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"Considerai a doutrina que se oculta sob o véu de versos insólitos" (Dante, Canteins)
sábado 19 de abril de 2025
CanteinsD
Essa reserva em relação ao esoterismo não impede a consideração da "alegoria"; esta é tão inerente ao pensamento e à formulação de Dante Dante Dante, Alighieri (1265-1321) que não se pode estudar o Poeta sem constatar seus recursos infinitos e a polissemia resultante, tão propícia a dissuadir os literalistas empedernidos. Encontraremos muitos exemplos ao longo das páginas, mas, previamente, convém identificar as breves passagens que reivindicam ou justificam seu uso: frases-chave lançadas por Dante Dante Dante, Alighieri (1265-1321) de passagem, como meias-confidências, que são tanto profissões de fé quanto discretos convites ao leitor para entrar no "jogo" da analogia, da simbólica, em suma, de uma metalinguagem que, por suas intenções, confina com — e em muitos casos implica — a abordagem esotérica.
A passagem mais decisiva, nesse aspecto, é Inferno IX. 61-63. Dante Dante Dante, Alighieri (1265-1321) ali afirma os poderes do trobar clus:
"Ó vós [leitores] que tendes são entendimento, considerai a doutrina que se oculta sob o véu de versos insólitos" (versi strani)
Se o poema tem uma aparência ao mesmo tempo "estranha" e "estrangeira", é porque nele se esconde um sentido profundo, uma verdade secreta que só pode ser dita com palavras veladas. É o princípio do arcano que, sob a noção de alegoria, Dante Dante Dante, Alighieri (1265-1321) enuncia aqui, e encontramos uma versão ainda mais paradoxal em Convivio II.i.3, em uma passagem onde, precisamente, o Poeta se propõe a dizer o que se deve entender por sentido alegórico. Tendo indicado que esse sentido "se esconde sob o manto das fábulas", ele acrescenta sem rodeios: "é uma verdade oculta sob uma bela mentira".
Não se pode deixar de aproximar essa explicação daquela dada por Teão de Alexandria sobre o mito. Tratamos disso, em 1986, no prefácio de O Oleiro Demiurgo (p. 12) e não voltaremos a sua interpretação; basta lembrar sucintamente que havíamos aproveitado a fórmula de Teão: "O mito é uma palavra de ficção (logos pseudes) representativa da verdade" para dar do mito uma definição metafísica: é um discurso que diz o que não é (e não que diz o falso) para ensinar o que é (ou seja, essencialmente, o Verdadeiro). É duvidoso que Dante Dante Dante, Alighieri (1265-1321) tenha conhecido o texto do retórico grego, mas sua fórmula era suficientemente sugestiva para ter chegado indiretamente ao Poeta florentino: é o que atestaria a expressão parola fittizia empregada na mesma passagem e em II.xii.8,10 e xv.2.
O que é notável é que Dante Dante Dante, Alighieri (1265-1321) , não contente em atribuir à alegoria um enunciado aplicável ao mito, assume a paradoxal alquimia à qual, sob a máscara do "não-verdadeiro", a verdade secreta deve se submeter para poder ser dita impunemente. Nisso, Dante Dante Dante, Alighieri (1265-1321) se revela um mestre da alegoria consciente do que está em jogo, como mostra, em Inferno XVI. 124, esta alusão precisa do Convivio:
"... à verdade que tem a face da mentira"
Resulta de nossa definição citada acima que se deve entender aqui "mentira" por "não-verdade", o que equivale a dizer, conforme a fórmula muito adequada de R. Holländer (op. cit.), que se trata de uma menzogna vera.
