De ULISSES jorram 735 páginas, numa torrente de 735 horas, dias ou anos que representam um único dia, ou seja, o inexpressivo 16 de junho de 1904, em Dublin, durante o qual, realmente, nada acontece. A torrente começa no nada e termina no nada. Seria, para o assombro do leitor, uma única verdade strindbergiana sobre a essência da vida humana, tremendamente longa, intrigantemente emaranhada e inesgotável? Sobre a essência talvez, mas certamente sobre as dez mil facetas e suas cem mil (…)
Página inicial > Crítica Literária
Crítica Literária
-
Jung (1932): Quem é Ulisses?
26 de junho, por Murilo Cardoso de Castro -
Jordi Rosado: Ulisses no divan
26 de junho, por Murilo Cardoso de CastroCarl Jung leu o romance Ulisses, de James Joyce, e depois escreveu um amargo ensaio sobre sua experiência com esta obra. Escreveu, por um lado, uma excêntrica análise junguiana do romance e, por outro, um panorama emocional de sua experiência como leitor, da irritação e do desconcerto que lhe causou sua leitura esforçada de Ulisses, em sua «décima edição inglesa, de 1928», como nos faz notar.
«Não existem nestas 735 páginas, tanto quanto minha vista alcança, nenhuma repetição sensível, nem (…) -
Cansinos Assens (RCA1001) – Apresentação das "1001 Noites"
26 de junho, por Murilo Cardoso de CastroAs mil e uma noites são tão universalmente conhecidas que dispensariam toda apresentação se não a exigisse um obrigatório e tradicional ritual de cortesia com o leitor. Dificilmente haverá no mundo inteiro quem não conheça essas surpreendentes histórias que a gentil Schahrasad contou em tempos remotos na distante Pérsia, sob a angústia da morte, com o alfanje de um sultão tirânico e misógino pairando sobre sua linda cabecinha, e que, como pássaros maravilhosos, animados por sua palavra (…)
-
O Romance da Rosa de Jean de Meung (Kanters & Amadou)
26 de junho, por Murilo Cardoso de CastroDas duas partes que compõem O Romance da Rosa, não há dúvida de que a escrita mais recentemente, por volta de 1277, apresenta ao mesmo tempo um caráter mais hermético, tanto em seu conteúdo quanto em sua forma. Frequentemente se destacou a obscuridade aparente dessa segunda parte, para a qual a interpretação puramente alegórica não é suficiente para esclarecer seu significado. Para compreendê-la, é necessário investigar em um sentido simbólico e analógico. O próprio quadro do amor cortês (…)
-
Wasserstrom (SWRR) – Corbin, Goethe
14 de junho, por Murilo Cardoso de CastroHenry Corbin — Goethe Excertos da tradução em português de Dimas David Santos Silva, do livro de Steven Wasserstrom, "Religion after Religion"
Todo o efêmero nada mais é que um símbolo Henry Corbin, versão de Goethe, 1969.
Goethe, muito mais do que seu predecessor Hamann, exerceu uma forte influência sobre Corbin e Eliade, e uma significativa, ainda que menor, influência sobre Scholem. Mais especificamente, todos os três acharam que seu segundo Fausto era um marco muito precioso. (…) -
Klimov (1997) – Milosz e Boehme
3 de junho, por Murilo Cardoso de CastroKlimov1997
Em muitos pontos, Boehme e Milosz poderiam ser comparados. Na Epístola a Storge, por exemplo, encontramos esta declaração, que nosso místico poderia ter usado como epígrafe de um de seus capítulos: "Onde nada está situado, não há passagem de um lugar para outro, Storge, mas apenas de um estado — e de um estado de amor — para outro". (Ars magna, Paris, André Silvaire, 1961, p. 28.) Para Boehme, a Criação divina é essencialmente Magia. Disso decorre o que André Breton compreendeu (…) -
Charbonnier (GACM) – Apresentação da obra de Milosz
31 de maio, por Murilo Cardoso de CastroGACM
Para criar novos espaços poéticos, dócil à sua estrela "que alguns têm por nascença, que ninguém jamais adquiriu — marca sublime dos grandes criadores em todos os ramos do belo", Milosz permaneceu unido ao Verbo, do qual era portador, para revelar ao mundo um reflexo da Sabedoria Divina. Extrair esse fogo sagrado de seu invólucro, transformá-lo em uma pedra preciosa digna da Jerusalém Celeste, transmiti-lo por meio das palavras — essa foi verdadeiramente a função que o poeta assumiu. (…) -
Northrop Frye (SS) – Universo mitológico
28 de maio, por Murilo Cardoso de CastroFryeSS
O universo mitológico tem dois aspectos. Em um aspecto, é a parte verbal da própria criação do homem, o que chamo de escritura secular; não há dificuldade quanto a esse aspecto. O outro é, tradicionalmente, uma revelação dada ao homem por Deus ou outros poderes além dele mesmo. Esses dois aspectos nos levam de volta à imaginação e à realidade de Wallace Stevens. A realidade, lembramos, é alteridade, a sensação de algo que não somos nós mesmos. Naturalmente pensamos no outro como a (…) -
Labarrière (P) – Dante, um mestre da figura
26 de maio, por Murilo Cardoso de CastroLabarrièreP
Ao iniciar esta série de aulas, sinto vontade de colocá-las sob a tutela ou, pelo menos, sob a égide — ou, mais simplesmente, sob o signo — de Dante Alighieri. Nada menos que isso. Este poeta do pensamento, este pensador da poiesis, é também, e talvez sobretudo, um mestre da figura. Não no sentido de opor o figurativo ao abstrato: o que há de mais “abstrato”, em certo sentido, do que essa geometria sagrada que distribui o mundo dos mortos em círculos de sombra e luz? A (…) -
Herman Hesse – Obra de Meyrink
24 de maio, por Murilo Cardoso de CastroGMCH Milhares de pessoas hoje fazem Gustav Meyrink pagar por seus sucessos fulminantes. Para começar, esse escritor foi deixado por vinte anos escrevendo seus pequenos contos divertidos, ácidos, frequentemente espirituosos, sem receber a menor atenção. Durante esses longos anos, Meyrink continuou trabalhando imperturbavelmente, fiel ao mesmo princípio: acertar as contas com os burgueses sem fazer concessões ao público. Quando, quase aos cinquenta anos, ele teve um enorme sucesso com O Golem, (…)