Página inicial > Crítica Literária > Enthoven (Proust) – Albertine
Enthoven (Proust) – Albertine
sábado 28 de junho de 2025
Jovem em flor, morta prematuramente, órfã, grande perturbadora da Recherche – que não suspeita, em seu início, das metástases virtuosas ou venenosas que irá injetar –, Albertine Simonet estará tão frequentemente presente nesta obra que nos dispensaremos de propor, de imediato, um retrato definitivo. Deixemos que ela surja como na narrativa que, subitamente, se lança a seus pés. E permitamos a esta Pomba esfaqueada (pois este foi, por um instante, o título escolhido por Proust Proust Proust, Marcel para sua obra completa) que dê seus passos como bem entender.
Digamos, porém, e sem demora, que ela é, depois de Swann e "mamãe", a personagem mais mencionada, a mais movediça, a mais inapreensível, o "ser da fuga" por excelência. A ela cabe o privilégio exclusivo de percorrer a Recherche e de se instalar confortavelmente em uma dependência de dois volumes: A Prisioneira e A Fugitiva – que Proust Proust Proust, Marcel não verá publicados. Se Albertine não tivesse se imposto com audácia, Proust Proust Proust, Marcel certamente teria tido tempo de revisar seus manuscritos imperfeitos, de estabelecer sua arquitetura e divisões definitivas, em vez de deixar a seu editor Jacques Rivière (auxiliado por Robert Proust Proust Proust, Marcel ) um amontoado de papéis e cadernos cujas margens se enchem de angustiantes anotações como "melhorar", "verificar" ou "talvez colocar em outro lugar".
É ela, portanto, e somente ela que, como a morte da qual é o instrumento amado, impede o grande livro proustiano de se fechar em sua perfeição. Proust Proust Proust, Marcel decide conceder-lhe uma importância desmedida justamente quando acredita ter terminado sua obra. Imprudência absoluta – da qual ninguém, é claro, exceto seu criador, pensará em reclamar. Proust Proust Proust, Marcel pressentia talvez essa última algazarra, ao descrever sua heroína como "o invólucro fechado de um ser que, por dentro, acessava o infinito" – não seria esta uma boa definição da própria Recherche?
O que se sabe com certeza: a personagem de Albertine nasceu (aos dezoito anos) em 1914. Hoje, essa jovem seria centenária.


JEAN-PAUL et RAPHAËL ENTHOVEN. Dictionnaire amoureux de Marcel Proust. Paris: Plon/Grasset, 2013