Nesse ponto, a alegoria tende a se confundir com a anagogia, ou seja, com um "sobre-sentido" transcendente ao sentido literal ou imediato, que é apenas a face aparente de um sentido desconhecido da maioria dos homens, um contexto que não deixa de lembrar o Livro selado da Revelação (Apoc.V.1), livro duplo, à imagem do Livro de Ezequiel (II. 10), possuindo um sentido interior ou místico (scriptus intus) contido em um sentido exterior ou literal (scriptus foris), o que justifica a polissemia (sensus polysemos) de que se gaba a Epístola XIII a Cangrande della Scala.
Depois do que acabamos de ler, pode parecer inconsistente da nossa parte termos, no entanto, nos empenhado em escrever sobre Dante Dante Dante, Alighieri (1265-1321) . A resposta é que Dante Dante Dante, Alighieri (1265-1321) é aqui tanto o suporte quanto o objeto de nosso propósito: a revelação de uma cristologia dantesca baseada na constatação de uma dupla congruência: por um lado, a Peregrinação de Dante Dante Dante, Alighieri (1265-1321) menciona retornos2 tão significativos quanto os já observados em Cristo ao longo de sua Paixão; por outro, a Divina Comédia trata precisamente de Mistérios cristãos dos quais não se falou em nosso último livro sobre esse assunto (Éditions du Rocher 1996). A partir daí, o encanto dantesco certamente operou; limitamos seus efeitos tanto quanto possível. O "poder e o impulso de identificação... em Dante Dante Dante, Alighieri (1265-1321) " (J. Risset, op. cit.) culminam em sua assimilação final a Cristo, e é nessa medida que o presente livro prolonga o anterior.
Nos engajamos nisso não sem uma longa preparação. Nos impusemos uma prática constante do texto original da Divina Comédia e a múltiplas incursões no da Vita Nova e do Convivio. Levamos em consideração as traduções, comentários e trabalhos de vários grandes especialistas ou eruditos italianos (Scartazzini, Valli, Tondelli etc.), ingleses (Moore etc.) e franceses. Destes últimos, lemos e examinamos quase tudo o que pôde aparecer desde o século XIX até hoje. Só os citamos na medida em que sua contribuição nos foi realmente proveitosa. A esse respeito, apesar de sérias discordâncias pontuais, devido à sua inquestionável competência, as publicações de André Pézard foram uma fonte constante de referência, e isso apesar de sua lamentável decisão de traduzir Dante Dante Dante, Alighieri (1265-1321) em francês arcaico. Longe de subestimar o esforço exigido, contestamos sua oportunidade e utilidade4. Isso nos levou a consultar outras traduções, mas também a tentar traduzir nós mesmos passagens particularmente pregnantes. Essas tentativas de tradução só se justificam no contexto em que são feitas; nos foram impostas sempre que as traduções existentes falhavam em reproduzir um detalhe, muitas vezes uma sutileza estilística ou semântica, que era justamente o sal da passagem. Não se deve, portanto, ver nelas a menor preocupação literária: essas tentativas pontuais não são generalizáveis e não competem com nenhuma tradução existente. Trata-se de uma perspectiva diferente. O estudo da visão final do Paraíso nos levou a dedicar a maior atenção a certos aspectos do ensino de Joaquim de Fiore e à posteridade joaquimita. Além dos trabalhos fundamentais de L. Tondelli, M. Reeves e B. Hirsch-Reich (lamentemos, nessa ocasião, a ausência de obra notável em francês) sobre o Liber Figurarum, também levamos em consideração os que tratam da reivindicação dos "Espirituais" franciscanos e da triste história do fracasso, por parte do Papado, de seu ideal de regeneração da Igreja. Tal ambiente, ao mesmo tempo espiritual, intelectual e político, exerceu sobre Dante Dante Dante, Alighieri (1265-1321) uma influência de natureza totalmente diferente daquela dos eventos, de impacto principalmente afetivo, que o expulsaram de Florença; são estes últimos, mais fáceis de avaliar, que os dantólogos geralmente destacam, embora tenham tido repercussões provavelmente menos profundas e menos importantes sobre a personalidade e o pensamento do Poeta.

