Não um problema exclusivo da Idade Média, embora nela encontrasse eco enorme. Antes problema de choque para todos os homens — o animal que mais escapa à fascinação do momento efêmero e que, por isso mesmo, melhor entra na consciencialização do tempo e da morte, sentindo em si a ferida estranha do ir passando.
Como na água-forte de Alberto Dürer, o homem e a morte cavalgam lado a lado. A morte e o tempo, simbolizado na ampulheta fatal na mão descarnada.
E assim, vivemos ilaqueados pelo (…)
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Obras e crítica literárias
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Mário Martins – Introdução histórica à vidência do tempo e da morte
4 de julho, por Murilo Cardoso de Castro -
Zarader – Blanchot: a paixão da noite (Faux pas)
4 de julho, por Murilo Cardoso de CastroPartir-se-á de uma «experiência», tal como ela se apresenta a uma «consciência». É possível que essas palavras — consciência, experiência — se revelem finalmente impróprias, mas ainda não sabemos disso. Damonos a nós mesmos uma consciência em confronto com um mundo, segundo todo o leque de sua experiência, ou seja, exposta a tudo o que pode encontrar. E isolamos uma experiência que nos propomos a descrever em seu modo de aparição, ou seja, na forma como é vivida pela consciência — sem (…)
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Paul Arnold (Hermès) - Cosmos de Baudelaire (2)
4 de julho, por Murilo Cardoso de Castrotradução
Diante dessa propensão inerente à alma condenada a se aliar ao mundo formal, o poeta das Flores só vê uma atitude possível, um remédio para o Irremediável: o estado de vigília ou de vigilância permanente. É a hiperconsciência que ele cultiva com fervor e da qual o remorso é apenas o aspecto moral.
A “consciência no mal” impede as obras, essencialmente más, como sabemos, de macular o corpo sutil, de afundar ainda mais o espírito na matéria e de afastá-lo assim um pouco mais de (…) -
Paul Arnold (Hermès) - Cosmos de Baudelaire (1)
4 de julho, por Murilo Cardoso de Castrotradução
Há meio século, as diversas confissões e filosofias disputam a obra de Charles Baudelaire não menos avidamente que as capelas literárias que se sucederam desde Arthur Rimbaud. Embora o espetáculo de suas inquietações morais e religiosas devesse levar os críticos a uma absoluta sinceridade, a uma impiedosa objetividade, o impulso das ideias e, mais ainda, o fervor religioso e a paixão filosófica os levaram a estender a toda a obra baudelairiana conclusões que por vezes só se (…) -
Patocka – Fausto de Thomas Mann
3 de julho, por Murilo Cardoso de CastroA solução goethiana da questão de Fausto, solução que rejeita a venda da alma imortal como impossível, nos conduz assim a uma outra versão ainda, quase contemporânea, da mesma lenda. Faz apenas vinte e cinco anos que Thomas Mann publicou seu Doutor Fausto, que tentaremos agora confrontar, como terceira figura fundamental, às duas precedentes. Partiremos mais uma vez da situação histórica que ali se reflete.
A situação comporta mais uma vez um “império germânico”, que se apresenta, no (…) -
Patocka – Fausto de Goethe
3 de julho, por Murilo Cardoso de CastroTanto no Volksbuch quanto em Marlowe, em sua primeira versão poética, a história de Fausto permanece ao mesmo tempo uma lenda explicitamente alemã, situada com precisão em um lugar do mundo e um ponto no tempo. A unidade da cristandade não existe mais. Os países das fronteiras ocidentais se libertam abertamente dos laços impostos pela autoridade e pelo poder espiritual. No entanto, mesmo na fragmentação e no caos do período da Reforma, o Sacro Império Romano permanece fundamentalmente (…)
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Daniel Vouga (Baudelaire) – dandismo e desprezo
3 de julho, por Murilo Cardoso de CastroEntre outros projetos que nunca realizou, Baudelaire menciona várias vezes um artigo sobre "o dandismo literário" (cf. por exemplo Correspondance, III, p. 244); e entre os dândis, inclui Joseph de Maistre. Não especifica sob qual título. Mas basta ter lido o capítulo IX do estudo dedicado a Constantin Guys, "o pintor da vida moderna", para saber que o dandismo nunca consistiu, aos olhos de Baudelaire, em exibir um colete vermelho ou uma bengala com pomo de ouro, e que "o gosto imodesto pelo (…)
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Patocka – O escritor e seu "objeto"
3 de julho, por Murilo Cardoso de CastroO descontentamento da intelligentsia, sua nova consciência de si, suas reivindicações, seu agrupamento e solidariedade aparecem como os primeiros indícios de uma época nova da qual ainda não sabemos se trará uma superação da crise assinalada em quase todos os domínios pela impotência da razão diante do absurdo, cuja persistência a realidade presente traduz. Muitos, vendo nesses fenômenos novos apenas o que lembra a agressividade da desrazão, as paixões cegas, a "plebe" no sentido tradicional (…)
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Patocka – o mundo da vida
3 de julho, por Murilo Cardoso de CastroParece que o conceito husserliano de "mundo da vida" traz aqui uma solução. Aquilo em que vivemos originalmente não é o "mundo em si", ao qual só chegamos através de um longo e laborioso processo de eliminação progressiva de todo "antropomorfismo", mas sim o mundo da vida, cujo sentido é constantemente elaborado e enriquecido pelas funções "anônimas" da vida. Essas funções são anônimas porque, embora estejamos a todo momento em presença de seus resultados, o emissor permanece ausente. O (…)
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Patocka – o sentido da vida
3 de julho, por Murilo Cardoso de CastroPara o escritor moderno, poeta ou prosador, essa apreensão individual do sentido da vida é determinante. O que valorizamos no escritor-artista é o que ele consegue revelar do sentido da vida mediante a linguagem corrente, formada pelo uso prático cotidiano, orientada para as coisas, recorrendo também a nosso saber objetivo. Utilizar a linguagem para fins que não são seus fins habituais, para objetivos que não pretendia visar; da expressão das coisas que era, transformá-la na expressão da (…)