O satirista do século XVIII Jonathan Swift, obcecado pelo nojo em grande parte de sua obra, sugere repetidamente que a sociedade humana é um conjunto frágil de estratagemas para esconder os fluidos e odores repugnantes que há dentro dela. Assim, Gulliver é bem recebido pelos limpos e belos Houyhnhnms, semelhantes a cavalos, apenas porque usa roupas, e seus anfitriões presumem que essas coberturas limpas fazem parte de seu corpo. Os Yahoos, humanos nus, causam repulsa a eles e, eventualmente, (…)
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Crítica Literária
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Nussbaum – Jonathan Swift
27 de junho, por Murilo Cardoso de Castro -
Castro Rocha – Filosofia de Machado de Assis?
27 de junho, por Murilo Cardoso de CastroContudo, como explicar a insistência na caracterização da “filosofia” de Machado de Assis? De fato, sua obra é atravessada por um conjunto facilmente discernível de obsessões, cuja recorrência favorece a tese, pois ajuda a criar a aparência de um sistema. Porém, tal abordagem parece ignorar que, muitas vezes, tanto necessidades internas à dinâmica do enredo quanto sutilezas relativas ao contraste entre personagens podem exigir a defesa de determinada posição ou mesmo supor a contradição (…)
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Camus – Herman Melville
27 de junho, por Murilo Cardoso de CastroNaqueles tempos em que os baleeiros de Nantucket passavam muitos anos no mar, o jovem Melville (aos 22 anos) embarcou em um deles, depois num navio de guerra, e cruzou os oceanos. Ao retornar à América, publicou seus relatos de viagem com relativo sucesso, e seus grandes livros em meio à indiferença e à incompreensão. Após a publicação e o fracasso de The Confidence-Man (1857), Melville, desencorajado, “aceita a aniquilação”. Torna-se funcionário aduaneiro e pai de família, e adentra um (…)
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Melville – Mobi-Dick, Ahab (Krell)
27 de junho, por Murilo Cardoso de CastroAs primeiras indicações do fenômeno de Ahab aparecem no romance antes que a própria personagem entre em cena. Ishmael se refere a “um homem de força natural grandemente superior, com um cérebro globular e um coração ponderoso”, claramente o coração pensante de um pensador pericárdico; tal homem está pronto “para aprender uma linguagem audaz, nervosa e elevada”, que é talvez a melhor descrição que se tem dos solilóquios de Ahab que virão; tal homem seria “uma poderosa criatura de pompa, (…)
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Melville – Mobi-Dick, a baleia (Krell)
27 de junho, por Murilo Cardoso de CastroDois dos "Extratos" de Melville me impressionam com força particular, um afirmando que a baleia é a "coisa mais soberana da terra" (MD xix), o outro relatando um detalhe da dissecação de uma baleia (MD xxiii). Juntos, eles trazem à mente uma cena incrível descrita por Jacques Derrida nas décima e décima primeira sessões do primeiro ano de seu curso sobre A Besta e o Soberano. Derrida retrata o Rei Sol, Luís XIV, observando a dissecação de um elefante pelos médicos da corte. No mau cheiro (…)
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Melville – Mobi-Dick, o mar (Krell)
27 de junho, por Murilo Cardoso de CastroÀ medida que o Pequod ganha o mar aberto, Ismael diz isto: "voltei-me para admirar a magnanimidade do mar, que não permite registros" (MD 60). Escrito na água, de fato. O mar, não mais uma avenida de fuga da América puritana ou um boulevard de conquista colonial, é agora um enigma governado por nenhum arconte, sofrendo nenhum arquivo, e tendo um mistério como sua ἀρχή. A plena terribilidade do mar e todos os seus monstros para uma humanidade impotente é o que logo atinge Ismael:
Mas (…) -
Melville – Mobi-Dick, rascunho de um rascunho (Krell)
27 de junho, por Murilo Cardoso de CastroMelville conclui seu capítulo sobre "Cetologia" com isto: "Deus me livre de completar qualquer coisa. Este livro inteiro não passa de um rascunho—não, apenas o rascunho de um rascunho. Ó Tempo, Força, Dinheiro e Paciência!" (MD 145). A observação parece modesta, mas é verdade que Melville se sentiu pressionado a enviar os capítulos iniciais ao editor antes de decidir como encerrar a história. Esse era o problema do Dinheiro—ou da falta dele. Já adiantado no romance, em "O Afidávite", (…)
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Melville – Mardi, tempo - finitude - morte (Krell)
27 de junho, por Murilo Cardoso de CastroSob esse tema, talvez, apareçam os paradoxos mais profundos de Melville. Novamente é Babbalanja quem fala: "’Sim, os mortos não podem ser encontrados, nem mesmo em suas sepulturas. Nem simplesmente partiram; pois não quiseram ir; não morreram por escolha; aonde quer que tenham ido, para lá foram arrastados; e se acaso estão extintos, suas nulidades não foram mais contra sua vontade do que seu abandono forçado de Mardi. De qualquer forma, algo aconteceu com eles que não buscaram’" (M 237). Em (…)
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Melville – Mardi, o filósofo Babbalanja (Krell)
27 de junho, por Murilo Cardoso de CastroSe Babbalanja antecipa o ensaio sobre a verdade de Heidegger, o próprio Melville antecipa de tantas maneiras, e em tantos momentos, Nietzsche. Por exemplo, o Nietzsche da gaia ciência. O narrador de Mardi, envolvendo a descrença em uma crença mais ampla e generosa, reflete sobre a vida após a morte dos peixes e a possibilidade de um céu para baleias, uma reflexão que não considera ingênua:
Pois, não parece um tanto irracional imaginar que exista qualquer criatura, peixe, carne ou ave, tão (…) -
Melville – Mardi, "revelações crepusculares" (Krell)
27 de junho, por Murilo Cardoso de CastroQuaisquer verdades que o narrador espera perseguir, certamente derivarão do que ele chama de "revelações crepusculares":
Em clima claro no mar, uma vela, invisível no pleno brilho do meio-dia, torna-se perceptível ao pôr do sol. O inverso ocorre pela manhã. Visível no cinza do amanhecer, o navio distante, embora na realidade se aproxime, recua da vista à medida que o sol sobe cada vez mais alto. Isso se mantém verdadeiro até que sua proximidade o faça cair facilmente dentro do alcance (…)