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L’Entretien infini

Blanchot – Nota de abertura a "L’Entretien infini"

quarta-feira 2 de julho de 2025

Certamente, ainda se publica, em todos os países e em todas as línguas, livros dos quais uns são considerados obras de crítica ou de reflexão, outros levam o título de romance, outros se dizem poemas. É provável que tais designações durarão, assim como ainda haverá livros, muito tempo depois que o conceito de livro estiver esgotado. No entanto, é preciso primeiro fazer esta observação: desde Mallarmé (para reduzir este a um nome e este nome a uma referência), o que tendeu a tornar estéreis tais distinções foi que, através delas e mais importante do que elas, emergiu a experiência de algo que se continuou a chamar de "literatura", mas com uma seriedade renovada e, além disso, entre aspas. Ensaios, romances, poemas pareciam estar ali, serem escritos apenas para permitir que o trabalho da literatura (considerada então como um poder singular ou uma posição de soberania) se realizasse e, por esse trabalho, surgisse a questão: "O que está em jogo pelo fato de que algo como a arte ou a literatura existiria?" Questão extremamente urgente e historicamente urgente (remeto aqui a certos textos de O Espaço Literário e O Livro por Vir, assim como às páginas intituladas A Literatura e o Direito à Morte), mas que uma tradição secular de esteticismo ocultou e continua a ocultar.

Não direi que esse momento está superado: isso não faria sentido. O que quer que façamos, o que quer que escrevamos – e a magnífica experiência surrealista nos mostrou –, a literatura se apropria disso e ainda estamos na civilização do livro. No entanto, o trabalho e a pesquisa literária – guardemos este qualificativo – contribuem para abalar os princípios e as verdades abrigados pela literatura. Esse trabalho, em correlação com certas possibilidades do saber, do discurso e da luta política, fez emergir, não pela primeira vez (já que a repetição – o eterno ressassamento – é sua própria origem), mas afirmada pelas obras de maneira mais incisiva, a questão da linguagem, e depois, pela questão da linguagem, aquela que talvez a subverta e se reúna na palavra, hoje aparentemente e facilmente aceita, até tornada usual, mas, há apenas algumas décadas, em sua simplicidade neutra, a mais recôndita e quase insensata: escrever, "esse jogo insensato de escrever".

Escrever, a exigência de escrever: não mais a escrita que sempre se colocou (por uma necessidade de modo algum evitável) a serviço da palavra ou do pensamento dito idealista, ou seja, moralizante, mas a escrita que, por sua própria força lentamente liberada (força aleatória de ausência), parece consagrar-se apenas a si mesma, que permanece sem identidade e, pouco a pouco, desvela possibilidades totalmente outras, uma maneira anônima, distraída, diferida e dispersa de estar em relação pela qual tudo é posto em questão, e primeiro a ideia de Deus, do Eu, do Sujeito, depois a da Verdade e do Uno, depois a ideia do Livro e da Obra, de modo que essa escrita (entendida em seu rigor enigmático), longe de ter como objetivo o Livro, marcaria antes o seu fim: escrita que se poderia dizer fora do discurso, fora da linguagem.

Mais uma palavra de esclarecimento ou de obscurecimento. Quando falo de "o fim do livro" ou melhor de "a ausência do livro", não pretendo aludir ao desenvolvimento dos meios de comunicação audiovisuais que tantos especialistas consideram. Que se deixe de publicar livros, em benefício de uma comunicação pela voz, pela imagem ou pela máquina, isso não mudaria em nada a realidade do que se chama "livro": ao contrário, a linguagem, como fala, afirmaria ainda mais sua predominância, sua certeza de uma verdade possível. Em outras palavras, o Livro indica sempre uma ordem submetida à unidade, um sistema de noções em que se afirma o primado da fala sobre a escrita, do pensamento sobre a linguagem e a promessa de uma comunicação um dia imediata ou transparente.

Ora, pode ser que escrever exija o abandono de todos esses princípios, ou seja, o fim e também o acabamento de tudo o que garante nossa cultura, não para voltar idilicamente atrás, mas antes para ir além, isto é, até o limite, a fim de tentar romper o círculo, o círculo de todos os círculos: a totalidade dos conceitos que funda a história, se desenvolve nela e da qual ela é o desenvolvimento. Escrever nesse sentido (nessa direção em que não é possível manter-se sozinho, nem mesmo sob o nome de todos, sem tropeços, relaxamentos, voltas e desvios de que os textos aqui reunidos trazem marcas, e esse é, creio, seu interesse), supõe uma mudança radical de época – a morte mesma, a interrupção – ou, para falar hiperbolicamente, "o fim da história", e, por isso, passa pelo advento do comunismo, reconhecido como a afirmação última, o comunismo estando sempre ainda além do comunismo. Escrever se torna então uma responsabilidade terrível. Invisivelmente, a escrita é chamada a desfazer o discurso no qual, por mais infelizes que nos julguemos, permanecemos, nós que dele dispomos, confortavelmente instalados. Escrever, sob esse ponto de vista, é a maior violência, pois transgride a Lei, toda lei e sua própria lei.


BLANCHOT, Maurice. L’Entretien infini. Paris: Gallimard, 1969