buscar por si mesmos: já que tudo já foi encontrado — por outros! E justamente esse caráter ambíguo do dogma — religioso ou outro — indica que não é apenas na ordem moral que a expressão verbal corre o risco de sufocar a pesquisa. Na especulação também, o mesmo ciclo paradoxal se perpetua. Quanto mais um pensador colocou realidade em suas palavras, mais suas palavras terão autoridade, mais elas arriscam se tornar dogmas sufocadores de dúvida; e a dúvida é o motor da pesquisa intelectual. Conheço a história de um jovem do qual alguns fanáticos queriam fazer um Messias. Esse infeliz não cessava de proclamar aos milhares de pessoas que vinham escutá-lo: "Deixem-me! Não posso lhes ensinar nada! Vão embora! Busquem por si mesmos! É no fundo de sua própria vida que cada um deve buscar a verdade." E os fiéis diziam: "Como é verdade! Só pode ser um deus que fala assim"; e se prostravam ainda mais.

Nesse caso particular, a inversão de valor de uma fórmula verbalmente justa havia tomado um rumo caricatural. Mas no menor ramo do ensino, o mesmo problema se coloca sem cessar ao professor ou ao pedagogo: como ensinar com palavras sem correr o risco de fazer tomar a fórmula pelo pensamento, ou a regra de ação por um fato consumado? Felizmente, em todos os ramos do ensino além da Filosofia geral, sabe-se que a linguagem empregada não contém seu fim em si mesma; sabe-se, por exemplo, que não se curará nenhuma doença recitando um tratado de medicina como uma fórmula mágica. Mas quando se trata de Filosofia geral, age-se como se a linguagem empregada fosse um fim em si mesma; no melhor dos casos, adota-se uma atitude de laissez-faire: se o aluno tem o desejo de conhecer e experimentar, encontrará um suporte e um incentivo nessa linguagem; senão, paciência. O que é grave é que às vezes é preciso tomar esse "paciência" ao pé da letra, e que se arrisca, a golpes de "verdades" verbais, matar toda pesquisa real.

Esse problema, todos os homens que pensaram e buscaram exprimir o fruto de seu pensamento tentaram, com maior ou menor sucesso, resolvê-lo. Quero apenas passar em revista alguns dos meios mais eficazes que encontraram. Não falo do exemplo vivo que puderam, em seu tempo, dar a seus alunos; mas apenas daquilo que buscaram transmitir, por meio de palavras, à posteridade [1].

À letra, "transmitir" é falso. Na mais rica biblioteca, não há um átomo de pensamento: apenas coleções de signos tipográficos em folhas de papel. Tudo o que se pode transmitir é um vaso para o pensamento ou um aguilhão para o pensador; mas se o leitor de um livro terá um pensamento para derramar nesse vaso, ou se reagirá ao aguilhão, isso só depende dele.


Ver online : DAUMAL, René. Essais et notes II. Les pouvoirs de la parole (1935-1943). Paris: Gallimard, 1993


DAUMAL, René. Essais et notes II. Les pouvoirs de la parole (1935-1943). Paris: Gallimard, 1993


[1Quase limitei inteiramente esse exame aos encontros que tive com Sócrates e alguns pensadores da Índia antiga, não querendo falar senão de experiência.