Certamente, ainda se publica, em todos os países e em todas as línguas, livros dos quais uns são considerados obras de crítica ou de reflexão, outros levam o título de romance, outros se dizem poemas. É provável que tais designações durarão, assim como ainda haverá livros, muito tempo depois que o conceito de livro estiver esgotado. No entanto, é preciso primeiro fazer esta observação: desde Mallarmé (para reduzir este a um nome e este nome a uma referência), o que tendeu a tornar estéreis (…)
Página inicial > Obras e crítica literárias
Obras e crítica literárias
-
Blanchot – Nota de abertura a "L’Entretien infini"
2 de julho, por Murilo Cardoso de Castro -
Blanchot – A linguagem da pesquisa
2 de julho, por Murilo Cardoso de CastroUma das questões que se colocam à linguagem da pesquisa está, portanto, ligada a essa exigência de descontinuidade. Como falar de modo que a palavra seja essencialmente plural? Como pode se afirmar a busca por uma palavra plural, fundada não mais na igualdade e desigualdade, não mais na predominância e subordinação, não na mutualidade recíproca, mas na assimetria e irreversibilidade, de tal forma que, entre duas palavras, uma relação de infinitude esteja sempre implicada como movimento do (…)
-
Blanchot – O "desconhecido" na pesquisa
2 de julho, por Murilo Cardoso de CastroDas observações anteriores, retenhamos duas indicações. O desconhecido que está em jogo na pesquisa não é nem objeto nem sujeito. A relação de palavra onde se articula o desconhecido é uma relação de infinitude; donde se segue que a forma em que se realizará essa relação deve de alguma maneira ter um índice de "curvatura" tal que as relações de A para B nunca serão diretas, nem simétricas, nem reversíveis, não formarão um conjunto e não tomarão lugar num mesmo tempo, não serão portanto nem (…)
-
Thomas Vosteen – Daumal e a Patafísica
1º de julho, por Murilo Cardoso de CastroDaumal cresceu no norte da França e cursou o ensino médio em Reims, onde fez amizades que se tornaram companheiros de jornada interessados em escrever e viver a poesia — especialmente a poesia na linhagem de Arthur Rimbaud, outro adolescente cuja revolta contra os valores burgueses foi fundamental para revolucionar o tom das letras francesas. (De fato, Rimbaud também era nativo da mesma região.) Mas o grupo de adolescentes, autodenominado “les Phrères Simplistes”, também exibia a influência (…)
-
Jacques Masui – a experiência de Daumal e a Índia (sânscrito)
1º de julho, por Murilo Cardoso de CastroDaumal poeta, concedia uma grande importância à linguagem. Encontrou no sânscrito não somente a língua lhe permitindo chegar diretamente aos textos que tinha necessidade, mas também a língua que, por excelência, exprime da maneira mais concreta, as realidades espirituais. Não se deve duvidar que o profundo conhecimento que dela adquiriu, o ajudou fortemente a se aproximar destas realidades e a fazê-las viver nele.
Em várias ocasiões, me escreveu que considerava a língua sânscrita como o (…) -
Robert Amadou – literatura e ocultismo
30 de junho, por Murilo Cardoso de CastroA mais eficaz das chaves de que dispomos para decifrar o universo é provavelmente a poesia, em sentido amplo a poesia dos poemas, mas também a que se difunde sobre as modas de expressão. Desde o momento em que uma literatura ultrapassa a totalidade dos modos de expressão, se carrega em determinada medida de poesia e se preocupa então em iluminar determinadas relações existentes entre as coisas, as relações mútuas dos homens, a situação dos entes e sobretudo a dos homens no conjunto de um (…)
-
Enthoven (Proust) – Amor
28 de junho, por Murilo Cardoso de CastroExcetuando sua variante familiar (e principalmente de mãe ou de avó), o amor é, paradoxalmente, o sentimento menos valorizado, embora o mais mencionado, em Proust. É um resquício da angústia "que emigrou (...) e se confunde com ele", um afeto sem valor próprio que só se experimenta por falta, pois só se sofre com sua ausência, como se fosse apenas a consequência de sua "sombra" grandiosa, o ciúme. A existência do amor proustiano se deduz então por ricochete ou em negativo ("amamos as pessoas (…)
-
Enthoven (Proust) – Albertine
28 de junho, por Murilo Cardoso de CastroJovem em flor, morta prematuramente, órfã, grande perturbadora da Recherche – que não suspeita, em seu início, das metástases virtuosas ou venenosas que irá injetar –, Albertine Simonet estará tão frequentemente presente nesta obra que nos dispensaremos de propor, de imediato, um retrato definitivo. Deixemos que ela surja como na narrativa que, subitamente, se lança a seus pés. E permitamos a esta Pomba esfaqueada (pois este foi, por um instante, o título escolhido por Proust para sua obra (…)
-
Arendt – Marcel Proust, os judeus franceses em sua época
28 de junho, por Murilo Cardoso de CastroEscolhemos os salões do Faubourg Saint-Germain como exemplo do papel dos judeus na sociedade não judaica da França. Quando Marcel Proust — que era semijudeu e em situações de emergência estava sempre pronto a identificar-se como judeu — saiu em busca do “tempo perdido”, escreveu realmente o que um dos seus críticos mais apologéticos chamou de uma apologia pro vita sua. A vida daquele que foi o maior escritor da França do século xx foi vivida quase exclusivamente em sociedade; os eventos se (…)
-
Agamben – experiência em Proust
28 de junho, por Murilo Cardoso de CastroPorém, a objeção mais peremptória ao conceito moderno de experiência foi levantada na obra de Proust. Pois o objeto da Recherche não é uma experiência vivida, mas justamente o contrário, algo que não foi nem vivido nem experimentado; e nem mesmo o seu subitaneo aflorar nas intermittences du coeur constitui uma experiência, a partir do instante em que a condição deste afloramento é precisamente uma oscilação das condições kantianas da experiência: o tempo e o espaço. E não são apenas as (…)