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Essais et notes II. Les pouvoirs de la parole (1935-1943)
René Daumal – A patafísica dos fantasmas (Segunda Versão)
terça-feira 1º de julho de 2025
"O que é um buraco?", perguntava um palhaço ao seu comparsa na pista do Medrano. Tendo o deixado embaraçado, apressava-se a triunfar: "Um buraco", dizia, "é uma ausência rodeada de presença". Para mim, este é o exemplo da definição perfeita e a tomarei emprestada para precisar meu objeto. Um fantasma é, de fato, um buraco; mas um buraco ao qual se atribuem intenções, uma sensibilidade, costumes; um buraco, isto é, uma ausência – mas a ausência de alguém e não de algo – rodeado de presença – da presença de alguém ou de alguns. Um fantasma é um ausente rodeado de presentes. E como é a substância perfurada que determina a forma do buraco e não a ausência que esta presença rodeia – pois é apenas por brincadeira que se fala daqueles canhões de outrora que os fundidores fabricavam pegando buracos e vertendo bronze em volta – assim, quando atribuímos a um fantasma intenções, uma sensibilidade e costumes, estes atributos residem não no ausente, mas nos presentes que rodeiam o fantasma.
Esta observação nos servirá ao mesmo tempo para estabelecer o único método razoável de fantasmologia.
Este método, que consiste em aplicar a ausências as regras da ciência mais objetiva, chama-se desde Alfred Jarry Jarry Alfred Jarry (1873-1907) a patafísica. É uma ciência cheia de armadilhas, como se verá; se ao menos chegar a meus fins, pois não sei se terei forças. Seria preciso, para ser bom patafísico, ser ao mesmo tempo poeta: entendo por isso alguém que cria aquilo de que fala no momento em que fala. Se dirá que tenho justamente bom jogo: falando de ausências, é fácil criá-las; basta não fazer nada. Mas não, não é fácil, primeiro, não fazer nada. Em segundo lugar, se esquece o segundo termo da definição: rodeadas de presenças; de presenças parciais, é claro, mas ainda assim para falar dos ausentes seria preciso estar algo presente.
Tentemos, no entanto. O que é óbvio e perceptível, em matéria de fantasmas, não são os fantasmas, mas os indivíduos que declaram ver ou ter visto ou poder ver fantasmas. Se examinarmos sua maneira de ser ou, como se gosta de dizer hoje, seu comportamento, constataremos que esses indivíduos estão presentes com exceção dos fantasmas. Quer dizer que os fantasmas são buracos em sua substância, que aparecem sob as figuras de falhas e de rasgos na trama de sua visão de mundo. Vejamos como aparecem esses buracos. Seguiram com muita boa vontade este preâmbulo um pouco abstrato. Temos, eu e o leitor, desembainhado nossos espíritos críticos dos grandes dias. Mantemos nossas cabeças eretas e nossos olhos bem abertos. Se perguntar quantos são 24 fantasmas mais 13 fantasmas, não terão nenhuma dificuldade em fazer este cálculo mentalmente, não é mesmo? Está feito? Bom. Estamos, portanto, em plena posse de nossos mecanismos intelectuais. Impossível, desta maneira de ser, ver aparecer um fantasma. Agora pergunto: sinceramente – mas bem sinceramente – acredita em fantasmas? Busque em suas memórias. Há histórias bastante perturbadoras que vêm à mente. Se não viu fantasmas, seus amigos viram; senão eles, os amigos deles. Lembre-se. Pode-se, realmente, negar os fantasmas?
Há um fato certo; é que bastou-nos fazer esta pergunta para que eu e o leitor cedêssemos um pouco. À medida que sobem as lembranças e os medos, as costas se curvam, os rostos se abaixam, os olhos se velam – ou então uma emoção secreta nos toma – recolhemos muito suavemente nossos espíritos críticos, colocamos nossa razão em modo de espera e, por pouco, a apagaríamos. É então que teriam aparecido os fantasmas.
É então, mais geralmente, que nasce o oculto, o misterioso. O elemento emotivo deste misterioso é o medo. Seu elemento intelectual é a curiosidade: desejo de ver sem perceber, desejo de que algo se represente em nós sem que tenhamos que fazer o esforço de representá-lo. E o amor-próprio une estes dois elementos. As pessoas mais sensatas, mesmo as mais céticas, assim que se permitem falar de fantasmas, abandonam subitamente sua razão. Depois – vê-se até em sua maneira de se portar, ouve-se em sua voz – descendo para as regiões obscuras, tentam insinuar-se, pelas vias turvas do medo e da curiosidade, em um mundo proibido. Este recuo do homem para baixo cria no alto um vazio, uma ausência; o homem não habita mais seu posto superior de observação. Ora, é nesta câmara do alto que se elaboram, se projetam e se verificam as imagens do mundo, pelas janelas de nossos sentidos. Agora que a câmara do alto está vazia, este vazio se projetará na representação do mundo, este vazio se fará um lugar entre o que subsiste de visão razoável, e esta ausência rodeada de presença é um fantasma; é, propriamente, um revenant, no caso em que nosso medo e nossa curiosidade são dirigidos aos mortos. Esta ausência parece visível como o ar parece visível, sob forma de bolhas, em um líquido; e ela tem suas leis. Assim, quando minha razão abdica, o medo se desperta em mim e, buscando uma desculpa no exterior, a encontra nesta ausência – pois o que existe claramente não causa medo. Portanto, o fantasma será aterrorizante; portanto terei medo; portanto, o fantasma será aterrorizante – e aqui estou eu pego: o fantasma e eu nos geramos um ao outro, ele me persegue como a sombra a luz. E se o leitor vir meu terror, se me vir ver um fantasma, ao me ver também verá o fantasma; como, se eu acompanhar atentamente com o olhar um ponto móvel no ar, verá um mosquito imperceptível, e, se eu mimicasse um pouco melhor, veria este inseto invisível. Ora, que mímica é mais convincente que a brutal sinceridade do terror?
