Em Busca do Tempo Perdido depende de uma teoria da memória que envolve Proust em um diálogo com os psicólogos e filósofos de seu tempo, Taine, Ribot e Bergson em particular. Por exemplo, sua crítica à visão de que é a "inteligência" que nos dá acesso à verdade do mundo e à nossa experiência dele, bem como o papel positivo que ele atribui à memória em tudo isso, não teriam sido possíveis sem as ideias desenvolvidas em Da Inteligência (De l’intelligence), em que Taine define a inteligência (…)
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Obras e crítica literárias
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Beistegui – como Proust pensa a memória
28 de junho, por Murilo Cardoso de Castro -
Enthoven (Proust) – Amor
28 de junho, por Murilo Cardoso de CastroExcetuando sua variante familiar (e principalmente de mãe ou de avó), o amor é, paradoxalmente, o sentimento menos valorizado, embora o mais mencionado, em Proust. É um resquício da angústia "que emigrou (...) e se confunde com ele", um afeto sem valor próprio que só se experimenta por falta, pois só se sofre com sua ausência, como se fosse apenas a consequência de sua "sombra" grandiosa, o ciúme. A existência do amor proustiano se deduz então por ricochete ou em negativo ("amamos as pessoas (…)
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Varela – O mundo rosiano
27 de junho, por Murilo Cardoso de CastroO mundo rosiano é, de fato, um mundo de como se, de faz de conta, o regresso pensado à desordem ordenadora do mito e da natureza, na sua lógica sensível, na sua linguagem carnal, na sua hybris caudalosa e espontânea. Homem do sertão , como ele próprio se deixa denominar, Guimarães Rosa descobre-se, selvagem, eterna criança, enunciando a verdade possível, a não verdade de uma Verdade inominável, no eterno retorno do mythos. Fiel às formas simples de que fala Jolles , na escrita deste autor, o (…)
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Varela – obras do heterologos rosiano
27 de junho, por Murilo Cardoso de Castro[...] seja Grande sertão: veredas, seja Tutaméia, culminando no conto A terceira margem do rio de Primeiras estórias, sobremaneira expressivo do pensamento de Guimarães Rosa e do heterologos em geral. Enquanto Grande sertão nos sugere a imensidão da terra brasileira, o sertão-macrocosmos, “lugar de latifúndios e epopéias”, como diz Gilberto Mendonça Teles, Tutaméia é “uma espécie de ‘grande sertão’ fracionado em pequenas narrativas”, o microcosmos onde decorre o infinitamente pequeno dos (…)
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Flusser – Guimarães Rosa
27 de junho, por Murilo Cardoso de CastroNa introdução a este livro sugerimos a identidade entre tempo e diabo. É ele o próprio princípio da modificação, do progresso, da fenomenalização portanto. É o princípio da transformação de realidade em irrealidade. É o que Guimarães Rosa tem em mente ao dizer que o diabo não existe. A correnteza do tempo dentro da qual o Senhor mergulha pedaços do ser ao criar “céus e terra” é o próprio diabo. O tempo é incrível, não se pode crer nele. Kafka diz que não se pode ter fé no diabo, porque mais (…)
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Nussbaum – Jonathan Swift
27 de junho, por Murilo Cardoso de CastroO satirista do século XVIII Jonathan Swift, obcecado pelo nojo em grande parte de sua obra, sugere repetidamente que a sociedade humana é um conjunto frágil de estratagemas para esconder os fluidos e odores repugnantes que há dentro dela. Assim, Gulliver é bem recebido pelos limpos e belos Houyhnhnms, semelhantes a cavalos, apenas porque usa roupas, e seus anfitriões presumem que essas coberturas limpas fazem parte de seu corpo. Os Yahoos, humanos nus, causam repulsa a eles e, eventualmente, (…)
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Castro Rocha – Filosofia de Machado de Assis?
27 de junho, por Murilo Cardoso de CastroContudo, como explicar a insistência na caracterização da “filosofia” de Machado de Assis? De fato, sua obra é atravessada por um conjunto facilmente discernível de obsessões, cuja recorrência favorece a tese, pois ajuda a criar a aparência de um sistema. Porém, tal abordagem parece ignorar que, muitas vezes, tanto necessidades internas à dinâmica do enredo quanto sutilezas relativas ao contraste entre personagens podem exigir a defesa de determinada posição ou mesmo supor a contradição (…)
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Camus – Herman Melville
27 de junho, por Murilo Cardoso de CastroNaqueles tempos em que os baleeiros de Nantucket passavam muitos anos no mar, o jovem Melville (aos 22 anos) embarcou em um deles, depois num navio de guerra, e cruzou os oceanos. Ao retornar à América, publicou seus relatos de viagem com relativo sucesso, e seus grandes livros em meio à indiferença e à incompreensão. Após a publicação e o fracasso de The Confidence-Man (1857), Melville, desencorajado, “aceita a aniquilação”. Torna-se funcionário aduaneiro e pai de família, e adentra um (…)
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Melville – Mobi-Dick, Ahab (Krell)
27 de junho, por Murilo Cardoso de CastroAs primeiras indicações do fenômeno de Ahab aparecem no romance antes que a própria personagem entre em cena. Ishmael se refere a “um homem de força natural grandemente superior, com um cérebro globular e um coração ponderoso”, claramente o coração pensante de um pensador pericárdico; tal homem está pronto “para aprender uma linguagem audaz, nervosa e elevada”, que é talvez a melhor descrição que se tem dos solilóquios de Ahab que virão; tal homem seria “uma poderosa criatura de pompa, (…)
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Melville – Mobi-Dick, a baleia (Krell)
27 de junho, por Murilo Cardoso de CastroDois dos "Extratos" de Melville me impressionam com força particular, um afirmando que a baleia é a "coisa mais soberana da terra" (MD xix), o outro relatando um detalhe da dissecação de uma baleia (MD xxiii). Juntos, eles trazem à mente uma cena incrível descrita por Jacques Derrida nas décima e décima primeira sessões do primeiro ano de seu curso sobre A Besta e o Soberano. Derrida retrata o Rei Sol, Luís XIV, observando a dissecação de um elefante pelos médicos da corte. No mau cheiro (…)