Barfield, 1967
Quanto ao número de palavras que descendem indiretamente do sentimento religioso pré-histórico, não é possível contá-las. Só podemos dizer que, quanto mais longe recuamos na história da linguagem como um todo, mais poéticos e animados seus fundamentos parecem, até que, por fim, parecem se dissolver em uma espécie de névoa de mito. A beneficência ou a malignidade—o que pode ser chamado de qualidades da alma—dos fenômenos naturais, como nuvens, plantas ou animais, causam uma (…)
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Obras e crítica literárias
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Palavras (Barfield)
25 de abril, por Murilo Cardoso de Castro -
Pânico (Barfield)
25 de abril, por Murilo Cardoso de CastroBarfield, 1967
Vamos pegar duas palavras comuns em inglês, panic e cereal, e compará-las etimologicamente; devemos ambas aos personagens da mitologia clássica. Cereal vem de Ceres, a deusa romana do trigo e das flores, e panic vem de Pã, um deus da natureza grego, considerado o protetor dos rebanhos e manadas. Mas aí a semelhança termina; pois não apenas uma é latina e a outra grega, mas uma é o nome de um objeto que podemos tocar e ver, enquanto a outra se relaciona com aquele mundo (…) -
Dies – Dyaus [Dia - Deus] (Barfield)
25 de abril, por Murilo Cardoso de CastroBarfield, 1967
As palavras em inglês "diurnal", "diary" e "dial" derivam do latim dies (dia), enquanto "journal" chega até nós, via língua francesa, da mesma raiz. Essas sílabas ocultam entre si a concepção religiosa central comum às nações arianas. Desde os registros mais antigos, a palavra em sânscrito dyaus, o grego zeus (acusativo dia) e o teutônico tiu eram usados em contextos onde hoje usamos a palavra céu, mas também eram usados para significar Deus, o Ser Supremo, o Pai de todos os (…) -
O Simbolismo das ilustrações de Poty em "Grande Sertão" de Guimarães Rosa
22 de abril, por Murilo Cardoso de CastroUtezaMGS
Quanto às ilustrações de Poty, sabemos pelo testemunho do editor, que figura na coletânea de homenagens publicada no Rio de Janeiro, em 1968, com o título Em Memória de João Guimarães Rosa, que o próprio Poty havia realizado dois projetos, ambos sob as sugestões do escritor. Em comentário que acompanhava a reprodução do projeto que não fora aproveitado, o editor dizia: Acaso será fácil adivinhar o que são esses desenhos cabalísticos? Por certo que não: pois são desenhos que Poty (…) -
O Simbolismo do Adro em "Grande Sertão" de Guimarães Rosa
22 de abril, por Murilo Cardoso de CastroUtezaMGS
GRANDE SERTÃO: VEREDAS. Três palavras, reunidas em duas expressões a priori geográficas, compõem uma unidade intermediada pelos dois pontos que as colocam em uma [56] relação ao mesmo tempo de oposição e de complementaridade. Um espírito ocidental reconhecerá aí sobretudo a oposição:
O sertão acaba sendo toda a confusão e tumultuosa massa do mundo sensível, caos ilimitado de que só uma parte ínfima nos é dado conhecer, — precisamente a que se avista ao longo das veredas, tênues (…) -
"Poema Sacro" da Divina Comédia (Dante, Canteins)
19 de abril, por Murilo Cardoso de CastroCanteinsD
O segundo ponto é a qualidade de "Poema Sacro" da Divina Comédia. A expressão é do próprio Dante, que a emprega duas vezes no Paraíso. A raridade e a exclusividade desse uso são significativas: à medida que desenvolvia sua obra, Dante tomou consciência mais precisa da natureza do texto que estava criando e comunicou isso ocasionalmente. Isso poderia justificar a surpreendente e suspeita ausência da expressão na Epístola a Can Grande della Scala, Senhor de Verona. Aqueles que (…) -
Interferência entre a vida terrena de Dante e sua Peregrinação no Além. (Canteins)
19 de abril, por Murilo Cardoso de CastroCanteinsD
Quando, na véspera da Sexta-Feira Santa do ano 1300, Dante está prestes a empreender sua extraordinária viagem, ele está no meio de sua vida: prestes a completar trinta e cinco anos. Ele próprio estima, no Convivio (IV. xxiii e especialmente IV. xxiv.1-4), que a duração da vida humana é de setenta anos (o excedente, até oitenta e um anos, além da velhice, sendo fortemente variável e incerto), de forma que, nascido no final de maio de 1265, ele poderia, segundo essa norma, prever (…) -
Dante faz de uma peregrinação, uma revelação (Canteins)
19 de abril, por Murilo Cardoso de CastroCanteinsD
Tendo se proposto a explicar sua concepção da vida após a morte por meio de uma peregrinação sobrenatural sucessivamente pelo Inferno, Purgatório e Paraíso, Dante se viu obrigado a lidar com várias noções que a Igreja define como Mistérios, ou seja, verdades que, embora inacessíveis à razão, derivam essencialmente da revelação divina. Dante foi confrontado, em particular, com os três principais mistérios do cristianismo: Redenção, Trindade e Encarnação, e nosso estudo se (…) -
Dante justifica o título [Divina] Comédia (Canteins)
19 de abril, por Murilo Cardoso de CastroCanteinsD
Na Epístola XIII a Can Grande délia Scala, Dante justifica o título [Divina] Comédia pelo fato de que o final é feliz, enquanto o início não é. Portanto, foi com base no final de sua Peregrinação que Dante pôde dar esse título ao seu poema. Se, como ele mesmo diz, o início é trágico, então foi necessária uma série de reviravoltas da sorte para mudar para melhor o que havia começado tão mal. É isso que vemos, portanto, podemos definir a Peregrinação como uma série de reviravoltas (…) -
"Considerai a doutrina que se oculta sob o véu de versos insólitos" (Dante, Canteins)
19 de abril, por Murilo Cardoso de CastroCanteinsD
Essa reserva em relação ao esoterismo não impede a consideração da "alegoria"; esta é tão inerente ao pensamento e à formulação de Dante que não se pode estudar o Poeta sem constatar seus recursos infinitos e a polissemia resultante, tão propícia a dissuadir os literalistas empedernidos. Encontraremos muitos exemplos ao longo das páginas, mas, previamente, convém identificar as breves passagens que reivindicam ou justificam seu uso: frases-chave lançadas por Dante de passagem, (…)