Reacendamos nossa razão. O leitor dirá que apenas desenvolvi a opinião banal segundo a qual os fantasmas seriam alucinações coletivas. Lisonjeio-me de ter feito melhor. Alucinação é uma palavra que não explica nada; é uma palavra puramente negativa da realidade dos fantasmas. Enquanto a método patafísico permite distinguir entre as ausências qualidades, quantidades e graus, da mesma maneira que a álgebra permite fazer cálculos sobre quantidades negativas – ou mesmo irracionais, ou mesmo ainda não representáveis.
Queria aqui apenas dar uma ideia geral do método. Dispensarei as argumentações técnicas e chegarei agora a alguns fatos, referentes aos fantasmas, dos quais a patafísica pôde dar conta.
Primeiro, como se deslocam os fantasmas? "Dialéticos" me fizeram recentemente a pergunta. A resposta é óbvia: os fantasmas podem aparecer onde lhes é dado lugar, onde encontram a menor resistência, a menor presença. Como a água vai para as depressões, assim os espectros vão para as ausências, ausências no sentido em que se diz de alguém que tem ausências. O leitor certamente foi atormentado, quando criança, pelo problema da bola de borracha que, um pouco desinflada, apresentava um afundamento de sua superfície. Esta depressão, no momento em que a fazia desaparecer pelo paciente trabalho dos dedos, reaparecia imediatamente em algum outro lugar. Um fantasma viaja da mesma forma; negado aqui, reaparece lá. Pois não basta negá-lo; é preciso preenchê-lo para destruí-lo. E como preencher a bola de borracha? Soprando dentro, empurrando de dentro, restabelecendo a pressão normal. Mantenha-se sob pressão, e os fantasmas desaparecerão, como se diz que a doença se vai para significar que a saúde retorna.
Em seguida, apesar da incrível diversidade de aspectos que se atribuem aos fantasmas, eles têm, no testemunho daqueles que os viram, um caráter comum, é sua estupidez. Podem ter, por vezes, certas qualidades de coração. Mas intelectualmente têm todos os caracteres do gaguejar, da mania de perseguição, ou da idiotice congênita. Espíritos limitados, incapazes de uma ideia geral, maníacos, divagam, uns no gênero lúgubre, outros no gênero engraçado. Isso também é óbvio, em virtude de seu modo de produção, que exige a abdicação do poder crítico. Quando o sol se põe, a noite vem; é o bom senso mesmo.
Outra questão é a dos lugares assombrados por fantasmas. Por que aparecem preferencialmente em velhas moradias feudais, em cemitérios, em casas onde crimes foram cometidos? Há aqui duas causas a considerar. Primeiro, todas as lembranças de morte, convidando o homem a representar sua própria ausência, o induzem à absurdidade. Se, diante desta absurdidade, sua razão renuncia, ele cai no medo animal e, ao mesmo tempo, prepara o lugar, o molde, o buraco que será um fantasma. Por outro lado, os fantasmas não assombram os lugares onde se trabalha. Da mesma forma, um homem em atividade, seja o que for que produza, não tem lugar em si para os fantasmas. Pelo contrário, nas casas daqueles que esqueceram sua função original de proteger a terra e que persistem em viver uma vida de ociosidade, de ausência de vida, há lugar para os fantasmas. Uma sobrevivência atrai uma sobrevivência, uma superstição atrai a outra.
O fantasma é esta absurdidade: um morto vivo. Por extensão, damos por vezes o nome de fantasma a esta outra absurdidade: um vivo morto. Mas aos vivos mortos, preferimos chamar vampiros; dotados de um corpo de carne pesável e mensurável, passeiam pelo mundo sua vacuidade ávida, agarram-se aos seres humanos e, com a ajuda de palavras fétidas ou melífluas, os tomam por seus sentimentos e seus instintos mais baixos, que não são os menos fortes, e os sugam e os esvaziam.
A patafísica não se contenta em explicar os fatos. Ao mesmo tempo, permite agir sobre eles. Os poucos princípios de ciência fantasmática e os poucos exemplos que expus poderão, se verá, servir para combater eficazmente fantasmas e vampiros. Combatê-los, dirão? Os odeia, então? – Odiar ausências? Se quiser; se quiser dizer assim amar o que é: modo de falar.

Ver online : DAUMAL, René. Essais et notes II. Les pouvoirs de la parole (1935-1943). Paris: Gallimard, 1993
DAUMAL, René. Essais et notes II. Les pouvoirs de la parole (1935-1943). Paris: Gallimard, 1993