A mais eficaz das chaves de que dispomos para decifrar o universo é provavelmente a poesia, em sentido amplo a poesia dos poemas, mas também a que se difunde sobre as modas de expressão. Desde o momento em que uma literatura ultrapassa a totalidade dos modos de expressão, se carrega em determinada medida de poesia e se preocupa então em iluminar determinadas relações existentes entre as coisas, as relações mútuas dos homens, a situação dos entes e sobretudo a dos homens no conjunto de um (…)
Página inicial > Crítica Literária
Crítica Literária
-
Robert Amadou – literatura e ocultismo
30 de junho, por Murilo Cardoso de Castro -
Beistegui – como Proust pensa a memória
28 de junho, por Murilo Cardoso de CastroEm Busca do Tempo Perdido depende de uma teoria da memória que envolve Proust em um diálogo com os psicólogos e filósofos de seu tempo, Taine, Ribot e Bergson em particular. Por exemplo, sua crítica à visão de que é a "inteligência" que nos dá acesso à verdade do mundo e à nossa experiência dele, bem como o papel positivo que ele atribui à memória em tudo isso, não teriam sido possíveis sem as ideias desenvolvidas em Da Inteligência (De l’intelligence), em que Taine define a inteligência (…)
-
Beistegui – como Proust pensa o deleite
28 de junho, por Murilo Cardoso de CastroOs espinheiros já apontavam para a "presença" de uma realidade além da mera presença física, além de sua materialidade bruta, ao mesmo tempo em que indicavam algo que se desdobra diante dos olhos do narrador, por assim dizer, ali mesmo nos caules, nas pétalas, no perfume. De alguma forma, essa experiência anunciava outras mais profundas, nas quais a transubstanciação da matéria e sua alegria correspondente se mostram ainda mais intensas e manifestas. O sabor de uma madeleine mergulhada no (…)
-
Arendt – Marcel Proust, os judeus franceses em sua época
28 de junho, por Murilo Cardoso de CastroEscolhemos os salões do Faubourg Saint-Germain como exemplo do papel dos judeus na sociedade não judaica da França. Quando Marcel Proust — que era semijudeu e em situações de emergência estava sempre pronto a identificar-se como judeu — saiu em busca do “tempo perdido”, escreveu realmente o que um dos seus críticos mais apologéticos chamou de uma apologia pro vita sua. A vida daquele que foi o maior escritor da França do século xx foi vivida quase exclusivamente em sociedade; os eventos se (…)
-
Agamben – experiência em Proust
28 de junho, por Murilo Cardoso de CastroPorém, a objeção mais peremptória ao conceito moderno de experiência foi levantada na obra de Proust. Pois o objeto da Recherche não é uma experiência vivida, mas justamente o contrário, algo que não foi nem vivido nem experimentado; e nem mesmo o seu subitaneo aflorar nas intermittences du coeur constitui uma experiência, a partir do instante em que a condição deste afloramento é precisamente uma oscilação das condições kantianas da experiência: o tempo e o espaço. E não são apenas as (…)
-
Enthoven (Proust) – Amor
28 de junho, por Murilo Cardoso de CastroExcetuando sua variante familiar (e principalmente de mãe ou de avó), o amor é, paradoxalmente, o sentimento menos valorizado, embora o mais mencionado, em Proust. É um resquício da angústia "que emigrou (...) e se confunde com ele", um afeto sem valor próprio que só se experimenta por falta, pois só se sofre com sua ausência, como se fosse apenas a consequência de sua "sombra" grandiosa, o ciúme. A existência do amor proustiano se deduz então por ricochete ou em negativo ("amamos as pessoas (…)
-
Enthoven (Proust) – Albertine
28 de junho, por Murilo Cardoso de CastroJovem em flor, morta prematuramente, órfã, grande perturbadora da Recherche – que não suspeita, em seu início, das metástases virtuosas ou venenosas que irá injetar –, Albertine Simonet estará tão frequentemente presente nesta obra que nos dispensaremos de propor, de imediato, um retrato definitivo. Deixemos que ela surja como na narrativa que, subitamente, se lança a seus pés. E permitamos a esta Pomba esfaqueada (pois este foi, por um instante, o título escolhido por Proust para sua obra (…)
-
Varela – O mundo rosiano
27 de junho, por Murilo Cardoso de CastroO mundo rosiano é, de fato, um mundo de como se, de faz de conta, o regresso pensado à desordem ordenadora do mito e da natureza, na sua lógica sensível, na sua linguagem carnal, na sua hybris caudalosa e espontânea. Homem do sertão , como ele próprio se deixa denominar, Guimarães Rosa descobre-se, selvagem, eterna criança, enunciando a verdade possível, a não verdade de uma Verdade inominável, no eterno retorno do mythos. Fiel às formas simples de que fala Jolles , na escrita deste autor, o (…)
-
Varela – obras do heterologos rosiano
27 de junho, por Murilo Cardoso de Castro[...] seja Grande sertão: veredas, seja Tutaméia, culminando no conto A terceira margem do rio de Primeiras estórias, sobremaneira expressivo do pensamento de Guimarães Rosa e do heterologos em geral. Enquanto Grande sertão nos sugere a imensidão da terra brasileira, o sertão-macrocosmos, “lugar de latifúndios e epopéias”, como diz Gilberto Mendonça Teles, Tutaméia é “uma espécie de ‘grande sertão’ fracionado em pequenas narrativas”, o microcosmos onde decorre o infinitamente pequeno dos (…)
-
Flusser – Guimarães Rosa
27 de junho, por Murilo Cardoso de CastroNa introdução a este livro sugerimos a identidade entre tempo e diabo. É ele o próprio princípio da modificação, do progresso, da fenomenalização portanto. É o princípio da transformação de realidade em irrealidade. É o que Guimarães Rosa tem em mente ao dizer que o diabo não existe. A correnteza do tempo dentro da qual o Senhor mergulha pedaços do ser ao criar “céus e terra” é o próprio diabo. O tempo é incrível, não se pode crer nele. Kafka diz que não se pode ter fé no diabo, porque mais (…)